terça-feira, 31 de agosto de 2010

Um Viva a Vida Mentirosa de Cada Um.


Sempre fui um mentiroso. Não que eu tivesse consciência disso. Descobri isso nesse último mês. Minha vida foi sempre uma mentira. Uma mentira construída dentro de outra grande mentira. Digo isso, pois morri no último mês. Morri e renasci.

Para quem nunca morreu, posso dizer: morrer faz bem. A morte nos liberta. Nos tira aquele peso da história das costas. Não que ela nos deixe vazio, sem nenhum fardo para carregar, mas ela nos fornece novas bases, novas estruturas e novos mecanismos para a construção de uma inédita existência. A morte nos livra de uma mentira para que possamos construir outra. 

Alguns dizem que lutamos por uma verdade. Mais uma mentira. Ninguém vive por uma verdade, mas todos vivem por uma mentira pessoal, cujo objetivo último é transformá-la em verdade universal. Enfim, vivemos para mentir. 

E só mentimos por reconhecimento. Não interessa qual. Pode ser através da Igreja, dos cargos públicos. Através da música, da política, e até do futebol. Onde quer que eu ou você estejamos, o que queremos é reconhecimento. Tudo uma grande mentira. Necessária mentira, obviamente. É a mentira a forma que encontramos para suportar a existência e é ela que nos dá status social. Quanto mais mentiroso, mais popular. Basta ver a política e nossas personalidades famosas.

Não digo isso da boca pra fora. Falo sério. Mesmo esse texto que escrevo agora para vocês, carece de reconhecimento. Quero ser visto, falado. Beatificado por uns e amaldiçoado por outros. Escolhi a escrita pra isso. É nela que apareço e que faço a diferença. Pelo menos pra mim.

É lógico que não era minha primeira escolha ser filósofo, blogueiro e ativista político. Se fosse para escolher, seria jogador de futebol, jogaria no Inter e me dedicaria ao clube o resto dos meus dias. Porém, as pernas e o cérebro não conseguiram se entender para fazer do Ale da Sissi uma espécie de D’Alessandro. E assim me restou apenas torcer para o Inter. E digo a vocês: torci muito. Torci, sofri e morri com o Inter. Inclusive, foi o Inter que me matou.

Na minha vida passada de torcedor, não lembro de um só dia em que senti algo parecido com o que sinto agora. Nesse admirável mundo novo, aqui "acima" do céu azul, apenas vejo o Sol, que por sinal também é vermelho. O mundo aqui é vermelho, e isso é uma beleza. Sinto-me definitivamente em casa, e dessa vida não quero mais sair.

Do inferno que vivi quando estive aí com vocês, muitas coisas ruins vocês me ensinaram. Foi o mal exemplo de vocês que estimularam minhas rebeliões políticas, e foram as crenças incutidas sobre o seu Deus que me estimularam a não mais acreditar Nele. É lógico que mentia para vocês quando dizia que Deus não existia. Deus existe, mas nem preciso dizer que não é essa mentira que vocês inventaram. Deus é poder, é estar acima dos outros. É ver-se acima de todos. Deus enfim, é o reconhecimento quase unânime de que sua mentira é uma verdade absoluta.

Em resumo, minha vida mentirosa foi inventada por mim para suprir uma vida repleta de desgraças futebolísticas. Foram as desgraças no futebol que fizeram-me desafiar Deus, o Diabo e qualquer outra mentira. Criei mentiras para combater outras. Era isso que me fazia viver aí. Era isso que me mantinha respirando. Escrevi, movimentei, agitei, torci e morri. Como disse, o Inter me assassinou. Mandou-me dessa para uma melhor. E nesse novo universo vermelho, o mundo político e as verdades metafísicas não fazem mais sentido. Até a Filosofia que eu tanto amava perdeu a graça.

Posso um dia, se para outro mundo for enviado, voltar a sonhar e a mentir para mim que outro mundo é possível. Mas no momento, só quero curtir. Tive problemas demais na minha vida passada e sinceramente espero nunca mais tê-los de volta. 

Um viva a vida, ao Inter, e a mentira que cada um carrega.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

A nova ordem do futebol gaúcho


Meu último “post” - é assim que se chama um texto real publicado no mundo virtual – causou polêmica. Não no mundo virtual - que como podem perceber não obteve nenhum comentário sobre o assunto – mas no mundo real. Eu fico feliz lógico. Já disse a vocês que adoro uma polêmica. Gosto da polêmica porque ela nos faz odiar, amar, defender um ponto de vista e às vezes até concluir algo sobre o assunto. Enfim, gosto da polêmica porque ela movimenta o pensamento e perturba a mente.  

A polêmica da vez é a respeito do “respeito”. Meus jovens amigos gremistas, que respeito muito, sentiram-se ofendidos por eu afirmar que agora “apenas devo respeito para com tricolores gaúchos com mais de 35 anos de idade”. E eles estão com a razão. Literalmente errei. Não me fiz claro. Usei a palavra errada, ou deixei de usar as palavras corretas, para explicar o que queria dizer. No caso, errei em não me referir a que tipo de “respeito” estava me referindo.

Mas vamos à origem da polêmica:

Como sabemos, na última quarta-feira, o Sport Clube Internacional, conquistou pela segunda vez a Taça Libertadores da América. E o que tem isso de tão importante? A princípio nada, afinal foi apenas mais um título importante na história de um clube importante. Porém, mas, não obstante, e apesar de, o título de quarta feira reconfigura novamente o futebol gaúcho. Ele troca novamente de lugar os protagonistas.

O título de quarta recoloca o colorado no topo da eterna discussão entre colorados e gremistas e faz com que pela primeira vez, depois de 27 anos, um colorado possa sair às ruas sem medo algum de encontrar um fanático gremista pronto para discutir. E eis o ponto no qual entra o “respeito” no qual me referi.

O respeito, com o título da última quarta, mudou de lado. E o respeito que falo, refere-se ao mesmo respeito (ou desrespeito), que os gremistas tiveram pela massa vermelha nos últimos 27 anos.

Explico:

Depois de 1983, com a conquista do continente e do mundo por parte do Grêmio, colorado algum do universo, conseguia dialogar com um gremista. Desde aquela maldita conquista gremista no distante ano de 1983 diante do Penarol, que de nada adiantava o torcedor colorado ser três vezes campeão brasileiro, ser mais vezes campeão gaúcho e ter vencido um maior número de grenais. Todos os argumentos colorados iam por água abaixo numa só frase tricolor: ”quando levantarem a América e o Mundo retorne a falar comigo”. Não havia discussão, não havia respeito pela história colorada, mas havia sim, humilhantes deboches, constantes comentários desrespeitosos e malditas falas menosprezando a massa colorada. Cantos gremistas se referiam ao colorado como “aquele que nunca ganhou de ninguém”. As coisas que já eram terríveis para o torcedor colorado, pioraram muito em 1995, quando o Grêmio viria a conquistar pela segunda vez o título continental. Para os colorados era a ruína, a desgraça total e a certeza de que essa gangorra jamais mudaria de lado. Já para os gremistas, o título soava como uma confirmação de sua grandiosidade e o absoluto domínio sobre o rival. Nem o mais fanático colorado imaginaria que 15 anos depois estaria à frente do rival, e nem o gremista mais pessimista apostaria numa reviravolta.  Porém, o futebol é incrível. Ele é dinâmico - já dizia não sei quem.

E tudo começou a mudar em 2006. Tudo mesmo, afinal o Inter ali começava a conquistar tudo. Porém, mesmo assim, depois de conquistar tudo, ao discutir com um torcedor do tricolor gaúcho, o colorado ainda ouvia a assombrosa e soberba voz tricolor que dizia: “quando vocês erguerem duas Taças Libertadores retorne a falar comigo”.  O torcedor vermelho sentia o golpe, dizia ser campeão de tudo, mas de nada adiantava. O parâmetro, a base de análise para a discussão com um gremista era outro. O tricolor gremista continuava soberbo, arrogante e autoritário em seu discurso. Não todos claro, apenas a maioria. E foi isso que mudou na última quarta feira.    
   
Na última quarta o gremista teve (“zagalamente” falando) de engolir o colorado. Engoliu e teve indigestão é bom dizer. A partir da última quarta novamente o maior clube do Rio Grande é o Internacional. É ele que possui todos os títulos internacionais possíveis. É ele que tem quase tudo o que o Grêmio possui (não queremos nos igualar ao rival, afinal não queremos a Segundona), além de ter mais títulos gaúchos, mais campeonatos brasileiros, e mais grenais vencidos. Gremistas podem ainda se vangloriar de terem vencido mais vezes a Copas do Brasil e de terem a maior torcida do Estado, mas isso, como eles mesmos afirmaram por mais de 20 anos, vale muito pouco e não nos serve como base para a discussão.

É lógico que muitos jovens gremistas já nasceram Campeões ou Bicampeões da América. Mas temos de concordar que entre nascer campeão e ter a sensação de experenciar a conquista há uma gritante diferença.

Enfim e para concluir, quero deixar claro aqui, que quando me referi que só respeito gremistas com mais de 35 anos, não me referi ao respeito humano que devemos ter uns com os outros, mas sim, quis dizer que apenas gremistas que hoje estão entre seus 30 e 40 anos de idade podem dizer que viram e sentiram o que nós colorados vimos nos últimos cinco anos. Apenas eles viram seu clube de coração ganhar duas vezes a América, e somente eles sabem o que é realmente ter essa sensação. Só esses gremistas sabem do que estou falando, e os respeito muito por isso. Aos outros...bem...aos outros resta discutirmos futebol, história, supremacia de um sobre outro definindo anteriormente os devidos parâmetros, e não a sensação de ser ou não campeão.

Abraço a todos e muito respeito com o novo mandante do futebol estadual. Ele já ganhou Tudo e pode ganhar tudo de novo.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Um campeão sem palavras.

Eu gostaria e muito, de dizer a vocês o que estou sentindo. Mas é impossível. Existem coisas que as palavras não conseguem expressar. Elas não abarcam a totalidade da sensação.

Como poderia eu transmitir em palavras todo um dia de sonho que vivi na carne? De traduzir a vocês a ansiedade pré jogo, a angústia do gol sofrido, a virada no segundo tempo, a vitória e a glória de erguer mais uma vez o maior título do continente? Como poderia descrever a festa que fiz entre a Cidade Baixa, o Beira Rio e a Goethe? Enfim, como poderia resumir em um texto, em linhas transcritas racionalmente, a sensação, de pela primeira vez presenciar, em pleno Beira Rio e em meio a Guarda Popular, meu Colorado ser campeão?

Não, isso não é possível. Seria muita soberba e arrogância minha acreditar que símbolos e signos fossem capaz disso. Não são as palavras que podem dizer algo sobre o que vivi. Não são elas que podem falar. Sei que todos os colorados do mundo me compreendem. E aqui ébom dizer, não só os colorados.

Santistas com mais de 55 anos sabem do que falo. Cruzeirenses com mais de 40 também. Até os gremistas na faixa dos 35, e os são paulinos de 25 anos me entendem. Estes, como nós colorados, viram seus clubes chegar ao topo da América e compreendem meu sentimento presente. Para estes devo todo o meu respeito, e para toda nação colorada dou os meus parabéns.


"Celso Roth somos todos nós" por Juremir Machado da Silva

Foi a vitória de Celso. O triunfo de Roth. Houve um tempo, confesso, em que eu não gostava dele. Achava-o retranqueiro. Mudei. Ele também mudou. Estou feliz por ter vencido meus preconceitos antes da conquista deste bi da Libertadores da América. Quando Celso foi contratado para esta reta final, eu declarei meu total apoio a ele. No programa "Bom-Dia", da Rádio Guaíba, Rogério Mendelski e eu o acolhemos com entusiasmo. Descobrimos um cara do bem, dedicado à família, orgulhoso da filha estudante de filosofia e do filho que trabalha no Tecnopuc. Eu admiro os perseverantes, aqueles que dão a volta por cima, que navegam contra as marés e modas e vencem depois de declarados mortos e enterrados. Celso é um sobrevivente. Passou do clube dos perdedores para o dos vencedores.

Flaubert, um dos maiores escritores de todos os tempos, disse de sua mais famosa personagem: "Madame Bovary sou eu". Quando compreendi, enfim, Celso Roth, passei a me identificar com ele. Atrevo-me a dizer: Celso Roth sou eu. Somos todos Celso Roth. Todos nós que batalhamos, sonhamos, acreditamos, temos talento e, volta e meia, enfrentamos a descrença e o desprezo. Celso conquistou a América. Vai conquistar o mundo. Somos todos Celso Roth. Todos nós que não desistimos, criamos, sorrimos e, nos momentos difíceis, explodimos, brigamos, esperneamos e aceitamos nos tornar motivo de chacota. Celso Roth somos nós, acusados de ressentimento, de grossura, de ruindade e de falta de sofisticação. Nós que amamos a vida, as diferenças, os outros e jamais cultuamos a amargura. Celso é um generoso que precisa, volta e meia, vestir uma armadura para resistir a tudo.

Celso, como diriam os franceses, é um revenant. Voltou do fundo do poço para subir ao cume, saiu da condição de azarado para a de homem que fez tudo certo. Conheceu os subterrâneos. Agora, respira o ar das montanhas. Escalou bem, trocou no momento preciso, ousou e venceu. Nada mais maravilhoso do que ver o Internacional ganhar com gols de um corajoso e baleado Rafael Sóbis, outro do inimaginável e humilde Leandro Damião e, por fim, um golaço do batalhador e quase sempre brilhante Giuliano. Já fomos todos Gabiru. Hoje somos Damião, Giuliano e, principalmente, Roth. Enviarei a Celso minha "Trilogia de Palomas" como um símbolo, a marca de alguém que aprendeu a admirá-lo ao perceber que se tratava de um conquistador. Celso será novamente criticado. Enfrentará poderosos inimigos. Tentarão desqualificá-lo. É destino de todos nós, os Celso Roth.

Nada, porém, poderá desfazer sua imensa conquista, fruto do seu talento incomensurável. Celso é um maldito como Charles Baudelaire, Jean-Arthur Rimbaud, Michel Houellebecq e eu. Será amado e odiado. Jamais será esquecido. Somos todos Celso Roth, nós os conquistadores pelo trabalho árduo, nós, os excluídos da cultura fashion, aqueles que, para usar a expressão do professor Aníbal Damasceno, sofrem de "feiura de pajé". Celso, agora, brilha por nós no panteão da superação. Que sirvam suas façanhas de modelo a todos que apostam sempre na própria arte, contra tudo e contra todos. Obrigado, Celso.


Juremir Machado da Silva
Alinhar à direita

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Eu e o Wianey.

Ontem a tarde bati um papo rápido com o Wianey. Para quem não sabe, o Wianey é comentarista da Rádio Gaúcha e colunista esportivo do Jornal Zero Hora. O papo foi pelo twitter, que também para quem não sabe, é uma ferramenta que nos possibilita trocar ideias com qualquer pessoa, desde que tais ideias não ultrapassem 140 caracteres, e que ambas as pessoas façam parte do mundo “twitteriano”. Em outras palavras, o twitter é a forma mais fácil de trocarmos algumas palavras com as pessoas que admiramos e não temos contato.


Introduções e explicações a parte, a questão é que o Wianey se queixou no twitter. Disse que não agüenta mais ser chamado de gremista pelos colorados, e de colorado pelos gremistas.


Eu, obviamente, acho que o Wianey é gremista, mas segundo ele, ele não torce para ninguém. Wianey inclusive pediu que seus seguidores, ou amigos de twitter, lhe dessem um motivo para que ele fosse gremista ou colorado. Eu dei um motivo para o Wianey. E foi ai que iniciou nosso breve diálogo.


Minha explicação foi simples e objetiva, disse que antes de comentarista ele era um ser humano, apaixonado pelo futebol, e que para ser apaixonado pelo futebol, deveria ao menos, na sua infância, ter torcido por algum clube. Wianey respondeu, disse que isso não era uma regra e que não compartilhava da minha ideia. Segundo ele, sua infância foi afastada do mundo futebolístico, circunstância essa que fez com que crescesse sem paixão por clube algum.


Eu não acreditei, falei para ele pensar no assunto e ele respondeu que não tinha o que pensar. Por fim dei a ideia para ele escrever um texto sobre nossa pendenga e encerramos a conversa.

Não sei se Wianey pensou ou não, muito menos se escreveu algo sobre. Porém, mesmo não acreditando que ele tenha crescido sem clube, tentei entendê-lo. Perguntei-me: não poderia Wianey Carlet falar de futebol racionalmente, sem estar preso a clube algum, da mesma forma que um ateu fala sobre a religião sem estar preso a crença alguma?


Assim, fazendo uma comparação entre futebol e religião, concluí que a relação de Wianey com o futebol é a mesma que os ateus possuem com a religião. Wianey não tem clube preferido, encara o futebol racionalmente, e provavelmente acha uma bobagem o fanatismo do torcedor. Os ateus, no caso, também não pertencem a seita religiosa alguma, encaram a religião racionalmente e acham uma grande falta de reflexão o fanatismo religioso.


Ainda acredito que Wianey tem seu clube preferido, mas como ateu que sou, e dentro da minha respeitosa racionalidade, devo respeitar suas palavras. Wianey se posiciona diante do futebol, exatamente como os ateus se portam perante a religião: sem amarras, sem paixão e com muita razão. E isso realmente é possível. Podem acreditar em mim. E no Wianey claro.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

As últimas palavras de Lírio ao Ale

Alexsander: De minha parte, me permita incluí-lo em minhas pobres preces! Abraços do Lirio.

As últimas palavras do Ale ao Lírio.

Olá Lírio. Sinceramente estou confuso. Não entendi os e-mails "powerpointianos" que você me enviou. No primeiro, que fala de Einsten, você justifica o seu Deus com o Deus de Einsten. Mas pergunto: será que vocês falam do mesmo Deus? Poderia o Pai da Teoria da Relatividade crer em algo Absoluto?

Já no segundo e-mail, o do Bono Vox, me causou surpresa verificar que o vocalistra do U2 assina por Deus. Seria ele o novo messias? Alguém que além de falar por Deus também assina por Ele?
Como disse estou confuso, mas pelo que percebo o senhor não quer mais dialogar sobre o assunto.

Nada que me surpreenda, afinal faz parte da crença cristã não discutir a verdade. Abraços sinceros e decepcionados, Alexsander.

O encerramento do díálogo por parte do Lírio.

Sr. Alexsander: Me senti prestigiado pela atenção dada às minhas colunas e aos e-mails. Lamento se não tive competência para arrazoar com V. S. Minhas convicções, são para mim sagradas e jamais abriria mão. Certamente, o Sr. fará o mesmo. Penso, então, que chegamos a um impasse. Repasso alguns e-mails, que me enviaram. Se tiver tempo, ponha os olhos nele. Do contrário, é fácil, delete-os. Com sinceridade e admiração. Lirio.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A "quádrupla", a continuação, ou a sequência do diálogo entre Ale e Lírio

Olá, primeiramente gostaria de me desculpar se não fui claro, mas já respondendo suas primeiras questões, preocupo-me sim, com algumas colocações de seus escritos. Porém, não me preocupo em o senhor abordar o tema “Religião”, mas sim no fato do senhor pregar a doutrina cristã em suas palavras.


Respondendo sua segunda questão, é lógico que sou contra que o senhor baseie seus escritos na Bíblia. Veja que não sou contra que o senhor siga a Bíblia ou a religião cristã. Porém, devemos concordar que quem escreve (e escreve para as mais diferentes pessoas) deve buscar a verdade racionalmente e não com base na fé. Aqui, estamos diante da mesma questão que acomete o ensino religioso nas escolas. Sou contra o ensino religioso nas escolas? Lógico que não. Agora: sou contra o exclusivo ensino religioso cristão nos estabelecimentos de ensino? É lógico que sim.


Continuando, que bom que o senhor tem sua consciência tranqüila. Sim, é isso que realmente importa. Pecado? Não existe pecado e punições externas. Existe sim como o senhor mesmo coloca “CONSCIÊNCIA”, e essa nos pune na vida mesmo, no dia a dia, e não no “Além”. Por outro lado, se acreditasse em pecado diria que o senhor peca quando diz no final de seu texto que os aborígenes não têm religião e nem cultura. Sinceramente me arrepiei quando li isso.


Com relação ao seu questionamento sobre onde o senhor erra em propagar a sua religião, posso dizer que seu erro está exatamente em não respeitar todas as outras formas de religião em seus escritos. Seu erro está, por exemplo, em menosprezar os ateus, dizendo que eles acreditam em Deus (acredito que você se refira a esse Deus como sendo o Deus Cristão), e também como no texto que acabo de ler, no fato de se referir a cultura aborígene como um povo sem cultura, e pior, sem religião. Como sem religião se o senhor mesmo afirmou que ela é “natural a todos os seres humanos?” Não seriam os aborígenes humanos?


Já sobre a falta de associarmos o conhecimento a prática, concordo plenamente contigo. É exatamente na discordância entre o discurso e a prática que estão nossos maiores problemas. Não é por acaso que Nietzsche diz que só existiu um cristão e que esse morreu na cruz né?


Em referência as estrelas e toda imensidão do universo, já expliquei no meu outro escrito que esse é um problema sem solução e que nenhum ser humano vai conseguir decifrar. É muita pretensão humana querer saber tudo sobre o universo, como também é muita arrogância do ser humano acreditar que um ser a sua imagem e semelhança tudo criou. Com relação a Galileu, Einstein, entre outros, não preciso lembrar que Galileu teve que negar suas verdades para não ser “mais um” morto pela “verdade” da “Santa Igreja” e que Eisnten não acreditava no Deus Cristão, e sim em algo (quer chamar de Deus tudo bem), que regia o universo e não os homens. Ou como ele mesmo diz: “Acredito no Deus de Espinosa, revelado na harmonia de tudo o que existe, mas não em um Deus que se preocupa com o destino e as ações dos homens." Ou ainda, sobre a ética dos homens, dia o grandioso Albert: “O comportamento ético dos homens deve se basear na simpatia, educação e nos laços sociais; não é necessário base religiosa. Os homens estariam em péssima situação se tivessem que ser controlados pelo medo de punição [divina] ou pela esperança de salvação após a morte."


Voltando ao seu texto, concordo com o senhor, quando diz que não devemos colocar goela abaixo nossas convicções. Inclusive é exatamente isso que me leva escrever ao senhor, e também é isso que me faz ser, por exemplo, contrário ao batismo de crianças indefesas, como também ser contrário a presença de símbolos religiosos em estabelecimentos públicos. Quanto aos seus escritos, não posso interferir no que o senhor escreve, afinal são seus escritos. Porém, já que concordamos que religião cada um tem a sua, pergunto: qual é a necessidade que o senhor tem em externar a sua verdade, se concorda que cada um possui a sua? Assim, sugiro ter cuidado com o que escreve para não ofender aqueles que não seguem a sua religião. Já imaginou o que os fiéis cristãos, que o lêem religiosamente e que o senhor mesmo define como não estudiosos da religião, estão falando e pensando dos ateus depois de ler seus escritos? Que tal um pedido de desculpas? Seria muito legal.


Por fim você deve estar se perguntado o que eu gostaria que o senhor fizesse não é? Pois bem, gostaria somente que respeitasse os ateus e todos aqueles que buscam, cada um a sua maneira, se religar com o universo. Gostaria que falasse da religião num todo e não de uma parte dela, e também gostaria que respeitasse a cultura e a religião dos “analfas aborígenes”. Eles são seres humanos, pode acreditar nisso. Abraço, Alexsander.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

A tréplica do Lírio.

Sr. Alexsander: Foi nostálgico saber que lecionei para o seu Pai. Hoje, confesso, fui um professor incompleto. 'Matei' muitas aulas. Rezo seguido pelos meus ex-alunos, que Deus colocou em minhas mãos, e não os eduquei devidamente. Agradeço a atenção dispensada. Não pretendendo polemizar e respeitando opiniões (quando um PT concordaria com um PSDB?) conclui­ duas coisas do seu arrazoado: Primeiro, o Sr. se preocupa deveras que eu pretenda espargir Religião em meus escritos? Ou, o Sr. teria algo contra em eu fundamentar meus escritos na Bí­blia? Preferiria, talvez que eu os balizasse em outras filosofias, que não a aristotélica-tomista? Confesso que não entendi bem, nas suas entrelinhas, esta sua subretância virulância contra a minha linha de pensamento.

Deus me livre, não ouso me apresentar como padrão de comportamento. Mas dentro de minhas limitações, PROCURO ser um bom cidadão, bom pai de famí­lia, bom empresário, bom cristão. Busco aquilo que, no meu entender, é o correto. Qual o meu pecado?

Segundo: O Sr. escreveu que "Religião, cada um tenha a sua e faça-a"... Ótimo! Concordamos. Que cada um tenha a sua. Dentro desta lógica, onde erro em eu ter a minha, defenda-la, espraiá-la (no dizer do Governador), torná-la conhecida? Se alguém é getulista ferrenho, quanto mais estudar Getúlio mais fanático ficará. E o ideal, seria que houvesse concordância entre o conhecimento e a prática da Religião. Este é o MAGNO problema. Não se vive o que se prega. Mas aí­, é outra seara.

O Sr. deve ter lido ZH 22/7 pag. 27: "Descoberta a maior estrela do UNIVERSO. Sua distância da terra: 1 milhão de anos-luz (1 ano luz equivale a 9,46 trilhões de quilômetros). Tamanho: 10 milhões de vezes maior que o Sol"... Tudo isso surgiu e se movimenta POR ACASO?... É fruto do Big Bang?... Posso estar equivocado, quanto a minha explicação do Autor do universo. Mas neste equí­voco tenho a companhia de Newton, Galileu, Einstein e outras figuras...

Achar que os que não comungam da minha filosofia (Religião) 'arderão no inferno' é uma dedução sua, me desculpe. Porque em Teologia, se estuda que existe o Oitavo Sacramento, a Ignorância. Como iria Deus condenar alguém que Ele mesmo criou antes da vinda do seu Filho, antes da Revelação? Como iria condenar os aborí­genes, por exemplo, analfas completos em religião e cultura? Cada ser humano, Sr. Vargas, possui algo que se denomina CONSCIÊNCIA. Desta ninguém escapa. Esta é o termômetro, o referencial, o arbitro do nosso agir. Pode o pai, o professor, o padre, o juiz, o policial falar o que quiserem. ESTA eu não poderei calar. Ela aprova ou condena meu agir. E esta todo o ser humano possui. E segundo esta, Deus julgará a pessoa, se é merecedora da aprovação ou da condenação.

SE, CONTUDO, o cidadão optar por ter opiniões, atitudes, crenças e fé próprias tudo bem. Não vamos duelar ou tentar enfiar goela abaixo a argumentação contrária. Como dizia Lincoln, no tribunal: "Sou totalmente contra seu modo de pensar, mas defenderei até a morte o direito de se opor". Um abraço do Lirio.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

A réplica do Ale

Não posso negar que estou aliviado. Aliviado pelo simples fato do senhor ter substituído a palavra “cristão” por “religião”, ou se preferir, por ter substituído “cristãos” por “religiosos”.


Sim, concordo. Somos naturalmente religiosos. Religião em sua etimologia significa religar, reencontrar, ou reeleger. Tudo depende da visão de mundo que cada ser humano possui. Cosmocêntricos tentam se religar, antropocêntricos buscam se reencontrar consigo, e teocêntricos reelegem um salvador. Assim, não podemos negar que todos nós, de uma forma ou de outra, tentamos nos religar com o universo. Inclusive os ateus. Os ateus por sinal, não negam a religião e sim o “teo”, ou seja, tudo aquilo que não se vê. Eles não negam a busca pela harmonia, mas negam sim, a existência de um ser supremo a imagem e semelhança do homem e que tudo rege.


Não vou me ater a autores e teorias para justificar isso. Prefiro a discussão nua e crua, do que o constante direcionamento a uma determinada teoria e seu autor. Teorias e autores existem para todos os gostos e tamanhos, e embora muitos acreditem que não existe filosofia sem história da filosofia, acredito pelo contrário, que a filosofia deixa de existir quando ficamos atrelados a sua história.


Por falar em filosofia, o que me preocupa em seus textos está intimamente ligado a ela. Veja caro Lírio, não estou discutindo sua fé ou sua religião, mas vejo com preocupação aquilo que você coloca (para toda uma região de leitores) como verdade. Você, para explicar a existência de Deus, recorre a São Tomás de Aquino, que como sabemos, tentou com base nas ideias Aristotélicas conciliar razão e fé. Tentou mas não conseguiu. E porque não conseguiu? Simplesmente, porque é impossível explicar o primeiro motor imóvel.


Assim, acredito que se você, como diz em um de seus textos, acha interessante que as pessoas pensem sobre a religião ou que exercitem a filosofia, sugiro que não as dogmatize com o Deus Cristão, e que também não alimente o preconceito diante daqueles que não seguem salvador algum ou que não depositam seus dízimos nas Igrejas. Espero sim que as façam entender, que religião cada um tem e faz a sua maneira.

Sobre o problema metafísico, não será a Bíblia, o Alcorão ou o acelerador de partículas que vai conseguir explicá-lo. Por quê? Porque sempre haverá uma questão posterior a cada descoberta.


Foi o Deus Cristão que deu início ao universo? Mas quem criou o Deus Cristão? Foi uma grande explosão, o Big Bang que tudo originou? Mas quem acendeu o estopim? Ou é a teoria das Cordas e suas 11 dimensões que explicam tudo? Mas e aí? Como as cordas se tocam? Veja que não interessa o quanto nos aprofundarmos no problema metafísico, sempre cairemos numa nova pergunta que não poderá ser respondida. Angustiante isso não? E é mesmo. Porém, está exatamente nessa angústia, nessa inquietude existencial o princípio filosófico e religioso. Filosófico porque jamais deixaremos de nos perguntar, e religioso porque jamais deixaremos de tentar nos religar com esse catastrófico e harmonioso universo.


Para terminar, e reforçando o que já afirmei, confesso que seus textos me causam preocupação, pois ferem exatamente a busca filosófica e a religião de cada indivíduo. Seus textos dão uma resposta, e pior que isso, eles dão uma resposta que não é verdadeira. Ou você acha que seus parentes, amigos, e todos aqueles que não fazem parte da religião cristã arderão no fogo do inferno? Pense nisso.


Abraço, ótimas reflexões e obrigado pela atenção.



Obs: O senhor não me conhece, mas ironias a parte, fiquei sabendo agora, após ler esse texto para o meu pai, que o senhor foi seu professor no ginásio Cardeal Roncalli, lá pelos anos 60. Como esse mundão é pequeno né?