segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Minha diarista tem uma empregada.

"Todo homem precisa de uma empregada" diria Neil Young. Eu no caso, tenho uma diarista. Preciso de uma diarista. Porém, minha diarista é especial. Ela parece estar criando um novo ramo no ramo das diaristas. Vejam que interessante: minha diarista tem uma funcionária, ou uma aluna se preferirem. Não cheguei a pedir maiores detalhes, mas pelo visto ela está em fase de testes com vistas num novo empreendimento. Tem tudo para ser dona do próprio negócio. Vejam só.

Dias atrás cheguei em casa no horário de serviço e lá estava minha diarista, parada e fumando, enquanto outra senhora fazia o serviço. Me disse que trabalhavam em conjunto. A senhora preferiu o silêncio. É a união do útil e do agradável, pensei. Enquanto uma fuma a outra limpa. Mesmo desconfiado, imaginei uma grande cooperativa de empregadas, correndo a cidade e limpando os lares em mutirão. No fim reuniriam o dinheiro arrecadado e dividiriam em partes iguais. Que lindo. Seria enfim, o primeiro passo em direção ao comunismo. O segundo passo seria tomar os meios de produção (a vassoura, o balde e os respectivos produtos de limpeza). Porém, e para variar, estava enganado.

Dias depois, voltei a minha casa "fora de hora", e encontrei minha diarista, novamente ociosa, e uma menina se empenhando no serviço. Perguntei da outra senhora. "Ela não servia" me respondeu. Me assustei. Pensei na exploração do trabalho infantil, no trabalho escravo, na criança fora da escola. Me explicou que estava somente ensinando sua sobrinha a ganhar seus primeiros trocados. "Ela já está crescidinha, na hora de começar" disse ela. Aos poucos me tranquilizei. Entendi o novo empreendimento da minha empregada. Ela inaugurou uma escola. Uma escola moderna, voltada desde cedo ao mercado, bem mais prática que teórica. Ali as alunas (99% são alunas e 1 % não sabe) já ganham uns trocados para aprender. O salário? O salário é a metade do valor do dia de serviço, e a mensalidade, lógico, é a outra metade. Marx chamou isso de mais valia, minha empregada mesmo sem querer chama de educação com vistas no mercado selvagem capitalista, e eu chamo de...bem, eu como o Neil Young, sou homem, e preciso de uma empregada.


quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Obrigado Grêmio

Tá bom, eu me rendo. Vou esquecer 1996, quando o Grêmio perdeu de propósito para o Goiás em casa tirando o Inter das quartas de final do Brasileiro, e dizer aqui que o Grêmio é incrível. Como gremista, inclusive, estou invicto. Com a camisa tricolor possuo 3 empates e uma vitória. Tenho ainda mais um jogo como gremista pela frente no Maracanã e espero me manter invicto. Eu como colorado ainda não consigo entender o que o Grêmio está fazendo.

Sinceramente não acredito que exista um gremista sensato se quer no mundo, que ontem gostou de ver a vitória tricolor. Vejam que o Grêmio não tem mais o que fazer no campeonato, a não ser ajudar o Inter. O tricolor está livre de tudo: não pode ser rebaixado e não pode chegar a Libertadores. Ele só tem que cumprir tabela, e mesmo assim, insiste em jogar, vencer, e como ontem, triturar o adversário.
Estou chegando a conclusão que o torcedor gremista ou é maluco, ou torce mesmo para o Rio Grande do Sul. O público ontem foi de quase 15 mil pessoas, e os torcedores pareciam torcer de verdade para que o Grêmio vencesse. Eu confesso, que na situação contrária, vaiaria meu time na hora do gol e protestaria no portão 8 ao final da partida. Repito, não existe porque o Grêmio vencer. Com a vitória de ontem, o Grêmio deu uma contribuição enorme para o Colorado disputar a Libertadores em 2010. Já imaginaram o Inter ficar com a quarta vaga na Libertadores e vencer a América ano que vem?

Decidi fazer uma promessa: se o Inter for a Libertadores e erguer novamente o caneco, vou fazer uma faixa agradecendo ao Grêmio, e desfilarei com a camisa tricolor. É o mínimo que posso fazer. Estou ainda com sangue azul correndo nas minhas veias e saboreando a vitória tricolor diante do "Porco Verde". Foi um massacre. Obrigado Grêmio.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Tricolor, tricolor, tricolor...

Como todos sabem, sou apaixonado por futebol. Já pensei muito 0 porque de tal paixão, mas confesso que não cheguei a conclusão alguma. Minha melhor justificativa é porque ele é imprevisível. Somos avessos a certezas. Quase tudo na vida é assim. O que nos move é a imprevisão, a não garantia, o inesperado. Quando temos certeza, perde a graça. E o futebol é incrível por isso, ele nos prega peças inimagináveis, é imprevisível, inconstante, surpreendente.

Já vi de tudo no futebol. Vi o Liverpool empatar e vencer o Milan nos pênaltis depois de estar perdendo por 3 a 0; vi o Manchester virar contra o Bayer Munique em 2 minutos uma final da Liga dos Campeões, e vi inclusive um time gaúcho, que eu jurava jamais ter de torcer a seu favor, ganhar um jogo com sete homens em campo, quando tinha um pênalti a ser cobrado contra. Como disse "jurava jamais ter de torcer a favor", e como também disse "o futebol nos prega peças".

Pois, dois anos depois desse mesmo time fazer algo inacreditável, inacreditavelmente me vi obrigado a torcer por ele. Para piorar um pouco meu calvário, tinha de torcer contra o meu clube do coração. Tudo para ver o Corinthians na segunda divisão.

Nunca sofri tanto. Tinha de torcer contra o vermelho e a favor do azul. Como foi difícil gritar é gol do Grêmio ou no fim dizer "viva o Inter perdeu". No fim daquela tarde sofrida e feliz de domingo - afinal tudo deu certo e o "Timecão" foi rebaixado - achei que jamais precisaria torcer novamente para o tricolor gaúcho. Porém, entretanto, mas, contudo, não obstante de, o futebol nos prega peças. Novamente me enganei. E novamente me vi obrigado a vestir azul para sorrir vermelho. Para piorar, acreditem, não precisei torcer para meu rival da Azenha apenas uma vez esse ano, mas várias. Serão quatro jogos com a camisa tricolor no peito. Nos dois primeiros consegui dois bons empates, e hoje, tenho mais um duelo contra o Palmeiras.

Por fim, na última rodada, enquanto meu Inter pegará o rebaixado Santo André em casa, estarei eu com um olho no Maracanã torcendo novamente para o tricolor diante do Flamengo. Tudo por uma possível vaga na Libertadores, ou ainda por um improvável e quase impossível título. Se bem que o futebol nos prega peças e nele tudo é possível.
O que importa e o que me angustia, é que hoje, novamente para meu desespero e benefício futebolístico, vou torcer como nunca para o meu co-irmão. Vamos atropelar o Palmeiras.

Hoje, envolvido nessa tragédia chamada vida e diante dos deuses traidores e imprevisíevis do futebol cantarei: Tricolor, tricolor, tricolor...

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A separação.

Fazia tempo que estávamos juntos. Há tempos que nossos corpos, principalmente línguas e bocas se envolviam. Ela sempre mais submissa do que ativa, me cuidava como ninguém. Delicada, me proporcionava poder aspirar a refrescante natureza.

Porém, já não era mais a mesma. Já não tinha o mesmo capricho que tinha me feito se apaixonar. Estava batida, velha, maltratada. Não por mim, mas pelo tempo. Eu sempre a havia prestado todos cuidados, mas o tempo, aquele maldito curso inevitável da existência, tinha se encarregado de destruí-la.

Quando a encontrei, escabelada e suja, deitada sob a piá do banheiro, não tive dúvidas em substituí-la. Era o momento certo. Eu não precisava ter visto aquilo. Ela, um dia tão bela, estava em fase terminal. Eu tinha enfim, justificativas para dela me separar. Corri ao mercado: comprei uma nova escova de dente.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Porque você faz o que faz?

O mundo anda mesmo complicado. Dias atrás ouvi de uma futura professora de Matemática este fabuloso comentário: "eu é que não vou ficar fazendo contas". De uma conversa com uma estudante de Direito surgiu a seguinte pergunta: "mas você só sabe falar de justiça?". E de uma pedagoga tive de ouvir esta pérola: "eu odeio a sala de aula".

Demorei para entender como estes seres foram optar por tais ofícios, mas tudo é possível hoje em dia. Deve inclusive existir por aí: médicos com medo de sangue, dentistas com aversão a gengivas, políticos mais interessados no próprio bolso que com o bem comum, e padres que fogem do celibato. Eu até ousaria dizer que devem existir filósofos não críticos. Mas estes eu garanto que não existem. Se alguém se intitula filósofo e não é crítico, pode ter certeza: não é filósofo. Pode sim, existirem professores de Filosofia avessos a criticidade, mas esses são apenas professores e não filósofos.

Em tempos de confusão total fica até difícil fazer essa separação, mas ela existe. Ensinar história da Filosofia não é ser filósofo, é ser historiador. É dar respostas e não fazer perguntas. É dizer, ao invés de despertar o interesse.

Causei, tempos atrás, furor na Universidade, quando disse para um professor de história da Filosofia, que para ser filósofo a leitura não era necessária. Claro que falava da leitura dos livros e não do mundo. Mas mesmo assim foi difícil para ele entender. E o pior é que não precisa mesmo. Sou tão convicto disso que afirmo que a leitura, ao contrário de aproximar, afasta os que ousam filosofar. Infinitos nomes de autores e vocabulários entendidos a base de dicionários não promovem a Filosofia, mas sim, afastam os interessados por ela.

Eu confesso, sou avesso a leitura. Prefiro observar e pensar. Claro que leio, mas prefiro fazer a leitura da existência nua e crua, do que a leitura de livros. Da mesma forma que os bons matemáticos adoram fazer contas, os bons advogados adoram falar de justiça e os bons pedagogos buscam prezar pela qualidade do ensino, os filósofos adoram perguntar.

Falo dos bons né, porém, muita gente ruim anda por aí...e o mundo?

Bem, o mundo anda muito complicado, e decidir a profissão não é mais uma questão de vocação, mas sim de ganha pão.