segunda-feira, 23 de agosto de 2010

A nova ordem do futebol gaúcho


Meu último “post” - é assim que se chama um texto real publicado no mundo virtual – causou polêmica. Não no mundo virtual - que como podem perceber não obteve nenhum comentário sobre o assunto – mas no mundo real. Eu fico feliz lógico. Já disse a vocês que adoro uma polêmica. Gosto da polêmica porque ela nos faz odiar, amar, defender um ponto de vista e às vezes até concluir algo sobre o assunto. Enfim, gosto da polêmica porque ela movimenta o pensamento e perturba a mente.  

A polêmica da vez é a respeito do “respeito”. Meus jovens amigos gremistas, que respeito muito, sentiram-se ofendidos por eu afirmar que agora “apenas devo respeito para com tricolores gaúchos com mais de 35 anos de idade”. E eles estão com a razão. Literalmente errei. Não me fiz claro. Usei a palavra errada, ou deixei de usar as palavras corretas, para explicar o que queria dizer. No caso, errei em não me referir a que tipo de “respeito” estava me referindo.

Mas vamos à origem da polêmica:

Como sabemos, na última quarta-feira, o Sport Clube Internacional, conquistou pela segunda vez a Taça Libertadores da América. E o que tem isso de tão importante? A princípio nada, afinal foi apenas mais um título importante na história de um clube importante. Porém, mas, não obstante, e apesar de, o título de quarta feira reconfigura novamente o futebol gaúcho. Ele troca novamente de lugar os protagonistas.

O título de quarta recoloca o colorado no topo da eterna discussão entre colorados e gremistas e faz com que pela primeira vez, depois de 27 anos, um colorado possa sair às ruas sem medo algum de encontrar um fanático gremista pronto para discutir. E eis o ponto no qual entra o “respeito” no qual me referi.

O respeito, com o título da última quarta, mudou de lado. E o respeito que falo, refere-se ao mesmo respeito (ou desrespeito), que os gremistas tiveram pela massa vermelha nos últimos 27 anos.

Explico:

Depois de 1983, com a conquista do continente e do mundo por parte do Grêmio, colorado algum do universo, conseguia dialogar com um gremista. Desde aquela maldita conquista gremista no distante ano de 1983 diante do Penarol, que de nada adiantava o torcedor colorado ser três vezes campeão brasileiro, ser mais vezes campeão gaúcho e ter vencido um maior número de grenais. Todos os argumentos colorados iam por água abaixo numa só frase tricolor: ”quando levantarem a América e o Mundo retorne a falar comigo”. Não havia discussão, não havia respeito pela história colorada, mas havia sim, humilhantes deboches, constantes comentários desrespeitosos e malditas falas menosprezando a massa colorada. Cantos gremistas se referiam ao colorado como “aquele que nunca ganhou de ninguém”. As coisas que já eram terríveis para o torcedor colorado, pioraram muito em 1995, quando o Grêmio viria a conquistar pela segunda vez o título continental. Para os colorados era a ruína, a desgraça total e a certeza de que essa gangorra jamais mudaria de lado. Já para os gremistas, o título soava como uma confirmação de sua grandiosidade e o absoluto domínio sobre o rival. Nem o mais fanático colorado imaginaria que 15 anos depois estaria à frente do rival, e nem o gremista mais pessimista apostaria numa reviravolta.  Porém, o futebol é incrível. Ele é dinâmico - já dizia não sei quem.

E tudo começou a mudar em 2006. Tudo mesmo, afinal o Inter ali começava a conquistar tudo. Porém, mesmo assim, depois de conquistar tudo, ao discutir com um torcedor do tricolor gaúcho, o colorado ainda ouvia a assombrosa e soberba voz tricolor que dizia: “quando vocês erguerem duas Taças Libertadores retorne a falar comigo”.  O torcedor vermelho sentia o golpe, dizia ser campeão de tudo, mas de nada adiantava. O parâmetro, a base de análise para a discussão com um gremista era outro. O tricolor gremista continuava soberbo, arrogante e autoritário em seu discurso. Não todos claro, apenas a maioria. E foi isso que mudou na última quarta feira.    
   
Na última quarta o gremista teve (“zagalamente” falando) de engolir o colorado. Engoliu e teve indigestão é bom dizer. A partir da última quarta novamente o maior clube do Rio Grande é o Internacional. É ele que possui todos os títulos internacionais possíveis. É ele que tem quase tudo o que o Grêmio possui (não queremos nos igualar ao rival, afinal não queremos a Segundona), além de ter mais títulos gaúchos, mais campeonatos brasileiros, e mais grenais vencidos. Gremistas podem ainda se vangloriar de terem vencido mais vezes a Copas do Brasil e de terem a maior torcida do Estado, mas isso, como eles mesmos afirmaram por mais de 20 anos, vale muito pouco e não nos serve como base para a discussão.

É lógico que muitos jovens gremistas já nasceram Campeões ou Bicampeões da América. Mas temos de concordar que entre nascer campeão e ter a sensação de experenciar a conquista há uma gritante diferença.

Enfim e para concluir, quero deixar claro aqui, que quando me referi que só respeito gremistas com mais de 35 anos, não me referi ao respeito humano que devemos ter uns com os outros, mas sim, quis dizer que apenas gremistas que hoje estão entre seus 30 e 40 anos de idade podem dizer que viram e sentiram o que nós colorados vimos nos últimos cinco anos. Apenas eles viram seu clube de coração ganhar duas vezes a América, e somente eles sabem o que é realmente ter essa sensação. Só esses gremistas sabem do que estou falando, e os respeito muito por isso. Aos outros...bem...aos outros resta discutirmos futebol, história, supremacia de um sobre outro definindo anteriormente os devidos parâmetros, e não a sensação de ser ou não campeão.

Abraço a todos e muito respeito com o novo mandante do futebol estadual. Ele já ganhou Tudo e pode ganhar tudo de novo.

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