É por essa tentativa de ao menos poder sonhar, que o adolescente é o mais feliz de todos os seres humanos. Eles sonham fazer, eles sonham mudar; enquanto os adultos, apenas reproduzem. Reproduzem um sistema montado pelo não viver, pelo medo do futuro e o consequente medo da morte.
São poucos os adolescentes que se mantém adolescentes, e os que se mantém, causam medo, pois muitos deles morrem jovens. A morte precoce desses admiradores da vida, dá legitimidade e possibilita aos adultos, mergulhados no medo, os incriminar e justificarem sua vergonhosa derrota diante do viver. Deve ser por isso que o adolescente se entrega e prefere se tornar um "adulto fracassado". O adolescente temendo a morte precoce - e estimulado em desistir por aquele que há tempo já está morto - se refugia no sistema e vê ali a possibilidade de viver mais. É diante da tragédia e do medo do futuro, que ele deixa de sonhar e se entrega para a moral, para a sociedade, para os valores pré-estabelecidos.
De filósofo crítico e sonhador, ele passa a ser um mero reprodutor de valores. É nessa entrega, que o adolescente se torna adulto. Se torna um adulto fracassado e medroso. Ele teme viver e se esconde da verdadeira vida.
O adolescente forte não tem medo. Adorador da vida, ele quer extremos, excessos, e é por isso que é um "problema". Ele, com suas "idéias malucas", com seu ímpeto de viver, atenta contra a vida dos fracassados e põe em risco o sistema.
A vida só vale a pena pelo fato de um dia termos ousado permancer adolescentes. De resto, ou estamos submissos aos familiares, ou estamos submissos a sociedade.
Os adolescentes não têm caminho; e a vida, na sua forma mais real e bruta, é sem caminho. Eles observam esse descaminho, essa falta de nexo na existência; e, ao contrário dos adultos, adoram isso. É por isso que admiro os adolescentes.
Lamentável e entristecedor, é ver, que a maioria deles venham a fracassar, que se entregam na luta e se tornam adultos. Adultos medrosos e derrotados.
O adulto é um adolescente fraco, salvo alguns, que raramente observamos por aí. Esses? Esses são os que ainda sonham; são os que ainda mantém em si a vontade de viver. Eles são chamados de loucos pelos adultos do sistema, porém sentem-se superiores aos que se entregaram.
Dercy Gonçalves, falecida no último sábado, é um exemplo claro de uma eterna adolescente; de alguém, que embora tenha tido a sua frente, todos obstáculos morais para "deixar de ser", não cansou de lutar, e tornou-se um exemplo de como devemos encarar a vida, ou seja, como uma verdadeira comédia. Ela deu risada da existência durante toda sua "adolescência" e mostrava-se realizada por isso.
Parabéns a Dercy e ótima semana a todos.