quinta-feira, 27 de maio de 2010

O Cocô do Ale

De tempos em tempos preciso fazer análises. Análises de mim mesmo, lógico. Sou meu melhor psicanalista. Já pensei em me graduar em psicanálise para tratar dos problemas dos outros. Desisti quando me falaram que todo psicanalista tem de se submeter também a psicanálise. Não quero ser tratado. Pelo menos não pelos outros.


Antes de continuar, quero pedir algumas linhas de sua nobre atenção. Assim encarecidamente, peço a você caro leitor que: “se nesse primeiro parágrafo - desse magnífico, formidável e fantástico texto – você teve, através do mundo da sua imaginação, a ousadia de pensar que estou falando mal da psicanálise ou de alguém específico: Por favor. Pare de ler esse texto.


Você deve parar de ler pelo simples fato de não saber ler. Tudo bem, você até que pode saber ler, mas, ao mesmo tempo que lê, coloca o preconceito acima das palavras. Então por favor: Pare de ler. Pare de ler para sempre se possível. Você é um perigoso ser alfabetizado.


Entendidos por aqui e livre dos analfabetos funcionais preconceituosos, continuarei agora com meu texto.


Dando motivos a minha análise, tenho de confessar a vocês, que ela se dá mais especificamente pelo fato de que passei mais de 10 dias sem escrever. Foi simplesmente terrível. Não que me faltassem motivos ou assuntos. Pensei por exemplo, em escrever sobre a violência pública, quando vi um ser indefeso, ser agredido por outro ser uniformizado; pensei em falar da população que foge de seus compromissos como cidadão, quando não recebi nenhuma dica no Espaço Construtivo criado aqui no Blog; pensei em relatar o selvagem modo que alguns patrões tratam seus funcionários, quando ouvi de domésticas, que essas recebem menos de um salário mínimo por um mês de trabalhos diários; como também pensei em escrever até sobre um papel higiênico solto numa lixeira universitária.


Foi inclusive, quando pensei em escrever sobre o papel higiênico solto na lixeira universitária, que desisti de escrever sobre todo o resto que havia pensado. Foi como se ele, o Sr Papel Higiênico, com seus diversos anos de experiências anais, me dissesse: “Não escreve que vai dar merda”. Eu tremi. Não podia ir contra o papel higiênico, afinal, ele é um “expert” no assunto. Ouso afirmar, que ninguém conhece mais a merda do que ele.


Assim, inibido por um papel higiênico, entrei em crise. Senti minha liberdade ameaçada, um covarde. Um covarde indefeso, acuado, amedrontado e impotente. Indefeso como todos aqueles que são espancados por seres uniformizados, e acuado como todas as pessoas violentadas por seus patrões e suas respectivas jornadas de trabalho mal renumeradas. Amedrontado como todo cidadão com medo de dizer porque sofre, e impotente como um papel higiênico jogado numa lixeira. Me senti, enfim, um inútil.


Dessa forma, da consciência covarde e medonha e da sensação impotente e inútil é que veio a minha força. Precisava dar a volta por cima. Precisava enfrentar o experiente papel higiênico. Era isso ou a morte.


É sempre bom lembrar, para evitar mal entendidos, que não tenho nada contra os mortos e muito menos contra a morte, afinal a morte é inevitável, e um dia também serei um morto. Porém, se não tenho nada contra a morte, tenho tudo contra a vida morta. Essa sim é desprezível. “Pior que um morto só um vivo morto”, já dizia não sei quem.


Decidi pela vida. Preferi viver, renascer das cinzas e traduzir em palavras a minha angústia. Resolvi, como disse no início do texto, fazer uma análise própria. Expeli meus medos, meus tormentos, e desabafei. Enfim, criei coragem para superar o Sr Papel Higiênico, e falar sobre o que não queria falar ou sobre o que era perigoso falar.


A vocês, que leram esse texto até o fim, não tenho absolutamente nada a dizer. Não foram vocês o meu psicanalista. Meu psicanalista foi o papel (não o higiênico), a tela, o Word, ou eu mesmo. Vocês foram meros espectadores. Meros espectadores que buscaram algo para se distrair e que conseguiram aqui encontrar algo que lhes confortassem. Vieram ouvir merda para quem sabe saírem de suas próprias fezes. Espero que consigam.

Um comentário:

Anônimo disse...

Obrigado por Blog intiresny