quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A "quádrupla", a continuação, ou a sequência do diálogo entre Ale e Lírio

Olá, primeiramente gostaria de me desculpar se não fui claro, mas já respondendo suas primeiras questões, preocupo-me sim, com algumas colocações de seus escritos. Porém, não me preocupo em o senhor abordar o tema “Religião”, mas sim no fato do senhor pregar a doutrina cristã em suas palavras.


Respondendo sua segunda questão, é lógico que sou contra que o senhor baseie seus escritos na Bíblia. Veja que não sou contra que o senhor siga a Bíblia ou a religião cristã. Porém, devemos concordar que quem escreve (e escreve para as mais diferentes pessoas) deve buscar a verdade racionalmente e não com base na fé. Aqui, estamos diante da mesma questão que acomete o ensino religioso nas escolas. Sou contra o ensino religioso nas escolas? Lógico que não. Agora: sou contra o exclusivo ensino religioso cristão nos estabelecimentos de ensino? É lógico que sim.


Continuando, que bom que o senhor tem sua consciência tranqüila. Sim, é isso que realmente importa. Pecado? Não existe pecado e punições externas. Existe sim como o senhor mesmo coloca “CONSCIÊNCIA”, e essa nos pune na vida mesmo, no dia a dia, e não no “Além”. Por outro lado, se acreditasse em pecado diria que o senhor peca quando diz no final de seu texto que os aborígenes não têm religião e nem cultura. Sinceramente me arrepiei quando li isso.


Com relação ao seu questionamento sobre onde o senhor erra em propagar a sua religião, posso dizer que seu erro está exatamente em não respeitar todas as outras formas de religião em seus escritos. Seu erro está, por exemplo, em menosprezar os ateus, dizendo que eles acreditam em Deus (acredito que você se refira a esse Deus como sendo o Deus Cristão), e também como no texto que acabo de ler, no fato de se referir a cultura aborígene como um povo sem cultura, e pior, sem religião. Como sem religião se o senhor mesmo afirmou que ela é “natural a todos os seres humanos?” Não seriam os aborígenes humanos?


Já sobre a falta de associarmos o conhecimento a prática, concordo plenamente contigo. É exatamente na discordância entre o discurso e a prática que estão nossos maiores problemas. Não é por acaso que Nietzsche diz que só existiu um cristão e que esse morreu na cruz né?


Em referência as estrelas e toda imensidão do universo, já expliquei no meu outro escrito que esse é um problema sem solução e que nenhum ser humano vai conseguir decifrar. É muita pretensão humana querer saber tudo sobre o universo, como também é muita arrogância do ser humano acreditar que um ser a sua imagem e semelhança tudo criou. Com relação a Galileu, Einstein, entre outros, não preciso lembrar que Galileu teve que negar suas verdades para não ser “mais um” morto pela “verdade” da “Santa Igreja” e que Eisnten não acreditava no Deus Cristão, e sim em algo (quer chamar de Deus tudo bem), que regia o universo e não os homens. Ou como ele mesmo diz: “Acredito no Deus de Espinosa, revelado na harmonia de tudo o que existe, mas não em um Deus que se preocupa com o destino e as ações dos homens." Ou ainda, sobre a ética dos homens, dia o grandioso Albert: “O comportamento ético dos homens deve se basear na simpatia, educação e nos laços sociais; não é necessário base religiosa. Os homens estariam em péssima situação se tivessem que ser controlados pelo medo de punição [divina] ou pela esperança de salvação após a morte."


Voltando ao seu texto, concordo com o senhor, quando diz que não devemos colocar goela abaixo nossas convicções. Inclusive é exatamente isso que me leva escrever ao senhor, e também é isso que me faz ser, por exemplo, contrário ao batismo de crianças indefesas, como também ser contrário a presença de símbolos religiosos em estabelecimentos públicos. Quanto aos seus escritos, não posso interferir no que o senhor escreve, afinal são seus escritos. Porém, já que concordamos que religião cada um tem a sua, pergunto: qual é a necessidade que o senhor tem em externar a sua verdade, se concorda que cada um possui a sua? Assim, sugiro ter cuidado com o que escreve para não ofender aqueles que não seguem a sua religião. Já imaginou o que os fiéis cristãos, que o lêem religiosamente e que o senhor mesmo define como não estudiosos da religião, estão falando e pensando dos ateus depois de ler seus escritos? Que tal um pedido de desculpas? Seria muito legal.


Por fim você deve estar se perguntado o que eu gostaria que o senhor fizesse não é? Pois bem, gostaria somente que respeitasse os ateus e todos aqueles que buscam, cada um a sua maneira, se religar com o universo. Gostaria que falasse da religião num todo e não de uma parte dela, e também gostaria que respeitasse a cultura e a religião dos “analfas aborígenes”. Eles são seres humanos, pode acreditar nisso. Abraço, Alexsander.

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