Sempre fui um mentiroso. Não que eu tivesse consciência disso. Descobri isso nesse último mês. Minha vida foi sempre uma mentira. Uma mentira construída dentro de outra grande mentira. Digo isso, pois morri no último mês. Morri e renasci.
Para quem nunca morreu, posso dizer: morrer faz bem. A morte nos liberta. Nos tira aquele peso da história das costas. Não que ela nos deixe vazio, sem nenhum fardo para carregar, mas ela nos fornece novas bases, novas estruturas e novos mecanismos para a construção de uma inédita existência. A morte nos livra de uma mentira para que possamos construir outra.
Alguns dizem que lutamos por uma verdade. Mais uma mentira. Ninguém vive por uma verdade, mas todos vivem por uma mentira pessoal, cujo objetivo último é transformá-la em verdade universal. Enfim, vivemos para mentir.
E só mentimos por reconhecimento. Não interessa qual. Pode ser através da Igreja, dos cargos públicos. Através da música, da política, e até do futebol. Onde quer que eu ou você estejamos, o que queremos é reconhecimento. Tudo uma grande mentira. Necessária mentira, obviamente. É a mentira a forma que encontramos para suportar a existência e é ela que nos dá status social. Quanto mais mentiroso, mais popular. Basta ver a política e nossas personalidades famosas.
Não digo isso da boca pra fora. Falo sério. Mesmo esse texto que escrevo agora para vocês, carece de reconhecimento. Quero ser visto, falado. Beatificado por uns e amaldiçoado por outros. Escolhi a escrita pra isso. É nela que apareço e que faço a diferença. Pelo menos pra mim.
É lógico que não era minha primeira escolha ser filósofo, blogueiro e ativista político. Se fosse para escolher, seria jogador de futebol, jogaria no Inter e me dedicaria ao clube o resto dos meus dias. Porém, as pernas e o cérebro não conseguiram se entender para fazer do Ale da Sissi uma espécie de D’Alessandro. E assim me restou apenas torcer para o Inter. E digo a vocês: torci muito. Torci, sofri e morri com o Inter. Inclusive, foi o Inter que me matou.
Na minha vida passada de torcedor, não lembro de um só dia em que senti algo parecido com o que sinto agora. Nesse admirável mundo novo, aqui "acima" do céu azul, apenas vejo o Sol, que por sinal também é vermelho. O mundo aqui é vermelho, e isso é uma beleza. Sinto-me definitivamente em casa, e dessa vida não quero mais sair.
Do inferno que vivi quando estive aí com vocês, muitas coisas ruins vocês me ensinaram. Foi o mal exemplo de vocês que estimularam minhas rebeliões políticas, e foram as crenças incutidas sobre o seu Deus que me estimularam a não mais acreditar Nele. É lógico que mentia para vocês quando dizia que Deus não existia. Deus existe, mas nem preciso dizer que não é essa mentira que vocês inventaram. Deus é poder, é estar acima dos outros. É ver-se acima de todos. Deus enfim, é o reconhecimento quase unânime de que sua mentira é uma verdade absoluta.
Em resumo, minha vida mentirosa foi inventada por mim para suprir uma vida repleta de desgraças futebolísticas. Foram as desgraças no futebol que fizeram-me desafiar Deus, o Diabo e qualquer outra mentira. Criei mentiras para combater outras. Era isso que me fazia viver aí. Era isso que me mantinha respirando. Escrevi, movimentei, agitei, torci e morri. Como disse, o Inter me assassinou. Mandou-me dessa para uma melhor. E nesse novo universo vermelho, o mundo político e as verdades metafísicas não fazem mais sentido. Até a Filosofia que eu tanto amava perdeu a graça.
Posso um dia, se para outro mundo for enviado, voltar a sonhar e a mentir para mim que outro mundo é possível. Mas no momento, só quero curtir. Tive problemas demais na minha vida passada e sinceramente espero nunca mais tê-los de volta.
Um viva a vida, ao Inter, e a mentira que cada um carrega.
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