Já de frente para Clara e olhando no fundo de sua divina alma, digo:
_ Sim professora, será um prazer.
Naquele momento não sabia se seria prazeroso ou não conversar com Clara, mas estava mesmo era admirado de sua postura. Clara aparentava autoritarismo, porém seu sotaque macio lhe arrancava qualquer ar de superioridade. Não conseguia ouvi-la e pensar que aquela mulher poderia fazer mal a alguém.
No caminho até sua sala não conversamos. Da mesma forma que eu demonstrava nervosismo, ela parecia inquieta. Caminhava rápido e quando me olhava, me dirigia apenas aquele olhar diagonal próprio dela. Isso de certa forma me nutria confiança, me dava margem para acreditar que minha ideia sobre a metodologia a amedrontava.
Ao chegarmos ao seu recanto epistemológico, pediu que a aguardasse. Havia uma pequena sala de espera. Um quadro na parede me chamou a atenção. Nele, uma foto de Maradona ao lado de Fidel Castro. Fiquei pensando o que despertava a admiração de Clara por estes personagens emblemáticos da história? Seria o futebol de Diego Armando que a fascinava? Ou seriam as “linhas” que este havia percorrido em sua existência que a fazia-o admirar? Seria Clara uma maníaca sexual viciada em cocaína? Ou seria ela apenas mais uma fanática torcedora argentina que nada entende de futebol? Por Fidel claro, sabia eu que o que a fascinava era sua posição frente aos americanos e sua ideologia marxista. Clara era marxista, mesmo sendo professora de um método positivista. Essa inclusive era a grande contradição em sua vida. Ela era uma marxista, divulgadora do positivismo. Alguns minutos se passaram e Clara me chama.
Entrei e sentei. Já em sua sala observo que Clara carrega em suas paredes não mais seus ídolos, mas sim sua intimidade. Havia fotos de duas belas meninas e um homem. Provavelmente seriam as filhas e o marido de Clara. Levantei para observar as belas moças, enquanto Clara fuçava algo no frigobar. Coincidências a parte, aquelas moças lembravam Clara - aquela que eu idealizara no dia anterior. Eram suas filhas. Só poderiam ser.
_ Suas filhas? - pergunto eu.
_ Si, meus amores - diz ela toda orgulhosa.
_ Tão belas quanto a mãe – retruco.
De costas para Clara e de frente para suas beldades percebo quese aproxima. Deixo-a se aproximar, quando ao pé do ouvido ouço-me dizer:
_ Você achas mesmo Alexsander?
Naquele momento toda minha epistemologia de nada vale, minha confiança se esvai, minha razão é esfacelada. Sua voz, seu sotaque, seus sussurros portenhos tão misteriosos pra mim nunca haviam sido sentidos tão próximos.
Sentindo-me um virgem com 30 anos, sem saber exatamente o que dizer, e mais ansioso que torcedor em dia de final de campeonato, de cara para ela respondo:
_ Claro, lembram muito a mãe.
Neste momento pouco mais de uma régua colegial nos separam. Tento me controlar e quando me preparo para perguntar sobre o homem da foto, ela me indaga:
_ Então Alexsander, quer dizer que não acredita no método?
Segundos tensos e eternos se passam, meu mundo naquele momento transita entre os possíveis gemidos de Clara, suas belas filhas, o possível marido e a pergunta sobre minha crença no método. Precisava responder algo, mas o quê? O que queria afinal ela com tal pergunta? Falava ela do método cartesiano? Do Kama- Sutra? Ou queria ela me mostrar apenas que método havia utilizado para conceber filhas tão esbeltas?
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