segunda-feira, 21 de junho de 2010

Meu amigo José.

Na última sexta feira, dia 18, perdi um grande amigo. Um amigo distante. Morava em Portugal e morreu com oitenta e sete anos. Falo de José Saramago.


Na vida acumulamos vários tipos de amigos. O Orkut que nos diga. Eu e Saramago, no caso, fomos amigos de ideias. Companheiros de ideais. Compartilhamos dos mesmos princípios. Temos a mesma classe de desafetos.


Saramago escreveu vários livros. Não li nenhum. Não sei exatamente porque não li Saramago, mas provavelmente porque falamos da mesma coisa. Ler o único português ganhador do prêmio Nobel de Literartura seria como buscar afirmação, auto me elogiar. As poucas linhas que li dele, em seu blog, me deixam claro isso. Ler Saramago não me traria algo de novo, a não ser companhia. Saramago é meu amigo famoso. Ele fala por mim. Acreditamos na mesma coisa. Somos ateus e filósofos. Além disso, temos o comunismo como ideal e um blog para nos comunicar. Acreditamos enfim, sem nunca termos dialogado, que os grandes males da sociedade estão enraizados no capitalismo, nas instituições religiosas, e na conseqüente falta de filosofia e de reflexão.


Hoje não vou falar. Vou deixar Saramago falar por mim. São frases fortes. Pensamentos inquietantes e provocativos. São linhas traçadas que inevitavelmente nos levam a reflexão, ou se preferirem, que nos direcionam aquilo que tanto Saramago, quanto eu, achamos que falta na sociedade, ou seja: pensar e agir filosoficamente.


Saramago é pessimista quando observa a sociedade. Segundo ele, “o fracasso do capitalismo financeiro, hoje tão óbvio, deveria ajudar-nos na defesa da dignidade humana acima de tudo”. Porém, parece que cada vez mais “nós estamos a assistir ao que chamaria de morte do cidadão e, no seu lugar, o que temos, e cada vez mais, é o cliente. Agora já ninguém te pergunta o que pensas, agora perguntam-te que marca de carro, de roupa, de gravata tens, quanto ganhas…”.


Já sobre as instituições religiosas e suas contradições, o português, que nunca teve medo de falar, é contundente: “não suporto ver os senhores cardeais e os senhores bispos trajados com um luxo que escandalizaria o pobre Jesus de Nazaré. Dizem-se representantes de Deus na terra e passeiam-se pelo mundo suando hipocrisia por todos os poros”.


E por fim, mesmo descrente num mundo melhor, em seu último suspiro, e como que resumindo toda sua obra e seu objetivo como escritor, ele nos dá a receita para o mundo. Ele aponta o caminho que deveríamos seguir. “Acho que na sociedade atual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método de reflexão, que pode não ter um objetivo determinado, como a ciência, que avança para satisfazer objetivos. Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem ideias, não vamos a parte nenhuma”. Saramago morreu, se foi, já era. Porém, suas ideias e seus amigos continuarão por aí, denunciando os males e sonhando com um mundo melhor.


Para conferir o blog de José Saramago e mais algumas de suas ideias, acesse: http://caderno.josesaramago.org/


Abraço e boa reflexão a todos.

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