segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

O suícida pobre e azarado


Em crise existencial aguda, saí com o intuito de me matar. Isso mesmo, jurei a mim mesmo que seria a última vez que trancaria aquela porta. Iria de encontro a morte. Antes fui conversar com meus amigos, explicar a situação.
Pedi a eles que me dessem motivos para viver. Um me disse que o meu bem estar físico era um bom motivo. Realmente era, se não fosse pelo fato de eu não estar bem fisicamente. Tenho um joelho estourado, dois ombros deslocados e escoliose de 21 graus. Meu "bem estar físico", era um convite ao suicídio, e no caso, não queria motivos para morrer, mas para viver.
Um segundo amigo disse que viver valia a pena porque tinha amigos, família, enfim, pessoas que me amavam. Respondi a ele que não seria por pena dos outros que continuaria a sofrer existencialmente. Uma amiga, que eu mentia dizer ter um amor, me disse: Viva pelo teu amor. Ingenuamente disse: se mate seu maluco. Já houve um tempo em que acreditei no amor, mas o amor me provou que não existe e quando existe é porque não é possível. Por fim, um amigo mudou meu destino. Pedi a ele um motivo para estar vivo e ele respondeu: quer que eu compre a corda? Mal sabia ele que o incentivo me condenaria a viver. Não por não querer me matar, mas pelo fato de ter me feito pensar na repercussão da minha morte.
Se eu cometesse o suicídio, os boatos que correriam seriam que : foi tudo culpa da descrença, do álcool, das drogas, e por fim da própria filosofia. Assim, eu não poderia com a minha morte, condenar aquilo que sou, ou seja, um filósofo ateu existencialista.
Meu desespero aumentou, afinal, nem me matar eu podia. Estava condenado a sofrer existencialmente, ou caso contrário, estaria dando razão a maldita igreja e a todo seu rebanho guiado pela inexistência. Junto a isso e não menos pior, seria o fato de que estaria dando motivos para difamarem a filosofia. Jamais me perdoaria se isso acontece. Eu estaria morto sei, mas não era justo com os justos filósofos ateus pelo mundo a fora, que meu racional filosófico suicídio, viesse a dar credibilidade a Deus e levasse a ruína aquilo que amo.
Depois de concluir que não era uma boa idéia cometer o suicídio, mas ainda com vontade de inexistir, pensei o lógico: um acidente.
Peguei o carro e fui a Alpestre, andar na estrada maldita. Um acidente ali e pronto, morreria como todo bom cristão, pelas mãos do destino. Pisei fundo, 110, 120, 160...na primeira curva o carro balançou...eu vibrei. Porém pensei que para ser mais garantido, teria que bater de frente, era capaz de ser azarado ao ponto, de numa capotagem, ficar vegetando. Assim, capotagem não servia tinha que bater de frente, de preferência numa carreta. Para isso é necessário muita coragem. Não muito corajoso, fui brincar de ultrapassar nas curvas em alta velocidade, idealizando a imagem da carreta. Com certeza seria alívio imediato.
Na primeira oportunidade...nada. Na segunda...nada. Na terceira.... por detalhes, não pego um cachorro. Infernoooooooooo eu penso. Que azar.
Chego em Alpestre, coloco meu "passageiro genitor" para dentro do carro e volto tranquilo pela estrada. Não podia transparecer que estava afim de deixar a vida, logo a quem me colocou dentro dela. Penso isso e tenho vontade de matar meu pai. A culpa é dele . Aquele comedor de mãe. Penso em processá-lo. Desisto, logo depois de lembrar que a justiça é lenta.
Chego abatido por retornar vivo. Não posso me matar e não consigo me acidentar..."isso é injusto"...digo a mim mesmo.
Me despeço, e enquanto caminho de volta ao lugar que achei não mais retornar, penso que poderia pedir a alguém para me matar. Sem compromisso assim...um crime perfeito digamos. Passo por um mendigo, explico para ele a história. Ele despreza, dizendo que não vai se sujar por pouca coisa e me aconselha ir na igreja. Tenho vontade de matá-lo. Porém minha preocupação está voltada a como eu vou morrer. Quero simplesmente morrer e não me tornar um preso acusado de matar um mendigo por este ter lhe mandado ir a igreja. Iria mofar na cadeia com isso. Com raiva olho no fundo dos olhos do mendigo e com um olhar miserável, de total penúria suplico: "Por favor, eu lhe pago". Um fio de esperança me é reservado. Vejo nos olhos dele a ganância pelo dinheiro - são todos mesmos uns capitalistas penso eu. Ele me diz: "quanto?". Eu coloco a mão no bolso, puxo todo meu dinheiro. Algumas moedas caem. Tenho 28, reais e 29 centavos. Observando o não que acena com a cabeça, me despeço.
Sigo o trajeto tentando tropeçar e bater com a cabeça no meio fio. Chego e ultrapasso aquela maldita porta. Sento no sofá e penso: "filósofo, ateu, existencialista e pobre...tem que viver mesmo"...ou alguém se habilita?

4 comentários:

Anônimo disse...

Ale! A filosofia e tantas outras coisas na vida nos deixa em crise. Você sabe, a maioria das coisas foi a sua cabeça que inventou, todos nós temos vontade morrer, de tanta indignação, raiva, de amor até... Ale, voce estaria sendo muito egosista se fizesse tamanha besteira. Pensa quanta gente gosta de você, eu por exemplo, a colega que sempre desabafa contigo, voce é meu amigão Ale eu ficaria muito, mas muito triste se vc fizesse isso, mas a escolha é sua...

Anônimo disse...

Sim, dentro do existencialismo, do conflito entre eu e a existência, sou sim, o mais egoísta de todos os seres.
Gostei do final do comentário amável filósofa Amanda...a escolha é minha mesmo...hehehe.

Anônimo disse...

com certeza a escolha é sua cara, mas vejo como covardia uma pessoa que deseja a morte ante a poder ajudar as pessoas crentes ou descrentes em qualquer tipo de religião, seja um homem de verdade cara, enfrente os problemas de cabeça erguida. vc já viu alguém morto ajudar alguém? vc quer ajudar alguém, pois suas idéias são para mudar algum cenário, ou para ficarem ali, só para pessoas lerem e fazerem, muitas vezes, rélis comentários obtendo assim um pouco de famosidade? vc quer mudar o cenário ou quer sair dele? se quer mudar o cenário vc terá que ficar vivo e só assim obter resultados!!! se quiser morrer, bom, aí vc só vai ir msm. para onde vc acha q irá, se morrer, além do cemitério ou crematório? qual o real motivo desta sua idéia?
a igreja? ela ñ tem culpa de tua existência, e não terá se vc querer a morte? filosofos procuram muitas vezes resolver problemas e ñ fecharem seus olhos para eles, nem tanto só comentá-los, criticas são fáceis de serem feitas, temos que arrumar soluções para os problemas. aqui fica um abraço de um velho amigo que está um pouco longe dos amigos natais...


perdi meu blogg, pode ser que apareça um comentário anonimo, mas é o ZICÃO quem fez o comentário...

Anônimo disse...

E aí Zicão...hehe..interessante o comentário.Sobre a covardia diante da morte, isso é controverso. Coragem, covardia, vejo o suicídio como uma faca de dois gumes, com um destino só, que como você colocou é a inexistência. Os motivos para o suicídio, bem esses são doa mais variados. Porém vc aborda questões interessantes para a filosofia.Dá a ela uma utilidade. Coisa que ninguém mais enxerga. Mas assim, como coloquei no texto, não posso me matar, afinal daria credibilidade aos sanguessugas exploradores de dízimo.Abraço aí.