Entrei, sentei, e retirei minhas ferramentas acadêmicas da mochila: um caderno velho, uma caneta quase sem tinta e uma garrafa de água. Não queria estar ali, mas tinha de estar. Antes disso, para curtir aquelas horas indesejáveis, havia tomado uma cerveja e fumado um cigarro holandês. Era necessário me acalmar para suportar aquelas horas que estavam a mim destinadas. Não que eu seja um daqueles alunos avessos ao conhecimento, o problema é que a aula em questão não me atribuiria conhecimento. A aula era de Metodologia da Pesquisa, ou seja, ela ensina um método de conhecimento. Não que eu não use um método. O método, ao meu ver, nada mais é que uma forma de explicar aquilo que se conhece. Não sou contra o método, sou contra a padronização do método. Cada um tem seu método de conhecer e transmitir o que conhece. É simples. Pelo menos para mim é. Já para Clara...bem para Clara o método é quase tudo.
Clara é a professora. É uma mulher agradável, salvo o fato de ser professora de metodologia e pior que isso, ser argentina. Sim, Clara é argentina, e como sabemos, todo argentino se acha superior ao brasileiro. Dá para perceber no semblante de Clara seu ar de superioridade. Quando fala da Argentina, Clara suspira fundo, e parece respirar os ares portenhos. Por um momento, acreditei que Clara, por ser argentina, tivesse um conhecimento superior a nós “selvagens brasileiros”. Porém foi só um breve momento. Afinal, se Clara ama tanto a Argentina, o que fez com que ela caísse aqui, no velho oeste catarinense? Ora, é óbvio que foi a falta de conhecimento de Clara. Clara, provavelmente foi expulsa da Argentina pela sua intelectualidade (ou a falta dela), e só encontrou espaço aqui, na terra do traidor Índio Condá. Clara estudou bastante o método. Conseguiu mestrado e doutorado. Parou por aí pois quando teve que caminhar com as próprias pernas, não conseguiu dar dois passos sequer.
Tentei conversar com Clara. Ela não conseguiu. Pensei que pudesse ser um problema com a língua. Só poderia ser isso, afinal, se eu tenho dificuldade em entender o que Clara diz, logo, ela também deve ter dificuldade em compreender o que eu digo. O sotaque de Clara é belo, me lembra a Espanha, lugar que eu nunca fui. Fiquei imaginando como seriam os gemidos de Clara. Seriam eles carregados de um sotaque portenho? Serão os gemidos de Clara distintos dos gemidos das brasileiras?
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