Levantei e comi algo tão leve quanto a minha serena alma matutina. No caminho até a Universidade, era novamente Clara que dominava meus pensamentos: o que ela me reservaria para aquela aula, que lições me daria? Poderia ela me ensinar algo afinal?
Cheguei à Universidade, e como de costume, depois de uma cerveja e um cigarro holandês: entrei, sentei, tirei minha ferramentas usuais da mochila e olhei para Clara. Clara não era bela no contexto geral da sala de aula. Haviam várias mulheres mais atraentes e mais sexy’s naquele recinto. Mas Clara era sim uma bela senhora. Naquele dia trajava uma saia discreta, um pouco abaixo do joelho e vestia uma blusa com um leve decote, demostrando que embora com suas quase seis décadas, ainda era uma mulher vaidosa.
Tentei deixar Clara de lado e prestar atenção na aula. Ela tentava explicar algo o método, obviamente. Porém, era péssima expositora. Você notava em Clara aquilo que ela não tinha. Clara não tinha convicção. Parecia mentir-se a si mesmo. E um professor que mente a si, não pode ser professor. Nesse ponto, ela sem querer me ensinava como um professor não deve ser. Clara era o retrato do ensino brasileiro, embora fosse argentina. Ela não conseguia prender em momento algum a atenção dos alunos, e seu sotaque que para mim servia como estimulante sexual, para eles apenas trazia o sono.
Não haviam sido decorridos dez minutos de explicação metodológica, quando sem pedir licença a indaguei. Clara se assustou. Mal eu havia chegado e já estava a interrompendo. Minha pergunta era uma “arapuca”. Perguntei se era possível misturar os métodos dialético, fenomenológico e positivista. Perguntei se era possível fazer uma “salada russa” argumentativa. Ela sem pensar respondeu:
_ Si si, claro quepode. Era o que eu precisava. Tinha armado a tocaia e ela havia caído. Sem mais nem menos continuei:
_ Pois então professora, se os métodos podem ser mesclados e nada de novo podemos criar sem cair em alguma corrente, logo, mesmo sem saber dos métodos, me enquadrarei em algum deles. Portanto, não preciso saber dos métodos, certo?”
Uma longa pausa de 10 segundos se fez naquele momento. Os alunos me olhavam, olhavam pra Clara, se entreolhavam. Clara olhava pra mim e desviava os alunos. Ela estava perdida. Sua aula havia sido destruída. Ela precisava agir, precisava dizer algo. Era a detentora do saber, ou melhor dizendo, era a detentora do método que acreditava poder-nos fazer chegar ao saber, mas que porém nada havia lhe ensinado sobre a arte de ensinar.
Como num passe de mágica e para surpresa geral, Clara diz: _ Me fez pensar Alexsander, acho que tem lógica o que dizes, vou pensar sobre o que afirmou.
Nosso diálogo parecia ter se encerrado e eu parecia ter vencido. Minha suposta vitória me fazia lembrar o alemão Schopenhauer, que dizia ainda no século XIX, que o diálogo não busca a verdade e sim apenas um vencedor. Eu me sentia vencedor, parecia ter vencido. Clara mudou de assunto, falou dos filhos, netos, maridos, viagens, só não falou mais em pesquisa metodológica.
Encerrada a aula, e quando eu, com aquele ar vitorioso, me preparava para sair e voltar ao meu lar: a surpresa. Já de costas para Clara ouço meu nome soar com odor argentino: “Alexsander”. Meu nome nunca havia tocado meus tímpanos num tom tão carinhoso, tão leve. Aquele sotaque, aquela voz macia de Clara, havia feito do meu nome uma poesia.
_ Sim? Respondi perguntando.
_ Poderia me acompanhar até a minha sala?
O medo e uma inquietação desafiadora, me dominou naquele momento. O que Clara queria comigo em sua sala? No seu ambiente particular, privado? Queria ela me chamar a atenção por tê-la interrompido? Ou me pediria desculpas por ser uma péssima professora? Queria ela saber mais sobre os meus pontos de vista sobre o método? Ou quem sabe...queria ela me mostrar como o método, ao menos no sexo é mesmo universal?
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