Não tenho nada contra os engravatados. Nada a favor também. O único problema dos engravatados é que eles carregam, querendo ou não, um ar de superioridade. Não sei onde surgiu a gravata, nem sei porque ela transmite esse poder, mas ela, com certeza concede ao seu dono um disfarce. A gravata funciona como uma máscara, onde o engravatado, preso a gravata consegue ser aquilo que não é.
Deve ser por isso que usar gravata no Congresso Nacional é obrigatório. Todo político usa gravata. Lula quando sindicalista não usava gravata. Tentou sem gravata por três vezes a Presidência da República e perdeu, mas foi só colocar a gravata que subiu a rampa do Planalto, por duas vezes é bom dizer.
Além dos políticos, parece ser regra também, que defuntos e advogados façam uso do terno e gravata. Não sei por que defunto faz uso do belo traje, mas desconfio que seja para impressionar São Pedro na porta do céu. Deve ser difícil pra São Pedro negar o céu para algum engravatado. Advogados também usam gravatas, mas para esses faz sentido. Eles precisam mentir para sobreviver. Tudo bem, eles vão se defender aqui dizendo que não é mentir, mas sim distorcer os fatos ou apenas dar uma nova visão para o ocorrido. Tudo bem, seja como queiram, eu é que não vou teimar com advogado. A questão é que a gravata funciona tanto aos políticos como aos advogados como um instrumento para o exercício do poder.
O interessante da gravata é que seu uso está se expandindo pelas outras camadas da sociedade. Eu por exemplo, tenho um professor engravatado. Sim um professor. Detalhe: ele não é político e nem advogado. Tudo bem, na verdade ele é quase um político. Fala muito, não diz nada, e quando diz, fala bobagem. Ao invés de ser professor, deveria ser comediante. Se bem que acho que não daria certo, nunca vi um comediante engravatado, de qualquer forma...ia ser engraçado. Meu professor deveria ser advogado, afinal ele defende várias questões inimagináveis. Ele por exemplo, diz que o massacre nazista nos campos de concentração, na verdade só foi cometido contra a elite judaica. Também diz que Platão era um grande latifundiário, e que Marx se identificava mais com os burgueses que com o proletariado. Eu apenas ri. Achei que estivesse num espetáculo de humor. Ele ficou sério como um político e se defendeu como um advogado. Eu fiquei em silêncio pensando nos mortos da segunda guerra que foram incinerados, sem direito a terno e gravata claro, pensei no fato de não existir latifúnidos na Grécia Antiga, e no coitado do Marx que era sustentado por seu amigo Engels.
Tenho certeza por fim, que as gravatas carregam consigo algo de misterioso, meio metafísico, sobrenatural assim sabem. Exemplo disso é o Fossati, técnico do Inter. O Fossati usa gravata também. Detalhe: não é político, não é advogado e não está morto. Fossati se diz técnico de futebol, mas está longe de ser um bom técnico. Prova disso é que Fossati reza antes dos jogos. Deve ser isso que o mantém no cargo mesmo depois de estar sem vencer a seis jogos. É incrível, mas Fossati é uma mistura de político e advogado. Ele se mantém num cargo que não tem capacidade de exercer e se defende melhor que os melhores advogados, pois mantém seu argumento que no futebol um esquema tático não é necessário. Fossati também é chamado de professor por alguns, e consegue tudo isso provavelmente porque usa terno e gravata.
Espero que as orações de Fossati ajudem ele a vencer o Cerro hoje a noite, mas espero que vença com um gol metafísico, roubado, inexplicável assim. Um gol que não seja fruto de seu “esquema tático inexistente” e sim de um acidente de percurso. Só assim quem sabe, Fossati continue a usar terno e gravata, mas agora não mais como político, advogado, professor ou técnico, e sim como um falecido “ex- alguma coisa” do Sport Club Internacional.