quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Queimando Livros


É no mínimo interessante algumas questões que acometem nossa existência de tempos em tempos. Falo de fatos inesperados, confusos, às vezes inexplicáveis do ponto de vista lógico.
Sempre ouvi que quanto mais a gente lê mais inspiração adquirimos para escrever. Minha professora falou isso ontem. Ouvi isso e acabei entrando em crise.
Nunca li tanto na minha vida e nunca estive tão "des-inspirado". Nem comentei isso com ela. Ela é doutora, e aprendi na escola que não devemos discutir com doutores. Assim cheguei a conclusão que minha falta de inspiração, ou era fruto de algum outro fato, ou eu que sou um fora da linha, um ser atravessado na história que só está aqui para reclamar e atazanar a vida dos mortais. Descartei que fosse esse o problema para evitar o suicídio, e pensei no porque da minha crise literária. Quem sabe pode ser a fraca campanha do Colorado no Brasileiro, a crise financeira, a comoção com o caso Eloá, a eleição do Obama, ou até alguma paixão que hora ou outra me atinge. Tudo ilusão. Sei que essas coisas não dão certo comigo e pronto. Mas enfim, deve existir algo que explique porque não consigo mais escrever. Inclusive agora, estou escrevendo sem saber o que escrever. Me dêem um idéia por favor.
Uma medida ao menos já tomei. Parei de ler. Vou queimar todos meus livros, e quem sabe assim, diante do fogo literário alguma idéia extraordinária venha a surgir. Vou esperar...queimando livros e observando o fogo.
Ótima quarta-feira a todos.


4 comentários:

Rodrigo disse...

ideia eu ainda não tenho... mas tenho uma sugestão...
comece por queimar aquela pequena biblia que esta no canto da sala....
muahahahahahahha!!!!

Rodrigo disse...

(continuando) afinal... caso tenha alguma ideia explosmática(adorei esta nova palavra) ainda poderá salvar os outros livros mais importantes... hhehehehe

Anônimo disse...

Boaaaaaaaaaaaa..uhsahsahsahashas

r.A. disse...

EU TENHO UM CONTO PARA VOCÊ ALEXSANDER DE VARGAS... HEHEHE!



Eu não posso mais explicar as coisas nos meus contos!
“ é melhor queimar de uma vez do que se apagar aos poucos...” _Neil Young.
Dia desses eu comecei a escrever bem devagar, com palavras escolhidas a dedo no dicionário, com inspirações roubadas na cara dura de outros escritores e tal, quando saindo de um chiqueiro ou coisa bem pior e igualmente inferior me cruza uma puta de uma sombra no meio do quarto e me denuncia: _Olha, bons escritores escrevem com as luzes apagadas! Ora, eu não quero ser o oposto de um bom escritor, seja lá o que isso for... Quero ser dos legais. Dos que todos dizem: _Se eu pudesse ser um pouco parecido com ele já seria de bom tamanho. Olho com ódio para a luz no teto e a amaldiçôo. Abandono a caneta no canto do papel e desligo a luz e deixo apenas a iluminação dos postes da rua oferecer a clareza necessária para o grande feito. As idéias ficam meio conflituosas e avançam umas nas outras, mordem uma a bunda da outra e começam a sangrar, gritam, esperneiam, praguejam... me obrigando a amassar o primeiro esboço desta obra magnífica que será reeditada centenas de vezes e traduzida em mais de quarenta e quatro idiomas. Vamos lá. Pego com força a caneta e vou à luta... toca o telefone.Me faz rasurar a folha. Uma amiga de infância me dando boa noite e perguntando se estou escrevendo muito ultimamente. Desligo na cara e arranco esse bosta da tomada. Folha no lixo choramingando mais uma chance. _Bons escritores escrevem em folhas limpas! Diz Jesus pendurado em um crucifixo na cabeceira da cama. _Olha a boca bichona! Arranco o calhorda de lá e encho-o de laço... Sem piedades cara! Enquanto olho os pedaços de gesso no chão percebo que a coisa tinha razão. Nada de papel usado. E se alguém, por ventura, resolve recolher os originais dos meus escritos? Bah, o gênio era um porcalhão. Nada disso! Tenho de começar a me preocupar logo cedo com minha carreira de ícone da literatura contemporânea. Folha nova. Caneta em punho como uma espada pronta a decepar a cabeça de alguém que virá a me criticar. Começo com uma escrita tímida e logo pego o embalo e transito entre prostíbulos e bares. Uma coceira nas costas. Me movimento para acalmá-la e derrubo café na folha. Fico tranquilo. Atiro gentilmente a xícara na parede e a assisto espatifar-se. Com a mesma calma pego outra folha após enxugar o café derramando com uma camiseta. A folha se rasga entre a delicadeza de minhas mãos. Respiro. Outra folha. Porque Deus faz isso comigo? Um bom título me vem na cabeça. Sorria, você está sendo filmado! Nada original, certo? Sai dessa cara... Folha no lixo. Uma letra e estoura um foguete lá fora: BOOOOOOOOOM- PÁPÁPÁPÁPÁPÁPÁ... pulo na janela para ver quem é o sacana. Um senhorzinho de pijama com o foguete saindo fumaça do cano. _Não se estresse com meu marido vizinho, Ele sofre de sonambulismo e está sonhando que o Brasil venceu os jogos olímpicos! Tem gente que é idiota até dormindo mesmo! _Tudo bem! Eu não me incomodo com isso. Minto... Recupero o fio da meada. Quando ganhar rios de dinheiro com meus escritos eu ligo para a máfia yakusa e mando matar os dois com estrelas ninjas. Sempre dizem que as dificuldades moldam os grandes escritores e só pode ser isso que está acontecendo comigo, sim, devo estar destinado há algo muito maior e por isso tenho de passar por isso. Para provar meu valor de imortal. Segundo parágrafo. Linha nova. Travessão. RUUUUUUUUUUUUUUUM! RUUUUUUUUUUUUUUM. HUM HUMHUMNHUM. Outro vizinho esquentando o motor do carro para ir trabalhar. Penso... Coma esse seu carro velho a álcool seu cuzão! Espero, já que é o que me resta fazer nessas condições. Espero mais um pouco. O sujeito se manda com o ferro velho dele e eu começo a ponderar um pequeno acesso de choro... Força homem! Olho para o papel e uma moto bate em um cavalo na rua de casa... Reboliço e gente correndo, gente chamando os bombeiros, bombeiros chegando com sirenes gritantes... Meia hora e tudo calmo novamente. Sento por um momento e choro... Choro por mais um longo tempo. Recomposto eu pego a folha e coloco no centro da mesa, seguro a caneta e escuto minha mãe gritar do quarto: _ Dormir! Sinto uma vontade imensa de vela morta. Permaneço em silêncio. Espero e resolvo não mais ignorar a empreitada, nem que caia o mundo. Sigo por algumas linhas e outras mais. Sem incômodos, parece que valeu a pena passar por essas provações. As palavras saem fáceis, com ritmo e maestria... há, é disso que eu estava falando! DING-DONG... Levanto e abro a porta. Um cara com face de rato. _Cara, são quatro e cinqüenta e seis da madrugada, o que você quer? _Bem, bom dia para o senhor. Sou uma testemunha de Jeová. _A essa hora cara? Retruco. _Sim. Deus ajuda quem cedo madruga! _é... Deve ser mesmo... PORRA! Penso... e daí? Jeová precisa de testemunhas agora? Qual foi o crime? Paro de mentalmente ironizar, ora, pode ser que isso seja um castigo por ter demolido a imagem do salvador. Sim, deve ser isso. _O que eu posso fazer para você ir embora? _Ahã... desculpa senhor, tenho essas revistas e ... Tomo as revistas das mãos dele e fecho a porta e volto para meu escrito. Dou um tempo de meia hora, alguém tem que aparecer para me interromper, é assim que tem sido e da mesma forma como aprendi com a vida; se deve afirmar as situações difíceis e não fugir delas. Aceito esse desgraçado desafio. Passa meia hora. Mais meia hora agora... DING-DONG... policial na porta. Levemente me passa pela cabeça a contratar um monte de policiais para cercar a casa e impedir que me interrompam. _Opa! Qual é o problema senhor policial (de merda)? _O senhor queira devolver as revistas daquele pobre homem ali do carro. _Estão aqui. Eu as alcanço ao policial que as pega rápido e agressivo. _E manda ele ficar com uma! Diz o testemunho de dentro do carro... _E queira ficar com uma! Atira uma revista no meu peito. _Só isso? _Se você causar mais problemas eu volto aqui e te arrasto pelo pescoço até a delegacia... Estamos entendidos? Aceno com a cabeça positivamente. _Tenha um bom dia! No mínimo ele vai comer aquele bicha testemunho de Jeová. Testemunho de putinha de milico, isso sim! Volto para o quarto e olho para o papel e a caneta. Nunca tive tanto medo de um papel e uma caneta. Eles tem um poder muito maior do que as pessoas julgam...monstros...Arremesso os testemunhos de Jefus pela janela e acerto um cara que xinga e atira de volta. Chuto a revista estúpida para debaixo da cama. É duro de aceitar. Não sou um escritor, não que não me reconheço como tal, mas a realidade não deixa, as pessoas, droga de pessoas... Sinto muita inveja das pessoas que conseguem escrever recadinhos umas para as outras. Sinto um ciúme do papel do açougueiro que ele rabiscava essa manhã... Um quilo da alcatra... O conto da alcatra em minha mente. E eu nada, minha nossa, nada! Os primeiros brilhos do sol começam a refletir na parede de frente para mim, sobre a escrevania e seguem a forma da janela. Um quadrado com uma cruz no centro. Acalmo-me e massageio os ombros. São noites tentando escrever e começo aceitar que se não escrevo não é porque teimam em me interromper e sim porque não quero ou não tenho o que dizer... Talvez tenha que agir. Caminho até a garagem e pego um galão de gasolina. Espalho calmamente cantarolando por toda a casa e ensopo minha cama, jogo principalmente em cima da caneta e do papel... Acendo um cigarro e fumo até chegar ao filtro. Jogo ele no chão. Enquanto queimo me surge uma brilhante idéia para um conto, talvez um livro, algo nunca escrito e talvez nem pensado... Tarde demais.


Rodr!go Adr!ano Machado