quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Moral

Meio sem tempo para escrever especialmente para o blog, compartilharei com vocês um texto que me foi proposto a realizar na Universidade.O tema é: A moral e onde ela possivelmente surgiu. Boa leitura e uma ótima quarta-feira.


Quando surge a Moral.

Quando somos implicados a pensar sobre o surgimento da moral, da ética, do certo e do errado, do bom e do mau, nos colocamos diante de uma interessante questão: a moral surge no contato do sujeito com o sujeito, ou surge do sujeito? A moral é fruto do empirismo ou do inatismo?

Essas indagações, nos levam, inevitavelmente a pensar sobre algumas questões além da própria moral, mas que seriam a essência da moral. Questões envolvendo o ser, a natureza, e a existência em si e tudo o que nela está envolvido, são levantadas obrigatoriamente quando nos debruçamos sobre a ética e a moral. Se perguntado sobre o que acho de todas estas indagações, diria que nunca teremos respostas suficientemente esclarecedoras, e que apenas por especulação podemos pensar alguma coisa. Diante do universo, somos, mas nunca saberemos como nos tornamos o que somos. Esse é o grande mistério da existência, e é aquilo que nos move como seres pensantes. Não conseguimos apenas “ser”, e inexplicável e incessantemente, buscamos aquilo que nos tornou ser. É essa sede de saber o início, a origem de tudo, que move a existência; e essa luta constante contra a morte que nos faz viver. E dessa curiosidade intrínseca do homem, que surgiu a filosofia, a religião e a ciência.

Voltando ao nosso assunto central que é a moral, observo que sobre ela também não temos como saber algo de concreto. Nosso presente pensar sobre ela, não poderia estar sendo feito sem que nossa história e a própria história da moral tivesse nos influenciado até hoje. Por mais imparciais que digamos e que tentamos ser, mesmo assim, nossa imparcialidade advém da existência social, familiar e histórica que tivemos. O que quero dizer é que mesmo essa idéia que temos, de sermos possuidores de uma imparcialidade, de sermos justos e racionais diante de uma situação, tudo isso ainda é fruto da história que tivemos em nossas vidas. Toda essa racionalidade que dizemos possuir, só é possível graças às experiências que tivemos e que nos fizeram pensar assim. Assim desde já, descarto a idéia de que a moral possa ser idealista. Ela não é, e não pode ser anterior a existência.

Embora essa expectativa negativa, diante de sabermos a origem da moral, ouso-me a tentar defini-la por simples especulação. Assim, acredito que:

É na guerra sexual, que muitos chamam de amor, que no princípio de tudo, somos colocados no paraíso. Sim, o paraíso. Ali somos protegidos, cuidados, e só mantemos contatos indiretos com o mundo. Apenas escutamos o mundo, e “curiosos para pular para fora” do paraíso, após nove meses conseguimos nossa independência. Saímos do paraíso e conhecemos o inferno. A vida nos mostra que aqui fora tudo é luta, tudo é guerra. Lutamos incessantemente por viver, e, é essa luta constante pela vida, que faz surgir a moral, o direito e a justiça. É o inferno entre os homens que faz os homens manterem acordos que mantém a ordem e a moral entre os mesmos, e, é a insatisfação constante entre os homens que faz com que a moral mude através dos tempos. Portanto, a moral, se não histórica, é concomitantemente surgida junto com o nascimento, ou seja, junto com a experiência.

Os idealistas dirão que estou certo, que a moral é histórica, mas que os valores morais são inatos. Para esses respondo com a própria história citando um exemplo que nos é bem presente: o homossexualismo. Sabe-se que na Grécia Antiga o homossexualismo era uma prática normal e portanto um valor moral aceito. Também é sabido que com a tomada de poder por parte do cristianismo esse valor passou a ser condenável e por muito tempo se fez assim. Embora isso, hoje vemos que a própria igreja está tendo que rever sua postura, pois presencia, uma revolução de valores, em que os homossexuais, antes doentes, novamente são vistos como seres normais, possuidores de uma identidade diferente, mas não menos valiosa que a identidade cristã, ou qualquer uma que seja. Podemos citar também a monogamia que antes tida como absoluta dentro da nossa sociedade ocidental-cristã, hoje já é vista com outros olhos.

Assim, creio eu, que a moral é histórica, mutante, e que surgiu da nossa impossibilidade de nos entendermos como humanos (os animais não possuem moral). Foi do egocentrismo (que aí sim me parece inato) que a moral surgiu. Foi da auto-preservação, da proteção que antes tínhamos em estado incondicional no útero materno e que nos é usurpada com o nascimento, que a moral surge. A moral surge para que possamos no útero terrestre nos sentir protegidos.

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