terça-feira, 18 de novembro de 2008

"Meu amigo macumbeiro."


Este mundo realmente é fantástico. Digo isso porque nele, além de podermos observar as mais diferentes formas de vida, também podemos observar os humanos. Sim os humanos. Os humanos são especialistas em criar formas de não viver.
Eles embora sejam seres vivos, são mais mortos do que vivos. Dos seres que nascem, crescem, reproduzem e morrem, somente os humanos desenvolveram a capacidade do não viver. Humanos não vivem, eles sobrevivem. E quando digo sobrevivem, digo isso, porque eles são os únicos seres que inventaram as mais diferentes formas de suportar a existência. Me respondam: existe algum outro ser vivo que estabeleceu em seu meio algum tipo de moral, religião ou que necessitou ter de criar leis e buscar na ciência formas para poder se defender das angústias da vida?
Não são poucas as crenças, religiões e supertições que têm como objetivo acalmar a humanidade. Também não são poucas as pessoas que hoje em dia, necessitam de pílulas da felicidade, para que num gole esqueçam que tristeza e felicidade fazem parte da vida.
Dias atrás um amigo meu - cético, ateu, embora hoje apaixonado - veio desabafar que seu relacionamento estava por um fio. Ao perguntar porque, ele me supreendeu com a única resposta que dele não esperava. Esperava algo do tipo: "ela me traiu", "eu a trai", "os pais dela me odeiam", "a sociedade não quer", "ela vai embora"...entre outras coisas que acometem uma relação.
Mas não. Sua resposta foi a mais inesperada possível: "macumba" disse ele, e sem me deixar falar continuou: "sinto que me fizeram macumba".
Minha resposta curta, grossa e coerente foi: " meu amigo...se macumba funcionasse, campeonato baiano terminava empatado". Embora os momentâneos risos, minha tentativa de tirar ele do mau humor foi frustrada. Vi naquele momento, que ele falava sério.
Deixei ele desabafar. Me falou de tudo o que estava sentindo. Seus medos, sua paixão, seu futuro profissional, enfim, me falou de suas angústias. Ao mesmo tempo, me garantiu que tudo aquilo que sentia, embora seu ceticismo, tinha lógica, nexo, e que eu deveria nele acreditar.
Sem saber o que fazer, mas já fazendo indaguei-o: "Qual teu maior medo? "O que em sua vida gostaria que mudasse?".
Ele com um sorriso lacrimejante prontamente respondeu: "Só queria ter paz, viver com meu amor sem ser importunado". Quando acabou de dizer isso e viu meu sorriso sarcástico habitar meu semblante, logo previu que algo de bom estava por vir.
Disse eu a ele: "Simples meu caro, faça uma macumba e peça que o deixem em paz".
Ao lhe dizer isso, com um olhar de alívio e ao mesmo tempo desesperado por saber que jamais teria paz disse: "É...macumba não existe."

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