Não posso negar que estou aliviado. Aliviado pelo simples fato do senhor ter substituído a palavra “cristão” por “religião”, ou se preferir, por ter substituído “cristãos” por “religiosos”.
Sim, concordo. Somos naturalmente religiosos. Religião em sua etimologia significa religar, reencontrar, ou reeleger. Tudo depende da visão de mundo que cada ser humano possui. Cosmocêntricos tentam se religar, antropocêntricos buscam se reencontrar consigo, e teocêntricos reelegem um salvador. Assim, não podemos negar que todos nós, de uma forma ou de outra, tentamos nos religar com o universo. Inclusive os ateus. Os ateus por sinal, não negam a religião e sim o “teo”, ou seja, tudo aquilo que não se vê. Eles não negam a busca pela harmonia, mas negam sim, a existência de um ser supremo a imagem e semelhança do homem e que tudo rege.
Não vou me ater a autores e teorias para justificar isso. Prefiro a discussão nua e crua, do que o constante direcionamento a uma determinada teoria e seu autor. Teorias e autores existem para todos os gostos e tamanhos, e embora muitos acreditem que não existe filosofia sem história da filosofia, acredito pelo contrário, que a filosofia deixa de existir quando ficamos atrelados a sua história.
Por falar em filosofia, o que me preocupa em seus textos está intimamente ligado a ela. Veja caro Lírio, não estou discutindo sua fé ou sua religião, mas vejo com preocupação aquilo que você coloca (para toda uma região de leitores) como verdade. Você, para explicar a existência de Deus, recorre a São Tomás de Aquino, que como sabemos, tentou com base nas ideias Aristotélicas conciliar razão e fé. Tentou mas não conseguiu. E porque não conseguiu? Simplesmente, porque é impossível explicar o primeiro motor imóvel.
Assim, acredito que se você, como diz em um de seus textos, acha interessante que as pessoas pensem sobre a religião ou que exercitem a filosofia, sugiro que não as dogmatize com o Deus Cristão, e que também não alimente o preconceito diante daqueles que não seguem salvador algum ou que não depositam seus dízimos nas Igrejas. Espero sim que as façam entender, que religião cada um tem e faz a sua maneira.
Sobre o problema metafísico, não será a Bíblia, o Alcorão ou o acelerador de partículas que vai conseguir explicá-lo. Por quê? Porque sempre haverá uma questão posterior a cada descoberta.
Foi o Deus Cristão que deu início ao universo? Mas quem criou o Deus Cristão? Foi uma grande explosão, o Big Bang que tudo originou? Mas quem acendeu o estopim? Ou é a teoria das Cordas e suas 11 dimensões que explicam tudo? Mas e aí? Como as cordas se tocam? Veja que não interessa o quanto nos aprofundarmos no problema metafísico, sempre cairemos numa nova pergunta que não poderá ser respondida. Angustiante isso não? E é mesmo. Porém, está exatamente nessa angústia, nessa inquietude existencial o princípio filosófico e religioso. Filosófico porque jamais deixaremos de nos perguntar, e religioso porque jamais deixaremos de tentar nos religar com esse catastrófico e harmonioso universo.
Para terminar, e reforçando o que já afirmei, confesso que seus textos me causam preocupação, pois ferem exatamente a busca filosófica e a religião de cada indivíduo. Seus textos dão uma resposta, e pior que isso, eles dão uma resposta que não é verdadeira. Ou você acha que seus parentes, amigos, e todos aqueles que não fazem parte da religião cristã arderão no fogo do inferno? Pense nisso.
Abraço, ótimas reflexões e obrigado pela atenção.
Obs: O senhor não me conhece, mas ironias a parte, fiquei sabendo agora, após ler esse texto para o meu pai, que o senhor foi seu professor no ginásio Cardeal Roncalli, lá pelos anos 60. Como esse mundão é pequeno né?
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