Clara é uma bela gorda, mas deve ter sido uma bela mulher no passado. Tem olhos verdes,
Ainda apreciava Clara na sua essência, quando ela exclama: “Are baba”. Eu não acreditei. A sala caiu na risada. Clara parecia, além de professora uma ótima comediante. Depois da euforia, Clara volta à aula, faz a leitura de duas frases de uma lâmina exposta, e de repente o som de um celular soa na sala de aula. Os alunos se entreolham. De quem deveria ser aquele celular intrometido e irresponsável interrompendo a leitura de Clara? O celular continua a tocar. A música dele é bela, lembra um tango. Pensei que pudesse ser de um aluno puxa saco da professora argentina, que nada. Passados longos 30 segundos de Carlos Gardel, Clara exclama: "é o meu gente!" Eu não queria acreditar, mas era. O pior, é que o pior ainda estava por vir. Clara antes de atender pergunta: Posso atender? Eu quase retruco: “nãoooo...deixe terminar o tango”. Preferi o silêncio. Clara atendeu, e depois de ter resolvido seus assuntos particulares, voltou à aula.
Antes de minha atenção voltar a aula, refleti por alguns minutos sobre o “are baba”, o celular, o tango, e os gemidos de Clara. Não concluí absolutamente nada. Quando novamente prestei atenção na metodologia de Clara, adivinhem sobre o que Clara falava? Sobre a metodologia claro. Decidi perguntar a Clara se ela valorizava mais a forma ou o conteúdo. Levantei o dedo, ela não deu bola. Aqui no Brasil um dedo levantado quer dizer duas coisas: ou um pedido de atenção ou uma cerveja bem gelada. Como estava numa sala de aula acreditei que meu dedo levantado significasse um pedido de atenção. Eu juro que se na Argentina o dedo indicador numa sala de aula significa uma cerveja...bem, aí eles são mesmo superiores. Como meu dedo indicador não tinha mudado em nada o plano de aula de Clara, resolvi interromper. Foi difícil de falar com Clara. Ela é expert em olhar na diagonal. Aquele olhar em que você olha mas não olha sabem? Para Clara me dar a palavra, tive de levantar, ameacei sair. Ela me olhou e eu antes dela falar algo, perguntei: “antes do intervalo professora, pode me dizer se você acha mais importante a forma ou o conteúdo?” Senti sua garganta secar com a pergunta. Ela tomou um gole de água (acredito que era água) e de mansinho me respondeu: “olha, eu valorizo o conteúdo, mas a maioria valoriza o método”. Era o que eu precisava para sair da aula.
Saí, acendi mais um cigarro holandês e refleti pelo resto da noite em como deveriam ser o gemidos de Clara. Com certeza, muito melhor que suas aulas.
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