Nada mais desesperador que a certeza, que o fim. Claro que ambos possuem algo gratificante, porém eles nos levam somente a dois lugares: ou a morte ou a um novo começo. É contraditório, mas não é o fim que nos dá prazer e sim o caminho percorrido até ele. É uma pena que muitas vezes somente ao chegar no fim é que acabamos por dar valor ao caminho. Curtir o caminho é o grande segredo.
Quando pensamos na filosofia, na ciência, na política e na religião vemos o quanto as certezas são curiosas. A filosofia na sua essência jamais quis chegar a alguma certeza, ela é busca, é ousar querer descobrir algo que não está ao seu alcance. Ela inclusive começou a ruir quando Platão inventou o Mundo das Ideias - lugar onde supostamente a certeza e a verdade estariam depositadas - e terminou de ruir quando Aristóteles inventou a lógica. Tanto Platão quanto Aristóteles, inocentemente ou não, acabaram com a filosofia socrática, aquela que tinha como máxima o “só sei que nada sei”, ou seja, a incerteza. As religiões monoteístas e a ciência, por sinal, sobrevivem da certeza incerta.
As religiões usam a certeza da morte, ou seja, a certeza do fim, para vender com certeza, a certeza da incerta vida eterna. Assim, basta seguir certas leis, e a única certeza que temos desaparece, dando lugar a ilusão da eternidade. Tudo muito lindo e muito rentável para os exploradores do dízimo.
A ciência por sua vez, também vive de certezas incertas. As certezas para a ciência duram até que alguém as prove o contrário. Paradoxal também. A grande diferença entre a ciência e religião é que a primeira tem a humildade de reconhecer que a certeza é algo que pode ser alterado. É incrível, mas a ciência que teoricamente deveria ser o saber último das coisas, não é último, sendo portanto, incerta. Como dizia Raul Seixas: “O que é que a ciência tem? Tem lápis de calcular. O que mais que a ciência tem? Borracha pra depois apagar”.
Mas é na política que observamos como a certeza é curiosa e prejudicial. Pergunto: vocês já notaram que em períodos eleitorais, políticos e eleitores se confundem num grande grupo. Isso acontece, porque os políticos incertos que serão eleitos, obrigatoriamente têm de se aproximar dos eleitores, para que assim, tenham a certeza que chegarão ao poder. Cessada as eleições e com a certeza que foram eleitos, os políticos se afastam, e os eleitores passam a ter a certeza que foram enganados.
No amor por fim, a única certeza que temos é que jamais podemos mostrar ao outro que o amamos incondicionalmente, o que quer dizer que, jamais podemos dar certeza ao outro. Dizer “eu te amo” é o mesmo que dizer você me conquistou, e isso é o mesmo que cavar a própria cova. Quer terminar um relacionamento? Diga que ama. Pode ter certeza que....bem...esqueça as certezas.