terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Entrevista - A Religião faz Mal ao Mundo


Para quem não tem acesso a Revista Veja, aí está a entrevista que o filósofo Sam Harris,um dos ateus mais influentes dos EUA, concedeu a mesma, na edição de 26 de dezembro de 2007.

Gostaria que antes de lerem, tentassem se desvencilhar ao máximo da idéia religiosa que foi enraizada na mente de cada um. Libertem-se da idéia religiosa e saborêem essa maravilhosa entrevista.


O movimento dos ateus é forte nos Estados Unidos e na Inglaterra, principalmente. É uma decorrência dos atentados de 11 de setembro de 2001?
Vejo dois motivos simultâneos para essa confluência geográfica: os atentados de 11 de setembro e a escancarada religiosidade do governo de George W. Bush. A conjunção desses dois fatores levou muitas pessoas a se preocupar com o fato de que a fé está agora dos dois lados do balcão. Esse é um jogo altamente perigoso.

Por quê?
A fé é, intrinsicamente, um elemento que, em vez de unir, divide. A única coisa que leva os seres humanos a cooperar uns com os outros de modo desprendido é nossa prontidão para termos nossas crenças e comportamentos modificados pela via do diálogo. A fé interdita o diálogo, faz com que as crenças de uma pessoa se tornem impermeáveis a novos argumentos, novas evidências. A fé até pode ser benigna no nível pessoal. Mas, no plano coletivo, quando se trata de governos capazes de fazer guerras ou desenvolver políticas públicas, a fé é um desastre absoluto.

O senhor acha que o mundo seria melhor sem religião, sem fé, sem crença em Deus?
Seria melhor se não houvesse mentiras. A religião é construída, e num grau notável, sobre mentiras. Não me refiro aos espetáculos de hipocrisia, como quando um pastor evangélico é flagrado com um garoto de programa ou metanfetamina, ou ambos. Refiro-me à falência sistemática da maioria dos crentes em admitir que as alegações básicas para sua fé são profundamente suspeitas. É mamãe dizendo que vovó morreu e foi para o céu, mas mamãe não sabe. A verdade é que mamãe está mentindo, para si própria e para seus filhos, e a maioria de nós encara tal comportamento como se fosse perfeitamente normal. Em vez de ensinarmos as crianças a lidar com o sofrimento e ser felizes apesar da realidade da morte, optamos por alimentar seu poder de se iludir e se enganar.

É possível conciliar ciência e religião?
A diferença entre ciência e religião é a diferença entre ter bons ou maus motivos para acreditar nas hipóteses sobre o mundo. Se houvesse boas razões para crer que Jesus nasceu de uma virgem ou que voltará à Terra, tais proposições fariam parte de nossa visão racional e científica do mundo. Mas, como não há boas razões para acreditar nisso, quem o faz está em franco conflito com a ciência. É claro que as pessoas sempre acham um modo de mentir para elas mesmas e para os outros. A estratégia, nesse caso, é dizer que tal crença decorre da fé. Com freqüência, ouvimos dizer que não há conflito entre razão e fé. É o mesmo que dizer que não há conflito entre fingir saber e realmente saber. Ou que não há conflito entre auto-engano e honestidade intelectual.

Haverá o dia em que a humanidade deixará de ter fé ou a fé faz parte da natureza humana?
O desejo de compreender o que se passa no mundo é inato, assim como o desejo de ser feliz, de estar cercado por pessoas que amamos ou o desejo de ser mais feliz, mais carinhoso, mais ético no futuro. Mas nada disso nos obriga a mentir para nós mesmos, ou para nossos filhos, a respeito da natureza do universo. É claro que nossa compreensão do universo é incompleta e desconhecemos a extensão exata de nossa ignorância. Não temos como antecipar as maravilhosas descobertas que serão feitas. O que sabemos com absoluta certeza, aqui e agora, é que nem a Bíblia nem o Corão trazem nossa melhor compreensão do universo.

Mas nem a Bíblia nem o Corão se pretendem um manual científico para entender o mundo?
Esses livros não são sequer um guia sobre moralidade que possamos considerar minimamente adequado, e falo de moralidade porque é um campo em que ambos se consideram exemplares. A Bíblia e o Corão, por exemplo, aceitam a escravidão. Qualquer um que os considere guias morais deve ser a favor da escravidão. Não há uma única linha no Novo Testamento que denuncie a iniqüidade da escravidão. São Paulo até aconselha aos escravos que sirvam bem aos seus senhores e sirvam especialmente bem aos seus senhores cristãos. É desnecessário dizer que a Bíblia e o Corão, além de não servir como guias em termos de moralidade, também não são autoridade em física, astronomia ou economia.

Que tipo de impacto seu livro pode ter sobre os leitores religiosos?
Eu ficaria feliz se o livro levasse os leitores a se perguntar por que, em pleno século XXI, ainda aplaudimos pessoas que fingem saber o que elas manifestamente não sabem nem podem saber. Não há uma única pessoa viva que saiba se Jesus era filho de Deus ou se nasceu de uma virgem. Na verdade, não há uma pessoa viva que saiba se o Jesus histórico tinha barba. No entanto, em muitos países é uma necessidade política simular que sabemos coisas sobre Deus, sobre Jesus, sobre a origem divina da Bíblia. Imagino que qualquer pessoa religiosa que leia Carta a uma Nação Cristã com a cabeça aberta descobrirá que os argumentos usados contra a fé religiosa são absolutamente irrespondíveis. Isso deve ter algum efeito sobre o modo de ver o mundo dos leitores. Eles certamente vão perceber que ser um cristão devotado faz tanto sentido quanto ser um muçulmano devotado, que, por sua vez, é tão lógico quanto ser um adorador de Poseidon, o deus do mar na Grécia antiga. É hora de falarmos sobre a felicidade humana e nossa disponibilidade para experiências espirituais na linguagem da ciência do século XXI, deixando a mitologia para trás.

O Brasil é um país aparentemente tolerante com as diferentes religiões e conhecido pelo sincretismo religioso. Num país assim, é mais fácil ou mais difícil para o ateísmo crescer?
Em certo sentido, deve ser mais fácil. O convívio intenso de crenças inconciliáveis deve levar as pessoas a compreender que tais crenças são produtos de acidentes históricos, são contingenciais, são criadas pelo homem e, portanto, não são o que pregam ser. Judeus e cristãos não podem estar ambos certos porque o núcleo de suas crenças é contraditório. Na verdade, eles estão equivocados sobre muitas coisas, exatamente como estavam antes os adoradores dos deuses egípcios ou gregos. Ou os adoradores de milhares de deuses que morreram durante a longa e escura noite da superstição e da ignorância humana. Em qualquer lugar que os seres humanos façam um esforço honesto para chegar à verdade, nosso discurso transcende o sectarismo religioso. Não há física cristã, álgebra muçulmana. No futuro, não haverá nada como espiritualidade muçulmana ou ética cristã. Se há verdades espirituais ou éticas a ser descobertas, e tenho certeza de que há, elas vão transcender os acidentes culturais e as localizações geográficas. Falando honestamente, esse é o único fundamento sobre o qual podemos erguer uma civilização verdadeiramente global.



11 comentários:

Anônimo disse...

Gostaria de ver publicado sua opinião e comentários sobre aquela imagem que está ao lado da igreja de Planalto onde aparecem os apostolos reproduzidos com faces de pessoas residentes no município. Eles viraram santos? Ainda em vida?

Anônimo disse...

correção: está ao lado do altar!

Alexsander de Vargas...o Ale. disse...

Planalto tem isso?Desculpe a desinformação, mas não sei mesmo.Porém, levando em consideração que a informação seja verdadeira,opinarei a respeito.
Primeiramente, gostaria de saber quem são os doze felizardos...hehe...o que fizeram eles para receber a honra de estar ao lado de Cristo? Realizaram o milagre do dízimo ajudando a santa igreja naquilo que ela quer? Ou seja dinheiro. No mais,não sei se é justo,por parte da igreja, levando em consideração que são muitas as pessoas que ainda seguem Cristo, dar o "privilégio" a doze pessoas de serem as escolhidas por Jesus e terem suas imagens esculpidas a seu lado.Tal atitude da igreja me leva a questionar se todos são iguais perante Deus, ou se aquilo que ela prega,a igualdade, é mero discurso para poder arrecadar mais dinheiro.Igreja para mim é sinônimo de mentira, dinheiro e alienação. Ela,junto com a mídia e o sistema capitalista,é o meio mais eficaz para que as pessoas não pensem, não reflitam e não criem sua própria existência, sua própria identidade. As pessoas ficam reféns de Deus, como ficam reféns do dinheiro e da novela das 9...hehe...no mais é isso e obrigado pela informação e pelo comentário.Acho que vou ter q ir na missa...uhahahaha.

Anônimo disse...

Vocês vão todos pro inferno :-)

Anônimo disse...

Em primeiríssimo lugar está o dever de todo homem de reconhecer a existência de Deus e de adorá-Lo e servi-Lo como seu Criador e Senhor. Ora, depois do pecado de Adão e Eva (pecado original), a mente humana ficou obscurecida, e sua vontade debilitada. Assim, muito freqüentemente o homem nega ou duvida da existência de Deus e passa a se declarar ateu (afirma que Deus não existe) ou agnóstico (não sabe se Deus existe ou não e passa a viver como se Ele não existisse). E nisto entra uma malícia profunda, um pecado gravíssimo, que estabelece uma ruptura radical entre o homem e Deus. Porque reconhecer a existência de Deus está ao alcance de toda alma reta, como diz o livro da Sabedoria: "Pela grandeza e formosura da criatura se pode visivelmente chegar ao conhecimento do seu Criador" (13, 5).

É claro que, se o homem persistir nesta postura até o momento da morte, não poderá ser salvo, ainda que em sua vida tenha sido, como se costuma dizer, uma "boa pessoa". Pois alguém que rompeu com Deus no fundo do seu coração é um indivíduo visceralmente ruim. Os aspectos aparentemente bons de sua personalidade apenas encobrem essa malícia de fundo, que contamina todos os seus atos internos e externos.

Anônimo disse...

leiam aqui=

http://www.lepanto.com.br/ApIgreja.html

Alexsander de Vargas...o Ale. disse...

Será que um comentário tão ridículo merece réplica?Quer falar da sagrada escritura?Leia http://bibliadocetico.sites.uol.com.br/contradi1.htm#cria

No mais, em torno de seu maravilhoso e ao mesmo tempo ridículo comentário me diga como se estabelece uma alma reta? Alma em sua etimologia significa "psiqué" que é traduzido em conhecimento. Logo, uma alma reta seria uma alma conhecedora e uma alma conhecedora, deve no mínimo duvidar da existência de um ser que se diz onipontente, onisciente e onipresente, e ao mesmo tempo se mostra impotente, burro e não presente.
Sobre ir ao inferno ou não, será com grande prazer que habitarei tal lugar, pois se acaso esse
"deusinho " um dia eu encontrar, e ele com toda sua "suposta sabedoria" não conseguir entender o porque duvidei tanto de sua existência, prefiro não estar ao lado de tamanha burrice divina e conversar com o capeta que pelo menos deve ser aberto ao diálogo.
Enfim,gostaria de saber de vossa senhoria se o seu céu é o mesmo dos outros crentes de outras religiões.Ou melhor, se existe só um DEUS, pq tantos livros sagrados e tantas religiões.Se Deus é um um, então não deveria ter apenas um livro sagrado?Abraço.

Anônimo disse...

"Sobre ir ao inferno ou não, será com grande prazer que habitarei tal lugar...
...conversar com o capeta que pelo menos deve ser aberto ao diálogo."

eSSelente :-)


e sobre:

"Enfim,gostaria de saber de vossa senhoria se o seu céu é o mesmo dos outros crentes de outras religiões.Ou melhor, se existe só um DEUS, pq tantos livros sagrados e tantas religiões.Se Deus é um um, então não deveria ter apenas um livro sagrado?Abraço."


esse tema é abordado aqui, texte q brevemente conta a história de como foi fundada a igreja católica:

"http://www.montfort.org.br/index.php?
secao=cadernos&subsecao=apologetica&
artigo=primado&lang=bra"

leia a introdução:

"Uma das grandes razões de divergência entre católicos e protestantes diz respeito à legitimidade para a interpretação das Sagradas Escrituras. Para os seguidores da reforma, qualquer pessoa poderia ler e entender corretamente a bíblia, sem o auxílio de ninguém senão do Espírito Santo, que guiaria cada um infalivelmente na busca do verdadeiro significado da palavra divina. É o chamado livre exame da Bíblia, proposto pelo ex-frade Lutero.

Para os católicos, o legítimo intérprete das Escrituras (e também da Tradição) é o papa, sucessor direto de São Pedro, pois Cristo confiou a ele esse ministério. Ao Papa, portanto, devem os católicos obediência em matéria de fé e moral, em função do poder divino a ele conferido.

Os protestantes, apesar de discutir as passagens discordantes da bíblia de forma crítica, acabam tendo que reconhecer que cada um, em conexão direta com Deus, tem a sua interpretação, a sua "verdade", originando-se, dessa forma, o fenômeno da multiplicação das seitas que se constata a partir do século XVI, e que não cessou até hoje."


essa introdução por sí já explica o por que de tantas interpretações diferentes

abraço

Ma®co - √Δ٦ƏиčĩΘ disse...

Mas voltando ao tema da postagem do blog:

não é a igreja q faz mal ao mundo, ridículo mesmo é afirmar isso.

mas cada um tem o livre arbítrio para pensar e falar o que quiser...

Alexsander de Vargas...o Ale. disse...

Bem, vc explicou a principio o porque de haver tantas religiões cristãs, o que já é um absurdo.Embora então, possa haver explicação para as várias interpretações da Bíblia, mesmo assim não há explicação para se achar esse deus bíblico o criador do universo ou seu filho o salvador. Primeiro que ele não salvou nada e segundo que num universo de aproximadamente 6 bilhões de pessoas, apenas 2 bilhões são cristãos. Assim , pergunto: Onde ficam os outros 4 bilhões? Vão para o inferno?

Sobre se a Igreja faz mal ao mundo ou não, acredito que ela possa até fazer bem,mas somente as pessoas que não conseguem suportar a própria vida e o próprio sofrer.Portanto,somente aos fracos que não conseguem ver que a vida é isso, sofrimento, dor e alguns momentos de alegria que a igreja pode levar algo bom. A igreja é um calmante para a dor existencial, pois através da mentira celestial aplaca a angústia de se estar vivo.
A verdade dói, machuca, e a igreja com suas fábulas dá esperança para essa dor.
Por outro lado, ela termina com a possibilidade do ser pensar, pois já estabelece uma "idéia verdadeira".
Portanto existem dois caminhos: um de buscar a inatingível essência das coisas ou a verdade sobre o universo, e o outro de aceitar a mentira religiosa e viver com a esperança de que um dia possa haver algo melhor.
Com certeza cada um escolhe seu caminho(embora segundo ela Deus seja onisciente, e assim, se já sabe tudo, logo o livre arbítrio é uma grande farsa, como a própria onisciência divina): um de interrogação livre ou o outro de escravidão intelectual.

Anônimo disse...

nanana