Me prestei, hoje, enfim, a assistir um debate dos presidenciáveis. Pra ser mais organizado e sistemático, vou falar separadamente de cada um deles.
Primeiro o Serra. O Serra é o cara que todos já imaginavam que não teria muita chance de ganhar a presidência caso o PT colocasse qualquer candidato. Qualquer mesmo: se um cachorro fosse indicado por Lula, provavelmente se sagraria o primeiro presidente canino do país. Mas o PT desistiu do ‘melhor amigo do homem’ e resolveu inscrever Dilma: a melhor amiga das mulheres. Apesar da péssima escolha petista, as chances de Serra são ínfimas. O que não o proibiu de piorá-las. Ou ele é muito burro ou deixou que outro alguém muito burro lhe escolhesse uma tática de campanha absurdamente equivocada. : o que daria na mesma. No tal debate os candidatos podiam fazer perguntas entre si. Serra só pediu para Dilma. Dilma jamais pediu para Serra. Só Dilma aparecia. Serra insistia que sua filha foi violada, e ao invés de perceber seu genro como o corruptor, acusa o PT. Parecia uma criança chorona. E das mais chatas. Ele também sabe que não pode atacar o Lula (o intocável). Botou-se na árdua e contraditória labuta de se comparar ao Lula, mas ao mesmo tempo de denegrir o governo lulista, e também de prometer continuá-lo. Na melhor performance ‘cego em tiroteio’ consegue assustadoramente piorar suas chances. Sozinho.
Por segundo, falemos da Dilma. Não é novidade para ninguém (nem para os atrasados gremistas que ainda não descobriram que já não mandam no futebol do Sul) que Dilma, apesar de ser do PT, não tem estrela. Por mais que Lula e a cúpula petista se esforçassem, dificilmente conseguiriam encontrar uma figura com menos carisma e menos apta a assumir a presidência do país do que Dilma. Se ela ganhar (o que é muito provável) Lula afirmará seu poder quase divino: eleger ao cargo mais importante do país (talvez só menor que a presidência do Colorado) uma inelegível até para grêmio estudantil de escola do interior do Acre (aliás, o Acre tem sua candidata). Por outro lado, se Dilma perder, o PT e o Lula terão perdido a partida mais ganha da história da política brasileira. Mas como já foi dito, no debate só ela falou: sua equipe foi inteligente em fazê-la perguntar aos outros candidatos, menos ao chorão Serra, temas brandos que só a reafirmavam. É certo que ela faltou a todas as aulas de simpatia, oratória e retórica. Fala mal, gesticula mal, se expressa mal, tem cara de mal. Mas vai ganhar. Não tem proposta senão a de manter o PT no poder. Mas vai ganhar. E não, não é piada. Ela nem se esforça muito: só tenta deixar evidente que a merda de agora fede menos que a anterior, o que é verídico. E a ditadura do ‘menos pior’ lhe garantirá quatro anos de um pomposo e bem remunerado emprego de fantoche.
Por terceiro, vamos à Marina. Acreana, jurava que o Acre a apoiaria. É apenas a terceira colocada nas intenções de voto de seu estado... Também pudera. Marina é a típica candidata ‘não fede e não cheira’. Fala única e exclusivamente de preservação do meio-ambiente (um tema já pouco estimulante para nossas corridas vidas capitalistas destrutivas e inconseqüentes), e mesmo assim não consegue ter o mínimo, o mais pequenino, um fiapinho que fosse de entusiasmo. Com sua voz fina e rouca, sua cara de ressaca e sua língua enrolada, parece constantemente estar sob forte efeito de álcool. Tende a ser mais amiguinha do Serra do que da Dilma. E justamente como o Serra, tem alta habilidade em se manter o tempo todo perdida e com um semblante de quem a qualquer instante pode irromper em uma constrangedora interrogação: ‘onde estou, posso saber’?!
E por último, mas não menos importante (nem mais também) o Plínio. Plínio tem por base de campanha afirmar-se diferente dos outros três. E consegue: além de sua cara de extraterrestre ou, quiçá, de duende aposentado, ele é um socialista. Contraditório: é um socialista católico. Mas Plínio pelo menos é engraçado. Irreverente. Gosta de por os outros em saia justa e, diferente dos outros três, apesar de defender propostas que não são nem um pouco elegíveis num país com uma mídia tão norte-americana como o nosso, é o único que parece acreditar no que propõe. Tem o melhor discurso, a melhor retórica, a maior simpatia, mas o partido menos expressivo. De mais a mais, é somente por ele que os debates têm um ‘Q’ de agradável. Ele é engraçado, irônico, um quase humorista. Em uma época em que a política não passa de uma piada (e quase sempre sem graça!), Plínio parece ser o mais indicado a nos fazer rir. Não gostaria nem de imaginá-lo no poder, mas simpatizo com ele. Como também não gostaria nem de imaginar nenhum dos outros três no poder e não simpatizo com nenhum desses outros três, é só o Plínio que poderá me convencer a não votar nulo. Se ele mandar alguém a PQP antes do final da campanha, terá meu voto. Suspeito que coisas assim sejam até do feitio desse bem humorado senhor.
Por fim, como sempre quando se fala em política: lamentável. E mais lamentável ainda é que nós, os eleitores, sejamos tão ingênuos e desleixados para engolir que um desses quatro é que deve nos governar. Merecíamos algo bem melhor. Mas vai ver, antes seja necessário começarmos a ser, nós, melhores. Vai ver já está na hora de nos implicarmos mais com os caminhos e descaminhos do país e repudiarmos esse nefasto show de humor negro que a política nacional, faz hora, se transformou. Enquanto não propormos nem fizermos nada, eles continuarão propondo e fazendo por nós: a mesma quantia lamentável de coisas que sempre fizeram. E não é só deles a culpa. Sacou, mané?!
* Marcos Maffissoni, além de ser um ser bastante desiludido com o amor conjugal, é colorado (o que o faz um ser inteligentíssimo), músico, e entre outras atividades, também cursa filosofia na UNOCHAPECO.