sexta-feira, 27 de março de 2009

As certezas incertas.

Nada mais desesperador que a certeza, que o fim. Claro que ambos possuem algo gratificante, porém eles nos levam somente a dois lugares: ou a morte ou a um novo começo. É contraditório, mas não é o fim que nos dá prazer e sim o caminho percorrido até ele. É uma pena que muitas vezes somente ao chegar no fim é que acabamos por dar valor ao caminho. Curtir o caminho é o grande segredo.

Quando pensamos na filosofia, na ciência, na política e na religião vemos o quanto as certezas são curiosas. A filosofia na sua essência jamais quis chegar a alguma certeza, ela é busca, é ousar querer descobrir algo que não está ao seu alcance. Ela inclusive começou a ruir quando Platão inventou o Mundo das Ideias - lugar onde supostamente a certeza e a verdade estariam depositadas - e terminou de ruir quando Aristóteles inventou a lógica. Tanto Platão quanto Aristóteles, inocentemente ou não, acabaram com a filosofia socrática, aquela que tinha como máxima o “só sei que nada sei”, ou seja, a incerteza. As religiões monoteístas e a ciência, por sinal, sobrevivem da certeza incerta.

As religiões usam a certeza da morte, ou seja, a certeza do fim, para vender com certeza, a certeza da incerta vida eterna. Assim, basta seguir certas leis, e a única certeza que temos desaparece, dando lugar a ilusão da eternidade. Tudo muito lindo e muito rentável para os exploradores do dízimo.

A ciência por sua vez, também vive de certezas incertas. As certezas para a ciência duram até que alguém as prove o contrário. Paradoxal também. A grande diferença entre a ciência e religião é que a primeira tem a humildade de reconhecer que a certeza é algo que pode ser alterado. É incrível, mas a ciência que teoricamente deveria ser o saber último das coisas, não é último, sendo portanto, incerta. Como dizia Raul Seixas: “O que é que a ciência tem? Tem lápis de calcular. O que mais que a ciência tem? Borracha pra depois apagar”.

Mas é na política que observamos como a certeza é curiosa e prejudicial. Pergunto: vocês já notaram que em períodos eleitorais, políticos e eleitores se confundem num grande grupo. Isso acontece, porque os políticos incertos que serão eleitos, obrigatoriamente têm de se aproximar dos eleitores, para que assim, tenham a certeza que chegarão ao poder. Cessada as eleições e com a certeza que foram eleitos, os políticos se afastam, e os eleitores passam a ter a certeza que foram enganados.

No amor por fim, a única certeza que temos é que jamais podemos mostrar ao outro que o amamos incondicionalmente, o que quer dizer que, jamais podemos dar certeza ao outro. Dizer “eu te amo” é o mesmo que dizer você me conquistou, e isso é o mesmo que cavar a própria cova. Quer terminar um relacionamento? Diga que ama. Pode ter certeza que....bem...esqueça as certezas.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Dráuzio Varela e o Aborto

AOS COLEGAS de Pernambuco responsáveis pelo abortamento na menina de nove
anos, quero dar os parabéns. Nossa profissão foi criada para aliviar o
sofrimento humano; exatamente o que vocês fizeram dentro da lei ao
interromper a prenhez gemelar numa criança franzina.

Apesar da ausência de qualquer gesto de solidariedade por parte de nossas
associações, conselhos regionais ou federais, estou certo de que lhes presto
esta homenagem em nome de milhares de colegas nossos.

Não se deixem abater, é preciso entender as normas da Igreja Católica. Seu
compromisso é com a vida depois da morte. Para ela, o sofrimento é
purificador: "Chorai e gemei neste vale de lágrimas, porque vosso será o
reino dos céus", não é o que pregam?

É uma cosmovisão antagônica à da medicina. Nenhum de nós daria tal conselho
em lugar de analgésicos para alguém com cólica renal. Nosso compromisso
profissional é com a vida terrena, o deles, com a eterna. Enquanto nossos
pacientes cobram resultados concretos, os fiéis que os seguem precisam antes
morrer para ter o direito de fazê-lo.

Podemos acusar a Igreja Católica de inúmeros equívocos e de crimes contra a
humanidade, jamais de incoerência. Incoerentes são os católicos que esperam
dela atitudes incompatíveis com os princípios que a regem desde os tempos da
Inquisição.

Se os católicos consideram o embrião sagrado, já que a alma se instalaria no
instante em que o espermatozoide se esgueira entre os poros da membrana que
reveste o óvulo, como podem estranhar que um prelado reaja com agressividade
contra a interrupção de uma gravidez, ainda que a vida da mãe estuprada
corra perigo extremo?

O arcebispo de Olinda e Recife não cometeu nenhum disparate, agiu em
obediência estrita ao Código Penal do Direito Canônico: o cânon 1398
prescreve a excomunhão automática em caso de abortamento.

Por que cobrar a excomunhão do padrasto estuprador, quando os católicos
sempre silenciaram diante dos abusos sexuais contra meninos, perpetrados nos
cantos das sacristias e dos colégios religiosos? Além da transferência para
outras paróquias, qual a sanção aplicada contra os atos criminosos desses
padres que nós, ex-alunos de colégios católicos, testemunhamos?

Não há o que reclamar. A política do Vaticano é claríssima: não excomunga
estupradores.

Em nota à imprensa a respeito do episódio, afirmou Gianfranco Grieco, chefe
do Conselho do Vaticano para a Família: "A igreja não pode nunca trair sua
posição, que é a de defender a vida, da concepção até seu término natural,
mesmo diante de um drama humano tão forte, como o da violência contra uma
menina".

Por que não dizer a esse senhor que tal justificativa ofende a inteligência
humana: defender a vida da concepção até a morte? Não seja descarado, senhor
Grieco, as cadeias estão lotadas de bandidos cruéis e de assassinos da pior
espécie que contam com a complacência piedosa da instituição à qual o senhor
pertence.

Os católicos precisam ver a igreja como ela é, aferrada a sua lógica
interna, seus princípios medievais, dogmas e cânones. Embora existam
sacerdotes dignos de respeito e admiração, defensores dos anseios das
pessoas humildes com as quais convivem, a burocracia hierárquica jamais lhes
concederá voz ativa.

A esperança de que a instituição um dia adote posturas condizentes com os
apelos sociais é vã; a modernização não virá. É ingenuidade esperar por ela.

Os males que a igreja causa à sociedade em nome de Deus vão muito além da
excomunhão de médicos, medida arbitrária de impacto desprezível. O
verdadeiro perigo está em sua vocação secular para apoderar-se da maquinária
do Estado, por meio do poder intimidatório exercido sobre nossos dirigentes.

Não por acaso, no presente episódio manifestaram suas opiniões cautelosas
apenas o presidente da República e o ministro da Saúde.

Os políticos não ousam afrontar a igreja. O poder dos religiosos não é
consequência do conforto espiritual oferecido a seus rebanhos nem de
filosofias transcendentais sobre os desígnios do céu e da terra, ele deriva
da coação exercida sobre os políticos.

Quando a igreja condena a camisinha, o aborto, a pílula, as pesquisas com
células-tronco ou o divórcio, não se limita a aconselhar os católicos a
segui-la, instituição autoritária que é, mobiliza sua força política
desproporcional para impor proibições a todos nós.



Folha de São Paulo, 14/3/09, Folha Ilustrada

terça-feira, 10 de março de 2009

Porque o blog existe.

A idéia do blog surgiu em abril de 2007, quando numa aula de Tecnologia da Educação, fui informado de como ele funcionava e de como seria fácil criá-lo e mantê-lo. Como já escrevia em casa, a mão, tendo minhas idéias arquivadas em cadernos, foi interessante saber que podia tê-las digitadas, arquivadas e disponíveis para quem quisesse vê-las. Assim nasceu o blog.

Logo depois dos primeiros textos e da pequena divulgação virtual que fiz, vieram os primeiros comentários e as primeiras críticas a ele. Notei que algumas pessoas haviam criado o hábito de acessá-lo e lê-lo. Inevitavelmente, meu ego, fez-me querer escrever mais; querer escrever para mim e também para as pessoas. Mas quem seriam essas pessoas?

Para responder quem são essas pessoas, serei obrigado a dividir a espécie humana em duas classes: a classe dos intelectuais e o senso comum. Na classe dos intelectuais, estão todos aqueles que não se importam com o senso comum. Na verdade eles fingem que se importam, mas se importam mesmo é com a queda de braço epistemológica. Em outras palavras, eles se preocupam que seus conceitos sejam reconhecidos e publicados nas conceituadas revistas científicas e acadêmicas que tratam daquilo que eles estudam. Para eles o importante é a ciência, a última descoberta, o último livro, a última teoria. Para eles o senso comum está perdido e não tem mais salvação. Ele está entregue a mídia, a religião, ao futebol, as paixões em geral.

Não discordo totalmente dessa classe intelectual. Porém no senso comum ainda existem aqueles que desejam se libertar. Existem pessoas, que da mesma forma que os intelectuais, gostam de refletir sobre as mais variadas situações existenciais, mas que diferente deles, não se preocupam com reconhecimento e sim com um mundo melhor. O blog desta forma é feito para esta classe “perdida”, esquecida pela ciência e mantida pelas paixões.

Não estou dizendo que intelectuais não lêem o blog, e sim, que a maioria deles não vê sentido em ler algo que julgam já saber e que dizem não ter utilidade nenhuma. Os intelectuais que lêem o blog, são aqueles que como os muitos do senso comum acreditam na possibilidade das pessoas, através de seus raciocínios, chegarem a uma conclusão não estabelecida, mas autônoma e livre de qualquer dogma, seja científico ou religioso. Eles acreditam que o pensamento, que a reflexão diante dos fatos, ainda pode fazer as pessoas enxergarem para além das cruzes e das caixas cheias de imagens que estão por aí.

O blog foi e é feito para essas pessoas, e por isso ele é gratificante. Seu objetivo é simples: despertar o pensamento crítico naqueles, que ao observarem a existência, se sentem indignados.

Abraço a todos e ótima semana.



quinta-feira, 5 de março de 2009

Pena de morte a (Santa) Igreja.

Todos devem saber da minha luta para acabar com os hipócritas pervertidos representantes da Igreja Católica no mundo. Sei que é em vão tentar acabar com eles, afinal, como diz o ditado, vaso ruim não quebra. Mas pelo bem do mundo eles deveriam ser exterminados.
Já tentei pedir excomunhão, mas por motivos não revelados, negaram a minha pessoa a honra de não mais fazer parte desse antro de malignidade.
Não vou ficar aqui enumerando o histórico de maldades cometidos em nome da Igreja. Mas preciso relatar o acontecido.
A situação é a seguinte: um homem, provavelmente cristão católico, abusou sexualmente de sua enteada, uma menina de 9 anos. Levada ao hospital, os médicos constataram que a criança estava grávida de gêmeos e que corria risco de morte.
Os médicos diante do fato, não hesitaram, e realizaram o aborto, que é bom dizer, neste caso é legalmente permitido (o aborto é legal em caso de estupro e risco de morte). Tudo está dentro da lei do homens...mas existe a lei divina (feita por homens que em um determinado momento da história com o intuito de ganhar muito dinheiro a elaboraram enriquecendo as suas custas). Segundo as fontes: "assim que soube que o aborto havia sido consumado, o arcebispo dom José Cardoso Sobrinho disse que a Igreja Católica considera que houve um crime e um ato inaceitável para a doutrina. E decidiu: todas as pessoas que participaram do aborto, com exceção da criança, estão excomungadas da Igreja". Sim, eles excomungaram todos os envolvidos, que dentro de suas dignas funções, salvaram a inocente da morte. O pior de tudo é que a Igreja ainda se diz benevolente por poupar a criança, que por ser menor de idade, não pode ser excomungada. Leiam o que o filho da puta do arcebispo disse: "

“Para incorrer nessa penalidade eclesiástica, é preciso maioridade. A Igreja, então, é muito benévola, quer dizer, sobretudo, com os menores. Agora os adultos, quem aprovou, quem realizou esse abordo, incorreu na excomunhão. A Igreja não costuma comunicar isso. Agora, a gente espera que essa pessoa, em momentos de reflexão, não espere a hora da morte para se arrepender”, afirma.

Eu sinceramente não sei o que dizer. Sei que as pessoas continuarão a sustentar essa instituição podre chamada Igreja Católica, e nesses momentos, penso que seria bom se Deus existisse. Queria ver esses animais irracionais (com todo respeito aos animais irracionais) arderem no fogo do inferno. Queria ver esses padres, bispos, arcebispos, cardeais e até o papa serem estuprados pelo demônio. Pagariam lá na eternidade, tudo o que em vida aqui fizeram. Iria faltar lenha para tanta maldade. É uma pena que céu e inferno não existam e que quase tudo acabe depois da morte, ficam nossas cinzas né...

Uma última questão me intriga: Será que depois de eu escrever isso, me concederão a excomunhão? Ou vou ter que cometer um aborto?
Santa paciência...e pena de morte a Igreja.

Mais informações no site: http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL1028529-5598,00-ARCEBISPO+EXCOMUNGA+MEDICOS+E+PARENTES+DE+MENINA+QUE+FEZ+ABORTO.html



segunda-feira, 2 de março de 2009

Querer, recordar e temer.

Tenho como princípio de vida o seguinte: sofremos constantemente. Provavelmente isso se deve a minha própria existência e a observação do mundo. Em outras palavras, cheguei a essa conclusão pelo simples fato de sofrer e de observar que as pessoas sofrem. Não vejo felicidade no mundo, salvo nos carnavais e em algumas comemorações.
Anos atrás, refletindo sobre o que nos faz sofrer, conclui que sofremos por três questões básicas. Sofremos por: "querer e não ter; recordar e não ter; ou ter e temer perder."

Façamos uma análise das relações amorosas desde sua origem para entendermos isso.
Tudo começa com a observação. Observamos, conhecemos e desejamos. O simples desejo explica nossa primeira afirmação que nos diz que sofremos por: "querer e não ter." Alguns poderiam dizer que nosso sofrimento cessaria logo que o desejo fosse saciado, mas não é bem assim. Quando saciamos esse primeiro desejo, quase que simultaneamente vemos em nós nascer outro desejo: o desejo da exclusividade.
O ser humano, que num primeiro momento deseja apenas satisfazer uma vontade que vem da observação e do conhecimento do outro, logo depois de saciar tal vontade, quer que o objeto desejado seja somente seu, e mesmo depois de tê-lo possuído por inteiro, "teme por perdê-lo". Enfim ele sofre constantemente, ou por não tê-lo ou por tê-lo. O mais engraçado de tudo isso é que a conquista por completo do outro é que acaba por fazê-lo sofrer ainda mais. Afinal, onde existe complitude não existe falta, e se não existe falta , não existe desejo. É o desejo que move a existência, e não se deseja o que já se tem. É neste momento contraditório, que nasce a monotonia.
A monotonia é a repetição dos desejos passados que por outrora foram o motivo da felicidade de ambos. Em outras palavras, aquilo que uma vez fazia com que os casais mantessem o desejo um pelo outro, acaba por ficar entediante. Eles assim, sem desejos e com muita repetição acabam por decidir acabar com a relação. O distanciamento é a única saída.
É exatamente a distância que explica nossa segunda afirmação, que nos diz que sofremos por : "recordar e não ter". Afastados, lembramos dos momentos agradáveis, e de como éramos felizes. Sofremos assim por lembrar de como aquilo que agora já não possuímos nos trazia felicidade.
É exatamente essa lembrança que faz com que muitas vezes os casais se reconciliem. Eles, apoiados nas lembranças, acreditam ser possível viver todos aqueles desejos que um dia vivenciaram.
Mas isso não vem ao caso. O fato é que sofremos por : "querer e não ter, recordar e não ter ou ter e temer perder." E isso, vale lembrar, pode ser estendido as mais diversas ocasiões existenciais. Desde o desejo de amar alguém até a paixão pelo futebol.
Hoje por exemplo, "um gremista quer muito ganhar um Grenal, recorda um dia ter ganho, e teme nunca mais ganhar".
Abraço e ótima semana a todos.