Vou contar uma estória prá vocês. Não sei se é verídica, mas alguns juram que ninguém teria tanta imaginação para isso.
Numa pequena cidade do interior do noroeste sul latino americano, existia um padre que, devoto de São Francisco de Assis, resolveu fazer uma festa em sua homenagem. Para lembrar São Francisco que em sua vida deixou seus bens materiais para pregar a palavra de Cristo, o devoto padre decidiu sortear o fusca da Paróquia. Era um belo gesto. Uma bela homenagem. O dinheiro da festa e do fusca, obviamente seria dirigido a obras sociais cristãs em benefício da comunidade, e o padre, como Francisco, a partir daquele dia pregaria a palavra de Deus a pé. Assim, sensibilizados com a fé e a devoção do padre diante dos valores cristãos, os fiéis se empenharam, e de mãos dadas, como num grande mutirão, se uniram para colaborar. Compraram e venderam rifas, doaram animais, fizeram tortas. Bingos antecederam o grande dia, e no dia da grande festa comemoraram muito. Comemoraram como se toda fé do padre estivesse incutida no coração de cada um. Quem fosse o ganhador do fusca pouco lhes importava. Para eles o que interessava agora era seguir o quase Santo Padre e com ele mostrar aos infiéis que um outro mundo ainda é possível. Cristo havia dito: “dê aos pobres tudo o que tens e siga-me” e era isso que o pároco estava por fazer.
Um dia após a festa, onde a chuva batia o lar parecendo divinamente querer esfriar os ânimos ainda exaltados dos cristãos, vem a terrível notícia: o padre havia sumido. Ninguém mais o tinha visto.
Onde poderia ele estar? A pé e com chuva ele não poderia estar longe. Seus amigos mais íntimos de nada sabiam. Seu celular não dava sinal. Teria ele morrido e ressuscitado como Cristo, porém em menos de 24 horas? Seria ele da linhagem de Jesus com Maria Madalena, ou seja, o parente mais próximo de Deus Nosso Senhor?
Toda comunidade se viu reunida em busca do padre perdido. Eram 16 horas e 50 minutos quando o sino tocou. Algo estranho, afinal o sino havia soado dez minutos antes do previsto. Havia missa todo dia às 18 horas e o padre jamais havia estado ausente. Alguns atentos supersticiosos religiosos pessimistas viram na soma dos números a besta simplificada, e havia lógica, afinal, a soma dava 66. Seria a besta anunciando a morte do mais novo santo e símbolo do Cristianismo?
Os nervos se acirraram, um padre vizinho é chamado para substituí-lo caso o santo padre não aparecesse. A última hora foi de apreensão. Dezoito horas e novamente o sino toca, agora no horário normal. Os fiéis entram, muitos
Eram 18 horas e 06 minutos, quando estaciona em frente à Sagrada Igreja uma Camionete. O sino interrompe a missa. Algo atípico novamente estava acontecendo. Todos olham para o padre, o padre olha pra fora. Todos olham para fora e o padre olha para o céu. O que sairia daquele belo automóvel? Todos temem o pior. Ela tinha vidros escuros, uma típica camionete de funerária, porém era vermelha, que se por um momento é um alento, faz piorar as coisas por lembrar o demônio e a anunciação da besta. De repente um menino entra na Igreja e tomando todas as atenções diz:
_Eco Eco, é ele.
_ Ele quem? - diz o padre no altar.
_ Santo Chiquinho – diz o menino.
Mal o pequeno, mas tenso diálogo se encerra, e todos vêem que o menino tem razão: era o Santo Padre. Ele desce da sua nova “carruagem vermelha” e lentamente cruza a todos em direção ao altar. Ao lá chegar, agradece e pede ao seu substituto que vá para o seu devido lugar. Já de posse do microfone celestial, pede desculpas pelo atraso e sem explicações continua a missa. No final da missa, um fiel atrevido, faz o que todos tinham vontade de fazer.
_ Com todo respeito senhor padre. Onde o senhor esteve? O que é aquela camionete vermelha? E afinal porque o sino tocou as 16 horas e 50 minutos?
E o padre calmamente responde:
_ Caros fiéis, passei minha vida andando a pé, ou de fusca como queiram. Penei muito em toda minha trajetória, e hoje não foi diferente. Saí ontem à noite embaixo de daquela chuva torrencial com uma adorável fiel que se dispôs a me levar no dia de hoje até a concessionária mais próxima. Saímos ontem para evitarmos comentários libidinosos a nosso respeito e no caminho paramos num lugar muito belo. Os vinhos custavam uma fortuna e o pão não existia. Não havendo pão e com fome tive de comer alguma coisa, mas prefiro não comentar. Foi sofrido comer só aquilo, mas foi suado, de se lambuzar. Estava delicioso, mas meu cansaço me impossibilitou de comer de novo. Hoje de manhã, acordei e tive de me enfiar numa banheira que inevitavelmente me fazia lembrar o quanto somos pecadores. Depois disso, fomos até a concessionária com o intuito de comprar essa camionete, e que, devido a burocracia veio somente ocorrer às 16 horas e 45 minutos. Quando finalizei o negócio, eufórico, pensei em ligar para minha família, porém apertei no controle remoto do sino a distância, o que fez soá-lo exatamente no horário mencionado. Mas vejam como Deus escreve certo por linhas tortas meus caros fiéis! Minha camionete custou RS 50.000,00 e possui motor 1.6, ou seja, Deus quis que ela fosse minha, e também desejou que todos vocês soubessem da minha felicidade às 16 hrs e 50 minutos, digo minutos. Essa camionete enfim, é um presente de Deus irmãos. E mais! A partir de hoje garanto a vocês que nenhuma fiel andará mais a pé. Pois se São Francisco doou sua vida a Cristo, tornando-se um andarilho pregador, eu prometo me tornar um motorista pegador, quero dizer, um motorista pregador. Darei meu corpo e minha camionete a vocês...mulheres de fé.
Os homens sem muito entender porque só as mulheres seriam beneficiadas, não indagaram o porque da preferência. Porém sentiram-se bem em saber que suas mulheres e filhas estariam protegidas. Já as mulheres por sua vez, sentiram-se lisonjeadas com tal gesto.
O sino soou pela última vez naquele tumultuado dia, e os os fiéis seguiram felizes até seus lares. São Chiquinho tornou-se o primeiro Santo vivo da história. Mais conhecido como padroeiro das virgens e das mulheres casadas, ou também, simplesmente como motorista pegador...opa...eu quis dizer, pregador.
Obs: Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com a vida real deve ser encarada como mera coincidência.