sexta-feira, 28 de maio de 2010

E aí, qual sua escolha?

Adoro problemas existenciais. Mais precisamente, adoro todos os problemas que envolvam situações complicadas e que nos obrigue a escolher, ou ao menos a pensar em escolher, sobre aquilo que não gostaríamos nem de pensar em escolher.


Tenho um amigo, com um leve distúrbio sexual, que adora atormentar seus próximos com perguntas do tipo: “E aí, quanto vale seu rabinho?”, ou ainda “por quanto você me cederia sua mulher?”. A resposta geralmente rechaçada já no início pelo indagado, ganha forma quando o valor da proposta aumenta, e faz com que a resposta seja desviada para “isso nunca vai acontecer”, quando os valores chegam na casa dos milhões. Eu entendo a fuga. A moral para muitos, não permite nem pensar em certas coisas.


Eu por outro lado, gosto de desafiar a moral. Pelo menos no mundo do pensamento. Dias atrás formulei um probleminha desses quando durante um jogo de futebol, foi noticiada a morte de um torcedor. em pleno estádio. Jogos de futebol como dizia o ex-goleiro, escritor, e existencialista Albert Camus, nos ensinam muito mais sobre ética e moral do que qualquer teoria.


Assim, a pergunta que fiz a alguns torcedores foi: “Você toparia que morresse um desconhecido torcedor por jogo, para que seu time se tornasse imbatível, invencível e Campeão de Tudo?


A reação é no mínimo interessante. Alguns mais ousados disseram de cara que sim. Outros fizeram algumas questões complementares e não responderam. Por fim, teve ainda aqueles que mal ouviram a pergunta e fugiram em busca do silêncio. Seus ouvidos haviam sido feridos por aquela pergunta diabólica e era melhor nem ouvir para não pensar.


Eu estou incluso naqueles que pensaram um pouco e disseram de cara que toparia. Justifiquei dizendo que a morte é inevitável, que ninguém saberia da minha escolha e que no fim comemoraria a supremacia do meu time.


Desde já peço que não me chamem de assassino, e já respondendo a pergunta de vocês, digo que é lógico que se soubesse que alguma das pessoas mortas era um familiar ou um amigo meu, que não aceitaria a proposta.


Falo de tudo isso, para no fim deixar uma perguntinha a todos os colorados e gremistas distribuídos pelo mundão afora.


Como sabemos, o Colorado Campeão de Tudo, jamais jogou a Segunda Divisão. Ele jamais pisou num gramado para disputar uma vaga na elite. O Colorado sempre foi da elite. E isso, inevitavelmente, é tido como orgulho para todos os vermelhinhos presentes no Planeta Terra. Porém, se o Campeonato Brasileiro terminasse hoje, o Inter, do fabuloso Fossati, estaria rebaixado. O Inter estaria com os dois pés na merda se o Brasileiro se encerrasse hoje.


Com base nisso, a pergunta a ser feita a todos os colorados e estendida aos gremistas inversamente é: torcedor colorado, você trocaria ser rebaixado para comemorar novamente o Título Mundial? E você torcedor gremista, toparia ver seu eterno rival Bi Campeão do Mundo para vê-lo jogar em gramados onde ele jamais jogou?


Eu já tenho minha resposta, e vocês, poderiam me responder?

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Em tempos de anti-tabagismo...

O menino indonésio de dois anos que fuma cerca de 40 cigarros por dia já é uma provável vítima do vício em cigarros, afirmam pneumologistas ouvido pelo G1. Segundo a família de Aldi SugandaRizal, ele tem esse hábito desde os 18 meses e fica furioso quando fica sem fumar.

Segundo Oliver Nascimento, médico e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), ninguém começa a fumar tanto de uma só vez. O número de cigarros aumenta conforme o cérebro se torna dependente da nicotina.


Aldi SugandaRizal, de 2 anos, é visto fumando cigarro  enquanto brica com parentes em 23 de maio, em Sekayu, distrito de  Sumatra, na Indonésia. Segundo relatos da família, ele é viciado em  cigarro e fuma 40 por dia. Ele começou a fumar aos 18 meses, quandoAldi SugandaRizal, de 2 anos, é visto fumando cigarro enquanto brica com parentes em 23 de maio, em Sekayu, distrito de Sumatra, na Indonésia. (Foto: Barcroft / Getty Images)


"Temos receptores no cérebro à qual a nicotina se liga e libera dopamina, uma substância que gera bem-estar. A pessoa começa a fumar aos poucos, e esses setores do cérebro ávidos por nicotina começam a ficar mais numerosos", explica o médico, que também é diretor da Sociedade Paulista de Pneumologia.

A médica Elnara Negri, do hospital Sírio-Libanês, acrescenta que a dependência se manifesta mais rápido em pessoas mais novas. "Há alguns estudos mostrando que, quanto mais jovem você inicia o hábito de fumar, mais rápido você se torna dependente", diz a pneumologista.


Um em cada dois morrem


Começando a fumar tão cedo, Aldi SugandaRizal é um grande candidato a ter doenças relacionadas ao cigarro. "São raras as pessoas que fumam muito não têm problemas de saúde.

Em geral, a cada dois fumantes haverá um que morrerá por algo relacionado ao cigarro", conta Nascimento.

Segundo a médica do Sírio-Libanês, o vício precoce pode trazer mais riscos de câncer. "As chances de ele ter mutações nas células é muito maior. As doenças pulmonares também podem ser mais graves, pois o pulmão ainda está em formação", conta.


Jovens


O pneumologista da Unifesp conta que no interior do Brasil também são comuns casos de pessoas muito jovens que fumam. "Vemos crianças com 10 ou 12 anos que fumam cigarros de palha, que as pessoas pensam que não faz mal, mas não é verdade. Há até um estudo brasileiro mostrando que o cigarro de palha traz mais risco à saúde do que o cigarro comum."

De acordo com Elnara, apesar de a proporção de fumantes em relação à população estar caindo, é crescente o número de mulheres e adolescentes a partir dos 12 ou 13 anos que estão aderindo ao hábito.


Doença 'escondida'


Ainda que o pai do menino indonésio garantir que ele é saudável, o consumo de cigarros pode estar minando a saúde do garoto sem que se perceba. Além das doenças tradicionalmente relacionadas ao cigarro, como problemas cardiovasculares e o câncer, o fumo pode ir destruindo aos poucos os alvéolos pulmonares – pequenas estruturas que captam oxigênio.

A falta de ar causada pela lenta "desativação" do pulmão, nem sempre encarada com seriedade, acaba levando à Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC). O problema, que compromete para sempre a capacidade respiratória, só costuma ser detectado depois de 17 anos de seu início, revelou uma pesquisa realizada recentemente pela Unifesp com 229 brasileiros.

O Cocô do Ale

De tempos em tempos preciso fazer análises. Análises de mim mesmo, lógico. Sou meu melhor psicanalista. Já pensei em me graduar em psicanálise para tratar dos problemas dos outros. Desisti quando me falaram que todo psicanalista tem de se submeter também a psicanálise. Não quero ser tratado. Pelo menos não pelos outros.


Antes de continuar, quero pedir algumas linhas de sua nobre atenção. Assim encarecidamente, peço a você caro leitor que: “se nesse primeiro parágrafo - desse magnífico, formidável e fantástico texto – você teve, através do mundo da sua imaginação, a ousadia de pensar que estou falando mal da psicanálise ou de alguém específico: Por favor. Pare de ler esse texto.


Você deve parar de ler pelo simples fato de não saber ler. Tudo bem, você até que pode saber ler, mas, ao mesmo tempo que lê, coloca o preconceito acima das palavras. Então por favor: Pare de ler. Pare de ler para sempre se possível. Você é um perigoso ser alfabetizado.


Entendidos por aqui e livre dos analfabetos funcionais preconceituosos, continuarei agora com meu texto.


Dando motivos a minha análise, tenho de confessar a vocês, que ela se dá mais especificamente pelo fato de que passei mais de 10 dias sem escrever. Foi simplesmente terrível. Não que me faltassem motivos ou assuntos. Pensei por exemplo, em escrever sobre a violência pública, quando vi um ser indefeso, ser agredido por outro ser uniformizado; pensei em falar da população que foge de seus compromissos como cidadão, quando não recebi nenhuma dica no Espaço Construtivo criado aqui no Blog; pensei em relatar o selvagem modo que alguns patrões tratam seus funcionários, quando ouvi de domésticas, que essas recebem menos de um salário mínimo por um mês de trabalhos diários; como também pensei em escrever até sobre um papel higiênico solto numa lixeira universitária.


Foi inclusive, quando pensei em escrever sobre o papel higiênico solto na lixeira universitária, que desisti de escrever sobre todo o resto que havia pensado. Foi como se ele, o Sr Papel Higiênico, com seus diversos anos de experiências anais, me dissesse: “Não escreve que vai dar merda”. Eu tremi. Não podia ir contra o papel higiênico, afinal, ele é um “expert” no assunto. Ouso afirmar, que ninguém conhece mais a merda do que ele.


Assim, inibido por um papel higiênico, entrei em crise. Senti minha liberdade ameaçada, um covarde. Um covarde indefeso, acuado, amedrontado e impotente. Indefeso como todos aqueles que são espancados por seres uniformizados, e acuado como todas as pessoas violentadas por seus patrões e suas respectivas jornadas de trabalho mal renumeradas. Amedrontado como todo cidadão com medo de dizer porque sofre, e impotente como um papel higiênico jogado numa lixeira. Me senti, enfim, um inútil.


Dessa forma, da consciência covarde e medonha e da sensação impotente e inútil é que veio a minha força. Precisava dar a volta por cima. Precisava enfrentar o experiente papel higiênico. Era isso ou a morte.


É sempre bom lembrar, para evitar mal entendidos, que não tenho nada contra os mortos e muito menos contra a morte, afinal a morte é inevitável, e um dia também serei um morto. Porém, se não tenho nada contra a morte, tenho tudo contra a vida morta. Essa sim é desprezível. “Pior que um morto só um vivo morto”, já dizia não sei quem.


Decidi pela vida. Preferi viver, renascer das cinzas e traduzir em palavras a minha angústia. Resolvi, como disse no início do texto, fazer uma análise própria. Expeli meus medos, meus tormentos, e desabafei. Enfim, criei coragem para superar o Sr Papel Higiênico, e falar sobre o que não queria falar ou sobre o que era perigoso falar.


A vocês, que leram esse texto até o fim, não tenho absolutamente nada a dizer. Não foram vocês o meu psicanalista. Meu psicanalista foi o papel (não o higiênico), a tela, o Word, ou eu mesmo. Vocês foram meros espectadores. Meros espectadores que buscaram algo para se distrair e que conseguiram aqui encontrar algo que lhes confortassem. Vieram ouvir merda para quem sabe saírem de suas próprias fezes. Espero que consigam.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Silas e Fossati

Tem jogo do Grêmio hoje. E jogo do Inter amanhã. Grêmio e Santos na Vila. Inter e Estudiantes em La Plata. Existe algo em comum e complicações distintas para ambas as equipes gaúchas. Assim, se por um lado possuem em comum o fato de que se não levarem gol estarão classificadas, por outro, colorados e gremistas sabem que o primeiro terá problemas no campo e o segundo terá problemas fora dele.

O problema do Grêmio está centrado no fato do Santos ter marcado gols em todas as partidas que disputou este ano. Silas sabe disso. Ele sabe que não levar gol não é o mais recomendado. O recomendado é fazer gols. Silas sabe que as duas equipes são naturalmente ofensivas. Ele sabe tanto disso que não vai inventar. Não vai lutar contra a natureza. A natureza destrói quem a confronta, e o pastor Silas tem ciência disso.


Silas é humilde. É um grande admirador do trabalho de Fossati. Assiste a todos os jogos o colorado. Ele aprende com o técnico rival aquilo que não deve ser feito. Silas não tem dúvida para o jogo de hoje: vai mandar seu time para o ataque. Essa é a única forma de sair da Vila Belmiro classificado.


Por outro lado, lá na Argentina, Fossati está em dúvida. Fossati também precisa só do empate. Porém, o uruguaio é arrogante, orgulhoso e prepotente. Como disse, o problema do Inter está fora de campo. Realmente é um problemão. Fossati não sabe se entra no 3-6-1 ou no 4-4-2. Não sabe se entra com Walter, que fez dois gols na última partida, ou se deixa só o Alecssandro na banheira. Fossati, ao contrário de Silas, não assiste aos jogos do Grêmio. Não assiste porque não suporta. É muito ofensivo pra ele. Sente-se ofendido.


O maior feito do time de Fossati esse ano, foi virar a partida contra o Goiás no último domingo. O Inter levou dois, Fossati foi expulso, e sem o técnico em campo o Inter conseguiu o impensável: fazer 3 gols num só tempo.


O colorado só tem duas possibilidades de sair da Argentina classificado: a primeira é Fossati é aprender com Silas logo mais a noite, e mandar o 4-4-2 a campo. Já a segunda, mais provável, e salvadora opção, é o uruguaio ser expulso logo no início do jogo amanhã em La Plata.


Silas pode morrer hoje à noite na Vila, mas se morrer, morrerá como um verdadeiro e zeloso pastor defendo suas ovelhas. Morrerá atirando e defendendo seu patrimônio. Fossati, por outro lado, parece avesso aos tiroteios, ele prefere ir contra tudo e contra todos, unir as mãos e rezar.


Espero que Fossati aprenda com Silas. Quero o tiroteio. Não acredito em milagres.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Futebol: céu, inferno e purgatório.

O jogaço de ontem no Olímpico nos possibilita refletir um pouco sobre o futebol e suas constantes mudanças. Ele nos mostra como o futebol e a paixão por um clube pode nos levar do céu ao inferno e do inferno ao céu, por várias vezes durante uma partida de 90 minutos.


No início do jogo de ontem, o céu estava do lado azul e o inferno do lado santista. Nada é melhor que estar com sua torcida, em seu estádio, cantando gritos de guerra, e nada pior que sentir-se um anão numa terra de gigantes. O santista que entrava no Olímpico e mesmo aquele que assistia em casa pela TV, sentia-se mais ou menos como um anão, ou como um pequeno tempero no meio de uma sopa fervente num caldeirão. O santista que estava no Olímpico ontem, de corpo ou alma, sentia-se literalmente num inferno.


Porém o futebol é incrível. Ele faz com que tudo mude num piscar de olhos. Ele proporciona que o pequeno tempero estrague a sopa, que o céu se torne inferno e que o inferno seja celestial. Foi isso o que aconteceu quando o Santos fez 1 a 0.


Neste momento o céu mudava de lugar. E o inferno também. A torcida tricolor não acredita no que vê. E passa a não acreditar realmente quando o Santos faz 2 a 0. Para piorar ela vê seu time perder um pênalti e o goleiro adversário fazer milagres. Tudo parece se encaminhar para uma tragédia. Apenas a bola de Ganso, que caprichosamente beija o travessão, da um alento ao torcedor gremista. Termina o primeiro tempo e a sopa tricolor está fria. O caldeirão parece se apagar. Restam nele apenas brasas. O torcedor gremista apaixonado ainda tenta cantar, mas seu canto é ressentido. Ele não acredita no que está acontecendo. Naquele momento, um péssimo empate em 2 a 2, torna-se um ótimo resultado. A vitória é impensável.


Começa o segundo tempo e Borges aos 12 minutos assopra o braseiro. O resultado ainda é péssimo, mas já faz com que os gremistas venham a sonhar com um péssimo empate. E Borges concretiza o sonho. Ele faz mais um aos 20 e joga álcool na fogueira. O céu começa mudar novamente de lugar.


A torcida tricolor canta, sonha, delira no Olímpico. Os santistas por outro lado estão apáticos. Eles que tinham visto seu time fazer 2 a 0 em 20 minutos no primeiro tempo de 45, observam seu time levar dois gols em 20 minutos no segundo tempo. Pior que isso. Eles vêem seu time levar o terceiro aos 22 e o quarto aos 30. O torcedor gremista canta. Ele não acredita no feito. O torcedor santista desanda. Ele também não acredita no fato. O Grêmio com o resultado pode perder por um gol de diferença na Vila que estará classificado. O Santos agora precisa fazer dois em sua casa para levar a vaga.


Porém, o futebol é incrível, ele dá voltas. Aos 37, Robinho faz mais um para o Santos. E novamente o céu parece perder o azul e se movimentar para o lado preto e branco. Nesse momento os dois lados cantam. O torcedor santista vibra com a ótima derrota de 4 a 3, e o tricolor canta com a virada no placar adverso. O torcedor gremista sabe que a vitória de 4 a 3 equivale a um empate por 0 a 0. E o torcedor santista sabe que qualquer vitória o coloca na final da Copa.


O jogo termina e o resultado é o que menos importa. Nem gremistas e nem santistas saem satisfeitos. O resultado não define absolutamente nada. Ele apenas joga os dois times para um lugar intermediário. Um lugar entre o céu e o inferno. Um lugar chamado purgatório.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

A Convocação

Dunga não convocou Ronaldinho. Muito menos Ganso e Neymar. Eu queria o Ronaldinho, mas sabia de sua não convocação. Só quem não conhece o Dunga ousou acreditar no contrário. Dunga nunca foi de surpresas. Como jogador, a única coisa surpreendente que fez foi marcar o gol que livrou o Inter do rebaixamento em 1999. No mais Dunga sempre foi comum. Comum e aguerrido. Não que isso seja ruim. Ser comum e aguerrido é essencial. Principalmente para um volante.


Como técnico Dunga também foi básico, comum, aguerrido. Dunga não inventou. Foi simples e racional. Testou jogadores, deu preferência ao grupo em detrimento da técnica, e convocou aqueles, que segundo ele, podem formar a “Família Dunga”. O gaúcho de Ijuí convocou os que, como ele mesmo diz, se comprometerão com a sua causa.


Vi trechos de uma das entrevistas de Dunga. Conclui: o cara é filósofo. Filósofo pós-moderno. Fala em razão, paixão. Tenta reunir aquilo que um dia foi supostamente separado e dado como oposição. Diz que para decidir sobre os convocados usou as estatísticas e levou o grupo de vencedores. Que conhecia claro. Ele é matemático, racional, e empírico óbvio. Se Dunga tivesse vivido no começo da era moderna, provavelmente teria solucionado o impasse entre racionais e empiristas.


Dunga não convocou os melhores jogadores, longe disso. Dunga convocou sim, os jogadores que melhor se adaptam ao seu sistema e ao seu ideal de time. Dunga convocou racionalmente, os mais apaixonados. Parece contraditório, mas não é. Dunga é coerente, ético, convicto. Vai ganhar ou perder a Copa sozinho. Dunga inevitavelmente entrará para a história. Novamente é bom dizer. E novamente como vilão ou como heroi.

terça-feira, 11 de maio de 2010

A Palestra

Fui numa palestra ontem. Palestra é o evento no qual um palestrante - ou seja, um ser humano - discorre epistemologicamente sobre um determinado tema e fala sobre coisas que geralmente concordamos e já sabemos, mas que por sua vez, precisamos reafirmar. Uma palestra funciona mais ou menos como uma terapia, embora seja exatamente o seu oposto. Nunca fiz terapia, mas imagino que a terapia seja algo mais ou menos assim: você vai até um profissional da área, paga antecipadamente pela conversa, fala de seus problemas, coloca para fora suas angústias, e depois de sentir-se mais leve pela catarse, vem o psicólogo, o psicanalista, o terapeuta, o psiquiatra, ou quem quer se seja, e te diz: “muito bem, o objetivo é exatamente esse, colocar para fora e sentir-se melhor consigo mesmo. Volte daqui uma semana que reavaliaremos seu quadro.” O padre tinha esse papel na antiguidade e ainda o tem para muitas pessoas. O procedimento é quase o mesmo: você vai lá, coloca pra fora o mal que o atormenta, reza o quanto ele mandar (ou paga o dízimo em dobro), e pronto. Tudo está resolvido.


Uma palestra também é quase isso. Você paga pela palestra, e reunido com mais centenas de pessoas, ouve os dizeres de quem com você se identifica. A única diferença é que numa palestra ao invés de colocar suas angústias para fora, você coloca algo para dentro. Numa palestra, ou algo de novo é inserido em nosso saber ou que já sabemos é reafirmado.


Uma palestra serve para reafirmar antigos ideais, ou afirmar aquilo que se pensa. Ela serve para se sentir atual, e porque não dizer também, para se sentir menos culpado diante das desgraças do mundo. Numa palestra você ouve de tudo. Tudo o que se quer, e tudo o que não se quer ouvir. Claro que com a clara vantagem de guardarmos apenas aquilo que nos beneficia. Somos amantes de nós mesmos. Tudo o que condiz com nossos ideais é assimilado e tudo o que nos afeta negativamente se torna ofensivo e deve ser descartado.


Ontem por exemplo, na palestra, fiquei muito feliz quando o Frei Beto, que era o palestrante, falou sobre a Idade do Universo, da erotização infantil, e do mundo capitalista falido. Fiquei feliz porque são coisas que batem com a minha ideia, entendem?


Ele foi quase impecável em seus dizeres e cometeu apenas um pecado. Tudo bem que não foi um simples pecado. Ele cometeu um pecado grave, gravíssimo, imperdoável para quem havia falado com tanta propriedade. Seu único, mas grande pecado foi dizer, já depois dos "45 minutos do segundo tempo", que uma das formas de salvar a humanidade é através da oração. Tudo bem, ele até disse que a humanidade poderia ser salva pela educação e pela ação política cidadã. Ele até disse, mas não deu ênfase a isso.


Foi lamentável, afinal, quando tudo transcorria para que as pessoas saíssem de lá refletindo sobre suas responsabilidades diante do mundo; quando tudo se encaminhava para que as pessoas recebessem algo de novo e quem sabe colocassem-se como agentes transformadoras da sociedade, ele, o Frei, o palestrante, o dono da noite, falou da importância da oração. E aí tudo foi por água abaixo. Todas as suas informações se perderam, e as pessoas, que em sua maioria deveriam ser católicas apostólicas romanas, apenas afirmaram aquilo que já havia dentro delas.


Elas saíram de lá convictas que estavam fazendo a sua parte. Elas saíram de lá certas de que para acabar com o mal da televisão, basta tirar o filho da frente do computador, ligar a televisão no canal da Família, e sem diálogo algum com o filho, orar por essa sociedade capitalista falida.


Eu até tentei ouvir sua fala até o final, mas me doía ver aquelas senhoras balançando a cabeça positivamente cada vez que ele falava oração e família. Algumas eu ouvia dizendo : "eu faço isso". Por ora parecia que Cristo chegaria ali. Eu me afetei, me comovi e fui até recepcioná-lo. "Ele" para variar...não apareceu.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

A desobediência de D'Alessandro

O Inter se classificou, fez os dois gols que precisava e está nas quartas de final da Libertadores da América. Destaques do jogo? D’Alessandro e Fossati. Um por ter desobedecido e o outro por não ter inventado.


Só D’Alessandro inventou. Inventou e desobedeceu. D’Alessandro fez tudo o que um bom meio campo deve fazer: armou, triangulou, concluiu. Porém, o que definiu a classificação, não foi um gol do argentino, muito menos uma assistência direta dele para o gol. O que definiu o jogo foi sua criatividade, sua liderança, e sua autonomia para desobedecer o técnico.


D’Alessandro foi autônomo. Ele tomou as rédeas do time, e puxou a responsabilidade para si desde o começo do jogo. O que ninguém esperava, era que ele desobedecesse às ordens de Fossati. Mas ele desobedeceu.


Desobedeceu, porque antes do jogo, Fossati fez um pedido especial para Fabiano Eller: “não suba, não suba” disse ele. E Eller não subiu. O zagueiro lateral cumpriu todas as ordens de seu comandante. No primeiro tempo Fabiano Eller não fez uma investida sequer ao ataque. Ele ficou ali, plantado, na espera, exatamente como um bom zagueiro deve fazer. Já D’Alessandro por sua vez, brilhava no meio. Foi dele o passe magistral, para Andrezinho servir Alecssandro no primeiro gol.


O Inter fazia 1 a 0 e o primeiro tempo se encerrava. O Inter, do louco Fossati, tinha cumprido metade do seu objetivo, e precisava apenas de mais um gol nos 45 minutos restantes. Fossati estava feliz. Feliz e convicto de suas ideias.


No vestiário, pediu de novo para Eller não subir, e para o meio, sem pressa, tentar fazer o que fez no primeiro tempo, ou seja, romper a barreira argentina. Do outro lado, o Banfield tinha apenas uma tarefa: bloquear a criatividade e a troca de passes do envolvente meio campo colorado.


Começa o segundo tempo e o jogo da paciência continua. A pressão era total. Era um ataque contra a defesa, uma meia linha por assim dizer. Porém estava difícil. E foi aí, percebendo que seria difícil ultrapassar novamente a defesa argentina, que D’Alessandro desobedeceu Fossati.


Foi desobedecendo Fossati e ordenando a Eller para que este apoiasse, que nasceu o segundo gol colorado. As imagens não mostram, mas quando D’Alessandro pega a bola, ele olha para Fossati e para Eller. Eller olha para Fossati. Fossati acena que não. Eller olha para D’Alessandro e o argentino diz: “vai, vai, passa, passa”. Eller olha novamente para Fossati que contraria: “não vai não vai”. O argentino insiste, acena com o braço, implora para Eller subir.


Naquele momento o mundo caiu sobre as costas de Eller, uma decisão equivocada pode definir seu futuro no time. Apenas o triunfo no lance não acometerá sua carreira. Um mar vermelho espera por sua decisão. Eller enfim decide. Ele dá as costas a Fossati e corre por trás do seu marcador. D’Alessandro passa a bola, e Eller cruza. Um segundo de silêncio instala-se no Gigante da Padre Cacique. A bola vai...vai...vai...e...encontra Walter. E quando a bola encontra Walter, é diferente de quando Walter encontra um microfone. Walter se dá bem com a bola. Para ele, sem saber que está com a razão, o mundo é uma bola. Walter cabeceia, e faz emergir da garganta de milhões de colorados o grito de gol. É gol do Inter, é o gol da classificação. É o gol da desobediência e da confiança. Um gol que mantêm viva as chances do colorado, exatamente como em 2006, conquistar a América.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Espaço Construtivo

Fui acusado. Na verdade não sei se posso dizer que foi uma acusação. O que aconteceu foi o seguinte: o Ivan que não é anônimo e tem sobrenome, embora tenha digamos...chamado o Blog de inútil, termina seu comentário me dando uma grande ideia.


Olha o que diz o Ivan em um dos meus textos: “EU ACHO QUE VOCES SÃO TUDO FARINHA DO MESMO SACO, FICAR FAZENDO ESSES BLOGS... ESCREVER CRÍTICAS É FACIL, ANTES FOSSEM UNIR FORÇAS E INTELIGÊNCIAS QUE TEM PARA FAZER COMENTÁRIOS "TAO BEM FEITOS", PARA AJUDAR ESSE POVO QUE TANTO SOFRE. APOSTO QUE SERIAM ELOGIADOS AO INVÉS DE ODIADOS”. Vejam que, embora o Ivan acuse o Blog de apenas “criticar facilmente ao invés de fazer alguma coisa”, reconhece que o povo sofre. E sofre muito segundo ele.


Assim, se o povo sofre, sofre por alguma coisa, e se sofre por alguma coisa deve dizer sobre o que sofre. Certo? Acredito que sim né? E foi aí, despertado pelo Ivan e com os olhos voltados para o sofrimento do povo que tive a grande ideia. Percebi, pensando na minha inutilidade e no sofrimento social, que muitas vezes o povo não tem como, nem onde, nem para quem falar.


Desta forma, o povo deve ter um canal para gritar, para falar sobre os seus problemas, para dizer o que lhe incomoda ou o que lhes faz sofrer. E é pensando exatamente nisso, que inaugura-se aqui no blog, que segundo o Ivan não serve para muita coisa, o “Espaço Construtivo”.


O Espaço Construtivo vai ser um espaço, para que você leitor, diga o que está lhe incomodando. Pode ser qualquer coisa. O que interessa é que você diga, fale e mostre sua indignação. Enfim, espero que o blog se torne também um canal, um meio, uma ferramenta que dê voz ao leitor. Um espaço no qual ele se sinta a vontade para dizer aquilo que ele não diz, ou muitas vezes não tem a quem dizer.


A crítica, a revolta e a indignação de vocês, devem ser comentadas aqui mesmo no Blog, ou enviadas para o seguinte endereço de e-mail: alexsanderdevargas@yahoo.com.br


Abraço, ótima semana e boas críticas construtivas a todos.


segunda-feira, 3 de maio de 2010

As Várias Manchetes do GRENAL.

Esse texto é um exemplo. Apenas um exemplo. Não um exemplo de texto, e muito menos um exemplo de como um texto deve ser escrito. Enfim, esse texto pretende apenas exemplificar, para os que acreditam que a imprensa pode ser imparcial, que isso é impossível.


Para dar esse exemplo vou usar um acontecimento. Um acontecimento, como sabemos, é um fato. E um fato, por sua vez, é algo que aconteceu. Assim, debruçado sobre o GRENAL de ontem, colocarei algumas manchetes sobre o mesmo, para que vocês escolham a verdadeira. Aí vão elas:


GRÊMIO É CAMPEÃO GAÚCHO DE 2010.

GRÊMIO PERDE GRENAL, MAS É CAMPEÃO.

GRÊMIO PERDE MAIS UMA NO OLÍMPICO EM 2010, MAS FICA COM O TÍTULO.

INTER VENCE E PEGA BANFIELD EMBALADO.

INTER, COM TIME MISTO, VENCE GRENAL NO OLÍMPICO.

APÓS VITÓRIA E A PERDA DO TÍTULO, INTER SE ANIMA COM AS COINCIDÊNCIAS COM 2006.


Escolheram? Perceberam como o mesmo fato pode ter formas diferentes de serem noticiados? É aí que me refiro. É impossível sermos imparciais. A linguagem é um jogo de palavras onde fatos ou ficções são narrados, nada mais que isso.


Abraço, parabéns para o Grêmio Campeão Gaúcho e para o Inter vencedor do último GRENAL.