Publicado no Correio do Povo de 16/06/2008, achei formidável o texto e a visão de Juremir Machado da Silva, sobre o Homem Moderno. Para quem não tem o jornal, esta aí o texto:
As comemorações de maio de 1968 acabaram. Ou quase. Dentro de dez anos, serão mais intensas. Meio século tem mais charme do que 40 anos. Mas os frutos daquele tempo estão aí e não param de chamar a atenção. Um deles, talvez o mais importante, junto com a mulher sexualmente liberada, é o homem moderno. O problema é que não surgiram, por exemplo, publicações e especialistas que tratem dessa nova categoria. Em qualquer banca de jornais, até em vilarejos, é possível encontrar revistas para mulheres modernas. E o homem moderno como fica? Abandonado. Não tem a quem recorrer. Salvo aos psicanalistas. A verdade é que ele precisa de ajuda.
A vida de um homem moderno é complexa e provoca inúmeros distúrbios nunca observados antes. O homem moderno precisa ser ético, estético, atlético e, de preferência, sexualmente épico. Acossado por tantas obrigações, acaba, muitas vezes, por ser apenas patético. O homem moderno precisa ser bem-sucedido no trabalho, bom pai, bom filho, excelente marido, grande cozinheiro, conhecedor de vinhos, capaz de fazer aquelas frases enigmáticas sobre o conteúdo de cada garrafa que abre, e ainda trocar fraldas, assar um bom churrasco, se for gaúcho, ter pegada, atitude, sensibilidade, virilidade, passar creminho, usar perfume, abrir a porta do carro, pagar a conta no restaurante, ao menos nas ocasiões especiais, dar porrada em sujeito abusado, que tente ofender a sua dama na rua, e ser charmoso e sedutor.
Tudo isso sem revista alguma para ajudar. Sem um colunista diário para dar dicas de como enfrentar o cotidiano. Sem livros de auto-ajuda. Sei que existem alguma publicações dirigidas ao público masculino, mas elas não estão à altura das dificuldades enfrentadas pelo homem moderno. Que cueca usar no primeiro encontro com uma mulher? Samba-canção ou sleep? De que cor? São detalhes extremamente importantes. Deve-se tentar ir para a cama já na primeira saída? Isso não poderá ser visto como uma atitude machista? O contrário, porém, não tenderá a ser considerado falta de pegada ou até desinteresse? O certo é tentar justamente para que não funcione e assim cada um cumpra a sua parte no ritual consistindo em não querer sempre querendo? Viram só?
É problema que não acaba mais. O homem moderno casado de longa data, então, precisa mais do que ninguém de ajuda. Questões transcendentais o assolam: é brega ou bacana convidar a mulher para comemorar o aniversário de casamento num motel? No caso de ser bacana, como escolher o motel? Apresentar logo um nome e endereço não vai provocar desconfiança? Se ela tiver uma sugestão, isso não vai detonar ciúme (como é que ela sabe?), terminando os dois emburrados na cama do casal? Dizer que um amigo, ou uma amiga, no caso dela, indicou, essa é uma boa saída? Não vai gerar comentários do tipo: 'Ah, então teus amigos freqüentam motéis?'. Ou: 'Diga-me com quem andas e te direi que motéis freqüentas'?. Claro, felizmente a vida de um homem moderno não se resume a questões sexuais.
Alguns dilemas antigos persistem: onde passar o Natal? E a virada do ano? Na casa da mãe? Na casa da sogra? O problema é que a mãe de um é sempre a sogra do outro. Mais complicado ainda: onde passar os domingos? O homem moderno deve ser superior a tudo isso, compreensivo, generoso, forte, certeiro, gentil, firme, incansável e seguro. Mais do que tudo, jamais deve roncar ou virar para o lado e dormir depois do sexo. O homem moderno, portanto, é um herói ignorado pela mídia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário