quarta-feira, 30 de setembro de 2009

A Incrível Estória de Chiquinho.

Vou contar uma estória prá vocês. Não sei se é verídica, mas alguns juram que ninguém teria tanta imaginação para isso.

Numa pequena cidade do interior do noroeste sul latino americano, existia um padre que, devoto de São Francisco de Assis, resolveu fazer uma festa em sua homenagem. Para lembrar São Francisco que em sua vida deixou seus bens materiais para pregar a palavra de Cristo, o devoto padre decidiu sortear o fusca da Paróquia. Era um belo gesto. Uma bela homenagem. O dinheiro da festa e do fusca, obviamente seria dirigido a obras sociais cristãs em benefício da comunidade, e o padre, como Francisco, a partir daquele dia pregaria a palavra de Deus a pé. Assim, sensibilizados com a fé e a devoção do padre diante dos valores cristãos, os fiéis se empenharam, e de mãos dadas, como num grande mutirão, se uniram para colaborar. Compraram e venderam rifas, doaram animais, fizeram tortas. Bingos antecederam o grande dia, e no dia da grande festa comemoraram muito. Comemoraram como se toda fé do padre estivesse incutida no coração de cada um. Quem fosse o ganhador do fusca pouco lhes importava. Para eles o que interessava agora era seguir o quase Santo Padre e com ele mostrar aos infiéis que um outro mundo ainda é possível. Cristo havia dito: “dê aos pobres tudo o que tens e siga-me” e era isso que o pároco estava por fazer.

Um dia após a festa, onde a chuva batia o lar parecendo divinamente querer esfriar os ânimos ainda exaltados dos cristãos, vem a terrível notícia: o padre havia sumido. Ninguém mais o tinha visto.

Onde poderia ele estar? A pé e com chuva ele não poderia estar longe. Seus amigos mais íntimos de nada sabiam. Seu celular não dava sinal. Teria ele morrido e ressuscitado como Cristo, porém em menos de 24 horas? Seria ele da linhagem de Jesus com Maria Madalena, ou seja, o parente mais próximo de Deus Nosso Senhor?

Toda comunidade se viu reunida em busca do padre perdido. Eram 16 horas e 50 minutos quando o sino tocou. Algo estranho, afinal o sino havia soado dez minutos antes do previsto. Havia missa todo dia às 18 horas e o padre jamais havia estado ausente. Alguns atentos supersticiosos religiosos pessimistas viram na soma dos números a besta simplificada, e havia lógica, afinal, a soma dava 66. Seria a besta anunciando a morte do mais novo santo e símbolo do Cristianismo?

Os nervos se acirraram, um padre vizinho é chamado para substituí-lo caso o santo padre não aparecesse. A última hora foi de apreensão. Dezoito horas e novamente o sino toca, agora no horário normal. Os fiéis entram, muitos em prantos. Alguns soluçam, outros cantam lacrimejando. Vários já possuem a medalhinha confeccionada de última hora em homenagem a São Chiquinho, por eles assim já denominado. Uma senhora diz ter curado a dor de cabeça. Dizia ter sido ela a última a ter recebido a benção do Santo Padre. Um senhor diz novamente enxergar depois de ter mergulhado seus olhos na pia batismal. Outro diz ter novamente levantado depois que Chiquinho o puxou pela mão dizendo que sim, ele tinha pernas e podia andar.

Eram 18 horas e 06 minutos, quando estaciona em frente à Sagrada Igreja uma Camionete. O sino interrompe a missa. Algo atípico novamente estava acontecendo. Todos olham para o padre, o padre olha pra fora. Todos olham para fora e o padre olha para o céu. O que sairia daquele belo automóvel? Todos temem o pior. Ela tinha vidros escuros, uma típica camionete de funerária, porém era vermelha, que se por um momento é um alento, faz piorar as coisas por lembrar o demônio e a anunciação da besta. De repente um menino entra na Igreja e tomando todas as atenções diz:

_Eco Eco, é ele.

_ Ele quem? - diz o padre no altar.

_ Santo Chiquinho – diz o menino.

Mal o pequeno, mas tenso diálogo se encerra, e todos vêem que o menino tem razão: era o Santo Padre. Ele desce da sua nova “carruagem vermelha” e lentamente cruza a todos em direção ao altar. Ao lá chegar, agradece e pede ao seu substituto que vá para o seu devido lugar. Já de posse do microfone celestial, pede desculpas pelo atraso e sem explicações continua a missa. No final da missa, um fiel atrevido, faz o que todos tinham vontade de fazer.

_ Com todo respeito senhor padre. Onde o senhor esteve? O que é aquela camionete vermelha? E afinal porque o sino tocou as 16 horas e 50 minutos?

E o padre calmamente responde:

_ Caros fiéis, passei minha vida andando a pé, ou de fusca como queiram. Penei muito em toda minha trajetória, e hoje não foi diferente. Saí ontem à noite embaixo de daquela chuva torrencial com uma adorável fiel que se dispôs a me levar no dia de hoje até a concessionária mais próxima. Saímos ontem para evitarmos comentários libidinosos a nosso respeito e no caminho paramos num lugar muito belo. Os vinhos custavam uma fortuna e o pão não existia. Não havendo pão e com fome tive de comer alguma coisa, mas prefiro não comentar. Foi sofrido comer só aquilo, mas foi suado, de se lambuzar. Estava delicioso, mas meu cansaço me impossibilitou de comer de novo. Hoje de manhã, acordei e tive de me enfiar numa banheira que inevitavelmente me fazia lembrar o quanto somos pecadores. Depois disso, fomos até a concessionária com o intuito de comprar essa camionete, e que, devido a burocracia veio somente ocorrer às 16 horas e 45 minutos. Quando finalizei o negócio, eufórico, pensei em ligar para minha família, porém apertei no controle remoto do sino a distância, o que fez soá-lo exatamente no horário mencionado. Mas vejam como Deus escreve certo por linhas tortas meus caros fiéis! Minha camionete custou RS 50.000,00 e possui motor 1.6, ou seja, Deus quis que ela fosse minha, e também desejou que todos vocês soubessem da minha felicidade às 16 hrs e 50 minutos, digo minutos. Essa camionete enfim, é um presente de Deus irmãos. E mais! A partir de hoje garanto a vocês que nenhuma fiel andará mais a pé. Pois se São Francisco doou sua vida a Cristo, tornando-se um andarilho pregador, eu prometo me tornar um motorista pegador, quero dizer, um motorista pregador. Darei meu corpo e minha camionete a vocês...mulheres de fé.

Os homens sem muito entender porque só as mulheres seriam beneficiadas, não indagaram o porque da preferência. Porém sentiram-se bem em saber que suas mulheres e filhas estariam protegidas. Já as mulheres por sua vez, sentiram-se lisonjeadas com tal gesto.

O sino soou pela última vez naquele tumultuado dia, e os os fiéis seguiram felizes até seus lares. São Chiquinho tornou-se o primeiro Santo vivo da história. Mais conhecido como padroeiro das virgens e das mulheres casadas, ou também, simplesmente como motorista pegador...opa...eu quis dizer, pregador.



Obs: Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com a vida real deve ser encarada como mera coincidência.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Os gemidos de Clara - Parte 5

Já de frente para Clara e olhando no fundo de sua divina alma, digo:

_ Sim professora, será um prazer.

Naquele momento não sabia se seria prazeroso ou não conversar com Clara, mas estava mesmo era admirado de sua postura. Clara aparentava autoritarismo, porém seu sotaque macio lhe arrancava qualquer ar de superioridade. Não conseguia ouvi-la e pensar que aquela mulher poderia fazer mal a alguém.

No caminho até sua sala não conversamos. Da mesma forma que eu demonstrava nervosismo, ela parecia inquieta. Caminhava rápido e quando me olhava, me dirigia apenas aquele olhar diagonal próprio dela. Isso de certa forma me nutria confiança, me dava margem para acreditar que minha ideia sobre a metodologia a amedrontava.

Ao chegarmos ao seu recanto epistemológico, pediu que a aguardasse. Havia uma pequena sala de espera. Um quadro na parede me chamou a atenção. Nele, uma foto de Maradona ao lado de Fidel Castro. Fiquei pensando o que despertava a admiração de Clara por estes personagens emblemáticos da história? Seria o futebol de Diego Armando que a fascinava? Ou seriam as “linhas” que este havia percorrido em sua existência que a fazia-o admirar? Seria Clara uma maníaca sexual viciada em cocaína? Ou seria ela apenas mais uma fanática torcedora argentina que nada entende de futebol? Por Fidel claro, sabia eu que o que a fascinava era sua posição frente aos americanos e sua ideologia marxista. Clara era marxista, mesmo sendo professora de um método positivista. Essa inclusive era a grande contradição em sua vida. Ela era uma marxista, divulgadora do positivismo. Alguns minutos se passaram e Clara me chama.

Entrei e sentei. Já em sua sala observo que Clara carrega em suas paredes não mais seus ídolos, mas sim sua intimidade. Havia fotos de duas belas meninas e um homem. Provavelmente seriam as filhas e o marido de Clara. Levantei para observar as belas moças, enquanto Clara fuçava algo no frigobar. Coincidências a parte, aquelas moças lembravam Clara - aquela que eu idealizara no dia anterior. Eram suas filhas. Só poderiam ser.

_ Suas filhas? - pergunto eu.

_ Si, meus amores - diz ela toda orgulhosa.

_ Tão belas quanto a mãe – retruco.

De costas para Clara e de frente para suas beldades percebo quese aproxima. Deixo-a se aproximar, quando ao pé do ouvido ouço-me dizer:

_ Você achas mesmo Alexsander?

Naquele momento toda minha epistemologia de nada vale, minha confiança se esvai, minha razão é esfacelada. Sua voz, seu sotaque, seus sussurros portenhos tão misteriosos pra mim nunca haviam sido sentidos tão próximos.

Sentindo-me um virgem com 30 anos, sem saber exatamente o que dizer, e mais ansioso que torcedor em dia de final de campeonato, de cara para ela respondo:

_ Claro, lembram muito a mãe.

Neste momento pouco mais de uma régua colegial nos separam. Tento me controlar e quando me preparo para perguntar sobre o homem da foto, ela me indaga:

_ Então Alexsander, quer dizer que não acredita no método?

Segundos tensos e eternos se passam, meu mundo naquele momento transita entre os possíveis gemidos de Clara, suas belas filhas, o possível marido e a pergunta sobre minha crença no método. Precisava responder algo, mas o quê? O que queria afinal ela com tal pergunta? Falava ela do método cartesiano? Do Kama- Sutra? Ou queria ela me mostrar apenas que método havia utilizado para conceber filhas tão esbeltas?

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Os gemidos de Clara - Parte 4

Levantei e comi algo tão leve quanto a minha serena alma matutina. No caminho até a Universidade, era novamente Clara que dominava meus pensamentos: o que ela me reservaria para aquela aula, que lições me daria? Poderia ela me ensinar algo afinal?

Cheguei à Universidade, e como de costume, depois de uma cerveja e um cigarro holandês: entrei, sentei, tirei minha ferramentas usuais da mochila e olhei para Clara. Clara não era bela no contexto geral da sala de aula. Haviam várias mulheres mais atraentes e mais sexy’s naquele recinto. Mas Clara era sim uma bela senhora. Naquele dia trajava uma saia discreta, um pouco abaixo do joelho e vestia uma blusa com um leve decote, demostrando que embora com suas quase seis décadas, ainda era uma mulher vaidosa.

Tentei deixar Clara de lado e prestar atenção na aula. Ela tentava explicar algo o método, obviamente. Porém, era péssima expositora. Você notava em Clara aquilo que ela não tinha. Clara não tinha convicção. Parecia mentir-se a si mesmo. E um professor que mente a si, não pode ser professor. Nesse ponto, ela sem querer me ensinava como um professor não deve ser. Clara era o retrato do ensino brasileiro, embora fosse argentina. Ela não conseguia prender em momento algum a atenção dos alunos, e seu sotaque que para mim servia como estimulante sexual, para eles apenas trazia o sono.

Não haviam sido decorridos dez minutos de explicação metodológica, quando sem pedir licença a indaguei. Clara se assustou. Mal eu havia chegado e já estava a interrompendo. Minha pergunta era uma “arapuca”. Perguntei se era possível misturar os métodos dialético, fenomenológico e positivista. Perguntei se era possível fazer uma “salada russa” argumentativa. Ela sem pensar respondeu:

_ Si si, claro quepode. Era o que eu precisava. Tinha armado a tocaia e ela havia caído. Sem mais nem menos continuei:

_ Pois então professora, se os métodos podem ser mesclados e nada de novo podemos criar sem cair em alguma corrente, logo, mesmo sem saber dos métodos, me enquadrarei em algum deles. Portanto, não preciso saber dos métodos, certo?”

Uma longa pausa de 10 segundos se fez naquele momento. Os alunos me olhavam, olhavam pra Clara, se entreolhavam. Clara olhava pra mim e desviava os alunos. Ela estava perdida. Sua aula havia sido destruída. Ela precisava agir, precisava dizer algo. Era a detentora do saber, ou melhor dizendo, era a detentora do método que acreditava poder-nos fazer chegar ao saber, mas que porém nada havia lhe ensinado sobre a arte de ensinar.

Como num passe de mágica e para surpresa geral, Clara diz: _ Me fez pensar Alexsander, acho que tem lógica o que dizes, vou pensar sobre o que afirmou.

Nosso diálogo parecia ter se encerrado e eu parecia ter vencido. Minha suposta vitória me fazia lembrar o alemão Schopenhauer, que dizia ainda no século XIX, que o diálogo não busca a verdade e sim apenas um vencedor. Eu me sentia vencedor, parecia ter vencido. Clara mudou de assunto, falou dos filhos, netos, maridos, viagens, só não falou mais em pesquisa metodológica.

Encerrada a aula, e quando eu, com aquele ar vitorioso, me preparava para sair e voltar ao meu lar: a surpresa. Já de costas para Clara ouço meu nome soar com odor argentino: “Alexsander”. Meu nome nunca havia tocado meus tímpanos num tom tão carinhoso, tão leve. Aquele sotaque, aquela voz macia de Clara, havia feito do meu nome uma poesia.

_ Sim? Respondi perguntando.

_ Poderia me acompanhar até a minha sala?

O medo e uma inquietação desafiadora, me dominou naquele momento. O que Clara queria comigo em sua sala? No seu ambiente particular, privado? Queria ela me chamar a atenção por tê-la interrompido? Ou me pediria desculpas por ser uma péssima professora? Queria ela saber mais sobre os meus pontos de vista sobre o método? Ou quem sabe...queria ela me mostrar como o método, ao menos no sexo é mesmo universal?

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Os gemidos de Clara - Parte 3

Fui para casa. No caminho ainda era Clara que ocupava o meu pensamento. Embora suas aulas terem sido um fracasso, eu tinha de reconhecer o seu esforço. Tudo bem, Clara não tinha o “dom” do ensino, mas por algum motivo havia optado por ser educadora. Ela deveria ser útil em algo.

Ao chegar em casa, tomei um café, comi um pão com manteiga e deitei. O sono não vinha. Se fosse um dia normal diria que era a insônia, ou ainda culparia o café pela dificuldade de hibernar. Porém sabia que era por Clara que eu não adormecia. Ela não saia da minha cabeça. Pensei que quem sabe um “descarrego”, uma homenagem a Clara me fizesse bem naquele momento. Decidi me masturbar.

Num leve exercício platônico, me elevei até o mundo das ideias, e idealizei Clara com seus 18 anos. Apesar de Clara ter se especializado em metodologia, imaginei ela sem rumo, louca por sexo, drogas e rock n’ roll. Imaginei-a de mini-saia, percorrendo as ruas de Buenos Aires, com aquele ar liberto, cheio de vida. Clara não deve ter ido ao Woodstock, mas com certeza viveu a memorável década de 60 e 70, escutando Beatles, Rolling Stones, Janis Joplin e The Doors. Deve ter feito uso de ácidos, e provavelmente foi o fracasso do “movimento paz e amor” que a havia feito tomar a decisão pela metodologia. Tudo isso, associado às loucuras daquele tempo, que só pude ver em filmes, me levou ao gozo em breves 3 minutos.

Porém, existia algo que ainda me intrigava, e diga-se, me intrigava muito. Eu não tinha a mínima ideia de como eram os gemidos de Clara. Seriam eles dotados daquele sotaque portenho? Ou os gemidos seriam universais? Iguais em qualquer parte do mundo? Era uma tarefa filosófica descobrir isso, e eu estava disposto a desvendar. Não sei que horas dormi aquela noite. Não sonhei com Clara, mas confesso que noutro dia acordei leve.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Os gemidos de Clara - Parte 2

Clara é uma bela gorda, mas deve ter sido uma bela mulher no passado. Tem olhos verdes, 1,65 cm, panturrilhas fortes e uma cintura agradável. Com certeza Clara já foi chamada de gostosa e alguém neste mundo a fez gemer como nunca. Pensei em transar com Clara, fiquei curioso pelos seus gemidos, mas preferi me masturbar pensando em como Clara deveria ser há 40 anos atrás. Clara deve ter uns 58 anos e isso me impede de desejá-la realmente, mas com 18...bem, com 18 eu provavelmente inventaria ou buscaria um método para conquistá-la.


Ainda apreciava Clara na sua essência, quando ela exclama: “Are baba”. Eu não acreditei. A sala caiu na risada. Clara parecia, além de professora uma ótima comediante. Depois da euforia, Clara volta à aula, faz a leitura de duas frases de uma lâmina exposta, e de repente o som de um celular soa na sala de aula. Os alunos se entreolham. De quem deveria ser aquele celular intrometido e irresponsável interrompendo a leitura de Clara? O celular continua a tocar. A música dele é bela, lembra um tango. Pensei que pudesse ser de um aluno puxa saco da professora argentina, que nada. Passados longos 30 segundos de Carlos Gardel, Clara exclama: "é o meu gente!" Eu não queria acreditar, mas era. O pior, é que o pior ainda estava por vir. Clara antes de atender pergunta: Posso atender? Eu quase retruco: “nãoooo...deixe terminar o tango”. Preferi o silêncio. Clara atendeu, e depois de ter resolvido seus assuntos particulares, voltou à aula.


Antes de minha atenção voltar a aula, refleti por alguns minutos sobre o “are baba”, o celular, o tango, e os gemidos de Clara. Não concluí absolutamente nada. Quando novamente prestei atenção na metodologia de Clara, adivinhem sobre o que Clara falava? Sobre a metodologia claro. Decidi perguntar a Clara se ela valorizava mais a forma ou o conteúdo. Levantei o dedo, ela não deu bola. Aqui no Brasil um dedo levantado quer dizer duas coisas: ou um pedido de atenção ou uma cerveja bem gelada. Como estava numa sala de aula acreditei que meu dedo levantado significasse um pedido de atenção. Eu juro que se na Argentina o dedo indicador numa sala de aula significa uma cerveja...bem, aí eles são mesmo superiores. Como meu dedo indicador não tinha mudado em nada o plano de aula de Clara, resolvi interromper. Foi difícil de falar com Clara. Ela é expert em olhar na diagonal. Aquele olhar em que você olha mas não olha sabem? Para Clara me dar a palavra, tive de levantar, ameacei sair. Ela me olhou e eu antes dela falar algo, perguntei: “antes do intervalo professora, pode me dizer se você acha mais importante a forma ou o conteúdo?” Senti sua garganta secar com a pergunta. Ela tomou um gole de água (acredito que era água) e de mansinho me respondeu: “olha, eu valorizo o conteúdo, mas a maioria valoriza o método”. Era o que eu precisava para sair da aula.


Saí, acendi mais um cigarro holandês e refleti pelo resto da noite em como deveriam ser o gemidos de Clara. Com certeza, muito melhor que suas aulas.

O gemidos de Clara

Entrei, sentei, e retirei minhas ferramentas acadêmicas da mochila: um caderno velho, uma caneta quase sem tinta e uma garrafa de água. Não queria estar ali, mas tinha de estar. Antes disso, para curtir aquelas horas indesejáveis, havia tomado uma cerveja e fumado um cigarro holandês. Era necessário me acalmar para suportar aquelas horas que estavam a mim destinadas. Não que eu seja um daqueles alunos avessos ao conhecimento, o problema é que a aula em questão não me atribuiria conhecimento. A aula era de Metodologia da Pesquisa, ou seja, ela ensina um método de conhecimento. Não que eu não use um método. O método, ao meu ver, nada mais é que uma forma de explicar aquilo que se conhece. Não sou contra o método, sou contra a padronização do método. Cada um tem seu método de conhecer e transmitir o que conhece. É simples. Pelo menos para mim é. Já para Clara...bem para Clara o método é quase tudo.


Clara é a professora. É uma mulher agradável, salvo o fato de ser professora de metodologia e pior que isso, ser argentina. Sim, Clara é argentina, e como sabemos, todo argentino se acha superior ao brasileiro. Dá para perceber no semblante de Clara seu ar de superioridade. Quando fala da Argentina, Clara suspira fundo, e parece respirar os ares portenhos. Por um momento, acreditei que Clara, por ser argentina, tivesse um conhecimento superior a nós “selvagens brasileiros”. Porém foi só um breve momento. Afinal, se Clara ama tanto a Argentina, o que fez com que ela caísse aqui, no velho oeste catarinense? Ora, é óbvio que foi a falta de conhecimento de Clara. Clara, provavelmente foi expulsa da Argentina pela sua intelectualidade (ou a falta dela), e só encontrou espaço aqui, na terra do traidor Índio Condá. Clara estudou bastante o método. Conseguiu mestrado e doutorado. Parou por aí pois quando teve que caminhar com as próprias pernas, não conseguiu dar dois passos sequer.


Tentei conversar com Clara. Ela não conseguiu. Pensei que pudesse ser um problema com a língua. Só poderia ser isso, afinal, se eu tenho dificuldade em entender o que Clara diz, logo, ela também deve ter dificuldade em compreender o que eu digo. O sotaque de Clara é belo, me lembra a Espanha, lugar que eu nunca fui. Fiquei imaginando como seriam os gemidos de Clara. Seriam eles carregados de um sotaque portenho? Serão os gemidos de Clara distintos dos gemidos das brasileiras?

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Homens, mulheres, o bar e as pérolas.

Houve um tempo em que esperava ansiosamente os finais de semana pelo fato deles serem os responsáveis pela maioria das festas, pelos encontros, pelas noites de orgia e pelo trago sempre bem pomposo. Não que muita coisa mudou de "ontem para hoje". Ainda adoro as festas, os encontros, as orgias e o trago, porém, um ítem a mais se adicionou a tudo isso. Percebi que são nos finais de semana que as "pérolas" surgem. E as pérolas meus amigos, podem mudar o rumo de nossas vidas.
Tenho um amigo que ao deixar de seu amor (ou ser deixado, isso não interessa) e depois de beber algumas, concluiu que: "somente gostou de suas mulheres, mas que sempre amou os seus amigos". Depois de tal pérola etílica, ele nunca mais foi o mesmo. Descobriu que as mulheres passam, mas que os amigos ficam, e isso modificou drasticamente sua existência. Ele não sofre mais de uma semana por uma mulher.

Muitas vezes não é somente da relação entre o sujeito e o álcool que surgem as pérolas. Tenho outro grande amigo que concluiu, depois de relacionar-se com uma daquelas "mulheres que gostam de fazer amor frequentemente sem pudor", que elas também têm sentimentos. Meus nobres ouvidos tiveram de escutar num domingo a tarde o maravilhoso comentário: " acreditem, até puta tem sentimento". Depois disso, ele nunca mais tratou aquelas que vendem o corpo da mesma forma. Ele jura que sexo agora é só por amor e se não for prefere mentir do que poupar palavras apaixonantes e muito carinho. Tudo pelo sentimento e pela valorização da próxima. Vejam que neste caso, não foi o álcool que mudou sua existência mas sim a busca pelo sexo fácil. Aquela "menina produto", "presa fácil", havia o sensibilizado.

Eu também, como todo ser humano, já soltei minhas pérolas. Dias atrás, depois de mais um escasso final de semana de muita masturbação e pouco sexo, ouvi algumas meninas comentarem sobre o poder feminino. Falavam elas, entre outras coisas, da supremacia do "sexo frágil" nos dias atuais. Estupefato diante de tudo aquilo e observando toda uma decepção no olhar dos meus companheiros que ali na mesa se encontravam, chamei-os de canto e disse: "Gurizada, podemos estar sofrendo, podemos passar o resto de nossa existência chorando por esses novos tempos, mas ainda vale a pena ser homem. Ainda vale a pena ser homem pelo simples fato de que com 35 anos a mulher comum, essa moralista sonhadora que hoje parece ser uma anárquica maluca, possui apenas dois caminhos: ou está casada ou está depressiva. Já homem meus caros, bem o homem, com 60 anos ainda está se masturbando como um louco, pronto para procriar e desejando os brotinhos de 18". Eles abriram um longo sorriso, pediram uma cerveja bem gelada, e me convidaram para fazer um brinde em nome da masculinidade. A vida naquela mesa de bar voltou a existir e as mulheres que ali estavam até hoje não entendem o que foi comemorado naquele brinde.

Homens têm disso, eles comemoram uma pérola como se fosse um gol, e isso porque os homens como afirmou meu amigo: "apenas gostam de suas mulheres, eles amam mesmo são seus amigos".